Passando para esse tópico uma conversa iniciada nesse outro:
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Parece ser livros para mulheres, vejo um monte lendo. Me parece ser um romance com pitadas de conto erótico BDSM.
Hoje levei um papo com um vendedor de uma livraria que disse que está vendendo tudo que chega, e que lembra o lançamento do Código Da Vinci. Fiquei uns 20 minutos na livraria, saia igual a pão quente em padaria. Tinha gente, todas mulheres por sinal, que compravam 3 a 4 livros por vez para dar de presente (ví isso no caixa). Um fenômeno. Uma mãe disse que a filha que nunca tinha lido nada estava querendo comprar os outros livros da série. Perguntei ao vendedor se ele tinha lido, disse que não e que era um livro de "sacanagem".
O filme vai ser horroroso e campeão de bilheteria. Aliás, um padrão.
Não é o tipo de livro que me atrai, mas uma amiga estava tão empolgada e já no segundo volume que me emprestou o primeiro.
É uma colcha de retalhos de várias referências caricatas do universo feminino difíceis de engolir; da protagonista que é uma garota de 21 anos virgem (em 2011...), quase formada em literatura, sem nunca ter tido um namorado, mas despertando o interesse de todos os homens a sua volta, ela é uma donzela como outra qualquer. O cara é um charmoso milioriário (sério, tinha que ser charmoso e milionário? justo quando eu pensava que não poderia ficar mais cafona... surge o príncipe encantado!) que curte um BDSM. Muito mais do que se sentir interessada e curiosa pelo universo sexual e novo com que está tendo contato, ela só aceita participar das experiências sadomasoquistas para conquistá-lo... e por aí vai. A autora tenta dar a impressão de que a garota é dona de uma personalidade forte, apesar da aparência frágil, mas ela só tem lampejos desse temperamento em algumas briguinhas bobas, para medir forças, fazendo coisas apenas para irritá-lo, ao invés de fazer o que tem vontade. Aliás, ela é muito mal construída, sem consistência, não consegue gerar nenhuma identificação é só desperta pena.
Cafona, clichê e baunilha. Não entendi o sucesso, tampouco terminei o livro. E se houver um filme será do tipo que eu detesto.
O sucesso indica de certa forma que essas mulheres andam carentes de fantasias. Estou certo? Culpa dos namorados/parceiros? Ou o que está acontecendo?
Finalmente consegui um tempo para responder essas perguntas, ou pelo menos tentar. Agora, já me parece bem mais interessante comentar sobre o “120 dias de Sodoma”, mas vamos lá...
Eu separaria o sucesso desse livro em, basicamente, dois motivos;
01 - Se observarmos as obras atualmente muito influentes, (considerando o número e o engajamento dos fãs, não necessariamente na ordem de citação); Star Wars, Senhor dos Anéis, Harry Potter, As Crônicas de Gelo e Fogo, Saga Crepúsculo e afins (não me apedrejem, não estou aqui comparando a qualidade das obras), podemos dizer que a grande maioria das pessoas é carente de fantasias, em certo ponto. Se por um lado, conquistamos cada vez mais esclarecimento à luz da ciência, a demanda por entertenimento com aspectos fantasiosos não para, pelo contrário, só aumenta; magos, vampiros, zumbis, lobisomens, e um contingente enorme de personagens fantásticos para todos os gostos, atende a um público crescente.
Em um dos últimos grandes sucessos do gênero, em especial para o público adolescente/jovem feminino, a Saga Crepúsculo (não li os livros e nem vi os filmes, por pura preguiça e preconceito, por favor, me corrijam se eu estiver errada); a mocinha vive o dilema de dar ou não dar para o vampiro bonitão, um dilema central ainda bem casto. Então, o passo lógico seguinte, de acordo com uma fatia de mercado que ainda não havia sido explorada (o de mulheres adultas), seria incluir um componente erótico em uma saga literária mulherzinha e fantasiosa como Crespúsculo. Para atingir de vez o público feminino foram usadas as duas das maiores alegorias do universo feminino; a donzela e o príncipe encantado. Claro, não existe um universo fantástico tão evidente, o que no caso de mulheres adultas ajuda ainda mais no processo de imersão no universo proposto (não sei o motivo desse fato, porque eu aprecio esse gênero, mas o tipo de fição ao estilo SdA e seus habitualmente não agrada a maioria das mulheres), ainda assim, a narrativa é extremamente irreal.
