A questão não é se o direito é bobo ou não, eu particularmente não entendo nem o porquê de gays querem se casar, o casamento é uma instituição patriarcal e hétero-normativa, uma visão de que as pessoas são propriedades umas das outros, coisa mais desnecessária nos dias de hoje. Então eu particularmente sou contra a própria instituição do casamento, acho que na verdade, todos, héteros e gays, deveriam estar é lutando pra se livrar dessas visões bestas de monogamia, família, essas parada mais velha do mundo... MAS isso não quer dizer que se um casal hétero pode querer ser idiota de casar, de ser monogâmico, de adotar nome, um casal gay não possa também... Todos deveriam ter o direito de ser idiotas...
Ainda que eu fuja dessas instituições todas, os direitos a elas devem ser todos resguardados para todos os cidadãos...
O que você tem contra instituições? Ainda que você as respeite e aceite, parece haver um certo antagonismo, um certo questionamento. Qual seria?
Sei lá, é questão pessoal. Na verdade acho que instituições sempre existirão e sempre estaremos sendo tolhidos e moldados por elas... A questão é que para mim, instituições devem ser construídas e desconstruídas constantemente. A instituição do casamento já teve sua utilidade num tempo em que mulher não poderia viver fora de uma família, seja a do marido ou eternamente na casa dos pais, no tempo em que era impensável uma criança ser criada por alguém sozinho seja homem ou mulher, enfim nesse contexto essa instituição surgiu, hoje já não é mais necessária, na minha opinião, então é uma opressão que não tem mais utilidade de ser. Antes precisávamos ser monogâmicos justamente para garantir essa estrutura familiar e financeira marido-esposa porque ela era necessária, se hoje ela não é mais, se mulheres e homem podem bem viver sozinhos, como muitos vivem por grandes períodos, se relacionando com um ou mais parceiros, se podem bem criar um filho sozinhos ou ainda separados para quê essas estruturas ainda colocadas dessa forma? Bem, eu não quero para mim, eu vivo muito bem com meus "namomigos"
a) as questões meramente simbólicas como sobrenome e casamento civil são cavalo-de-batalha. Não têm fim prático, não provocariam mudanças práticas, podiam ser mudadas ou não, tanto faz como tanto fez. Eu acho que além de serem birras bobas, desviam o foco de coisas importantes e são um forte indício de radicalização do discurso (vide que tipo de feminista reivindica alterações nas normas linguísticas, o que é perfeitamente análogo).
b) as mudanças pecuniárias são importantes, mas estão em processo, na prática quase todos os pontos pecuniários que foram colocados já estão atendidos na prática, seja pela lei, seja por (como alguém bem mencionou) uma postura do mercado e os que não estão estão em vias de mudança. E é bom que se entenda que normas quanto a assuntos pecuniários são OBVIAMENTE necessárias (embora possam ser, como estão sendo, discutidas em seus limites) e não foram criadas da forma que foram por mero ódio de gêneros.
Com certeza existem questões mais importante umas que as outras, mas dizer que alguma não tem importância nenhuma eu não concordo. Veja, quando se fala de uma desigualdade aceita e imposta pelo estado, toda e qualquer é importante per se, pelo próprio fato de demarcar uma diferença que não poderia existir. Se é tão sem importância assim, o que você acharia de alguém que propusesse uma lei para que ateus e cristão não pudessem se casar, mas que pudessem ter todos os direitos legais de uma união estável?? Você nem se importaria né, não afetaria em questões práticas, não diria nada sobre nossa sociedade e sua tendência a não aceitar uma IGUALDADE completa de direitos e status, enfim... Igualdade só é igualdade se não há QUALQUER diferença, uma diferença ainda que não acarrete em algo prático demarca que existem ai dois grupos quando deveríamos enxergar um só, que é o que se pressupõe numa igualdade de fato. Então essas pequenas coisinhas demarcam sim, a meu ver, algo de grande importaria socialmente falando e para a autoimagem do próprio grupo e seus integrantes e para a imagem que esse grupo adquire perante a sociedade.
Quanto a questão da linguagem é também, na minha opinião, importantíssima para que mudanças efetivas ocorram na sociedade para além das questões meramente legais que um estado venha a salvaguardar. Se você ver as questões da virada linguística e dos caras que pensaram essas questões como Derrida, Rorty, e etc, você vai ver que há algo muito importante por trás disso. Mude a linguagem e você muda como as pessoas pensam, é inevitável, pensar é linguagem, logo é ela quem nos dá as "formas" do que pode ou não ser pensado, e como será pensado. Numa sociedade onde, sei lá, todo tipo de agressão verbal a um grupo é totalmente tolerado a ponto de que a grande a maioria das ofensas e palavrões estejam ligadas a esse grupo e suas práticas, isso vai ter um grande papel na formação da visão que as pessoas tem desse grupo. Pense num xingamento qualquer, você vai ver que a maioria está ligado a uma visão machista e patriarcal e consequentemente a uma desvalorização de tudo o que se coloca como feminino, passivo, e etc.
EX: Porque filho da puta ao invés de filho pai do galinhão? É pior socialmente uma mulher hiper-sexualizada ou um homem? Por que "vai tomar no cú", ao invés de "vai comer uma buceta"? Porque para a sociedade hétero-normativa ir comer buceta é elogio já que está ligado a pratica do macho e tudo o que é relativo ao macho é supervalorizado.
Quer ofender de fato um homem chame-o de homossexual, ou seja, questione sua masculinidade de qualquer forma, ou diga que sua mãe, irmãs ou mulher não são tão submissas como deveriam ser segundo o sistema machista que nos rege, basta dizer mesmo que indiretamente que elas tem direito ao gozo que trepam e podem gostar como o homem, para ser tomado por esse homem como um dos piores xingamentos... Estranho né, numa sociedade que gosta de se gabar de já não ser mais machista de dizer que mulheres já tem toda a liberdade que precisam e estão em igualdade como os homens... Será que isso a nível social, incrustado em TODOS desde o nascimento, pela vida toda, não está em nada relacionado às descriminações que sofrem esses grupos? Enfim, nada numa sociedade é sem importância, a linguagem então que é justamente o que forma o pensamento e logo a sociedade é das coisas mais importantes...
PS: É aqui, onde se inserem questões de criminalização de preconceitos e opiniões, ou pelo menos menos onde entram as lutas pelo politicamente correto, que é uma forma de sem precisar de leis e do aparato de estado, ir ensinando a população do quão idiota são esses conceitos, essas piadas, esses xingamentos a as pessoas que os usam por hábitos, sem qualquer julgamento ou critica sobre o que estão dizendo e suas consequências para o reforçamento dessas imbecilidades na sociedade também ela sem tendencias a usar da critica e do pensamento sobre o que fazem ou falam...