Sinto que muitas mulheres já se deram conta de um aspecto negativo do legado feminista; a apologia a negação da essência feminina, como sendo esta pejorativa. Quando o assunto surge, eu costumo dizer para outras mulheres;
"não sou feminista, sou feminina" (não raro, recebo olhares de reprovação... fazer o quê?
). O fato é que já conquistamos os mesmos direitos civis. Mas para essas mulheres, as que me olham torto, para sermos
fortes e respeitadas como indivíduos, ainda temos que negar as características de nosso gênero e buscar uma igualdade comportamental em relação aos homens artificialmente forjada. Não me refiro, evidentemente, a todas as feministas, mas a mulheres de visão extremamente radical que, muitas vezes, embutem nas entrelinhas de seus discursos a ideia de que não basta ser igual, temos que nos provar superiores (faça-me o favor...). Não, isso não me agrada em nada, assim como sei que não agrada, ainda que intimamente, muitas outras mulheres, que desejam um regressão nesse aspecto, mas não possuem referências de como se comportar, de como atingir um meio termo; como se só existisse a fria profissional do final dos 80, a intelectual mal humorada, a devassa que faz questão de propagar aos quatro ventos sua liberdade (ou seria libertinagem?) sexual, a careta dona de casa dos anos 50 e sei lá mais que outro esteriótipo. No fim, ou é "pra casar"(na definição de alguns de vocês), ou é frígida ou é vagabunda e isso é tudo. Não há repertório contemporâneo para essa mulher que não é mais, exatamente, nenhuma dessas. Elas estão carentes sim, mas não é de namorados, não é de parceiros; é de modelos comportamentais. Alguns dirão; bobagem, “50 tons...” é um livro de sacanagem e só (como o vendedor da livraria). Mas não, “50 tons...” é um livro de uma
puta falta de sacanagem.
02 - Sexualmente, acho que um número grande de mulheres ainda simplesmente não fala e tampouco faz o que quer com seus parceiros. Então, ler um livro que aborda as práticas BDSM de maneira ainda abaunilhada (isso é, com capacidade de se popularizar, justamente porque não agride), interessa a um número enorme de mulheres que se sentem tocadas pelo universo de fantasia da garota virgem iniciada pelo homem charmoso e entediado em práticas subversivas e pouco divulgadas (isso para a garota que só vivenciou a inclusão digital depois que o namorado a presenteou com um note, mesmo que ela esteja quase se formando, não sendo pobre, e tudo isso acontecendo em 2011...
). Talvez as leitoras o usem para iniciar diálogos com seus parceiros, talvez o usem como fonte de inspiração, sei lá. Enfim, os homens podem ajudar suas parceiras? Sim, é claro. Eles podem falar no assunto, perguntar, sugerir. Acredito que as mulheres, especialmente as que possuem alguma dificuldade nesse ponto, gostarão de qualquer iniciativa.
Afinal, a imagem da mulher moderna pode ter tido relevância no passado, mas hoje não contribui muito para a liberdade sexual; a liberdade de pensar, falar e fazer o que quiser, e inclusive de ser submissa, se assim o desejar. E é desse
“novo tabu” feminino, a submissão que “50 tons...” se alimenta. Convida ao experimento, sem o olhar
feminazi de reprovação e sem a obrigatória aura de poder incentivada pelas (infelizes) publicações contemporâneas voltadas para o público feminino. O livro é bobo como eu já mencionei, mas pode cumprir algum papel significativo na vida de muitas pessoas. E, afinal, é mal escrito? Isso não cabe a mim julgar, quem escreve mal sou eu e não a autora que ficou milionária poucos meses depois do lançamento.