Luiz Souto, o que você acha deste artigo:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2013/05/1283389-de-meios-medicos-e-medicos-inteiros.shtml
Caso tenha algum estudante de medicina ou médico, comente também.
Diagnóstico e elaboração de plano terapêutico não são coisas tãaaaao simples assim como o texto dá a entender. Há muitas nuances envolvidas e a quantidade de conhecimentos exigidos (memorizados de livros-textos enormes e obtidos em anos de prática em internatos e/ou residências) é muito grande. Um profissional que não se dedicou especificamente a estudar e memorizar esse conhecimento (como enfermeiros, farmacêuticos, médicos mal-formados, fonoaudiólogos, psicólogos, etc) certamente não possuem a competência necessária para fazer diagnósticos e elaborarem planos terapêuticos com segurança. Um enfermeiro experiente (acredito) é o que mais se aproxima dessa competência, já que ele trabalha diretamente envolvido com todo tipo de paciente e aplicando as prescrições médicas, mas os demais profissionais citados não. Acredito que enfermeiros e fisioterapeutas podem ser treinados para fazerem alguns procedimentos normalmente de competência do médico, entretanto, eles não saberiam "se virar" se algo der errado, necessitando supervisão médica.
Concordo que um médico mal-formado (ou um enfermeiro) pode (ou não) ser melhor do que médico nenhum, não há como negar isso. Mas se o governo brasileiro resolver enveredar pelo lado da "improvisação" também nessa área (a exemplo do que já faz em outras), fodeu tudo! Por que não criar um curso mais curto, simples e barato de "meio-médicos" para atender as áreas carentes? ![Smile :)](../forum/Smileys/default/icon_smile.gif)
Vamos por partes:
O uso de algoritmos para diagnóstico e tratamento é uma excelente ferramenta para racionalizar e agilizar o atendimento e tratamento , especialmente em casos de emergência ( vide os protocolos de atendimento de dor torácica para diferenciar os casos de doença coronariana de outras patologias). Mas para empregar um algoritmo de forma adequada pressupõe-se que o profissional tem que estar bem formado para poder utilizar a ferramenta de forma adequada. Para usar um algoritmo de dor torácica por exemplo ele tem que estar familiarizado com as alterações eletrocardiográficas de doença coronariana para poder definir onde encaixar o paciente.
Um médico tem na sua formação , quando estuda cardiologia , aulas de eletrocardiografia e o que eu mais faço é ensinar a médicos recém formados que atendem na Emergência do hospital onde trabalho a interpretar adequadamente os eletros que me trazem. O curso de Enfermagem também tem mas com complexidade menor , avalie a dificuldade de um enfermeiro para fazer um diagnóstico diferencial. No fim das conta seria necessário investir em um reforço maior para profissionais não médicos que para médicos a fim de que apliquem um algoritmo com segurança ( tanto para eles quanto para os pacientes) na ausência de um médico.
Mas um enfermeiro de boa formação não poderia fazer este papel , alguém pergunta? Com certeza , um enfermeiro bem formado tem mais competẽncia que um médico meia-boca (digo isso por experiência própia com ambos). Só que um enfermeiro bem formado tem os mesmos custos e exigências que um médico , se o médico não aceita as condições de trabalho inóspitas porque o enfermeiro as aceitaria?
Dizer que meio médico é melhor que nenhum médico tem sentido...em um país miserável. E pela mesma lógica e em um país miserável meio enfermeiro é melhor que enfermeiro nenhum , meio fisioterapeuta é melhor que fisioterapeuta nenhum , meio dentista é melhor que dentista nenhum...
Só que nós não somos um pais miserável , muito pelo contrário. Somos um país que não constroi efetivamente um sistema de saúde público e universal de qualidade porque não interessa a quem está no poder que isto aconteça.
Vou dar um exemplo da minha experiência de médico militar de como um serviço de saúde público pode funcionar em um local de dificil acesso.Em diversos municipios da região Norte quem presta assistẽncia á população (inclusive a indígena) são as unidades de saúde do Exército. Os batalhões de fronteira possuem não só médicos mas farmacêuticos , dentistas , enfermeiros.Os hospitais da fronteira norte como o de Tabatinga e o de São Miguel da Cachoeira servem de retaguarda para os casos mais graves.As vagas de profissionais são ocupadas por que as Forças Armadas são uma carreira de Estado , o profissional de uma região pode ser movimentado para outra por necessidade do serviço. Se falta anestesista em Tabatinga e há folga em Santa Maria ou Porto Alegre alguém é movimentado - e ganha os custos de transporte além pontos para a quantificação de mérito para fins de promoção. Se estiver em uma guarnição especial seu tempo de permanência é contado em dobro para fins de reserva (no Exército a classificação da guarnição é que nem a de feijão - a especial é a pior). É a regra do jogo e quem faz o concurso sabe disso ( assim como sabe que os militares especificamente não tem carga horária).
Não é por outro motivo que o CFM defende que o profissional do SUS seja uma carreira de Estado , com garantia de salário e plano de carreira definido .
A contratação de médicos estrangeiros ( leia-se cubanos) é dada como medida paliativa.
Oras , medida paliativa ( que é um termo médico!) significa que ou o caso é insolúvel e só resta minorar o sofrimento ou que a medida definitiva está sendo providenciada. Nenhuma das opções se aplica.
A primeira é falsa porque SUS realmente universal e de boa qualidade é possível.A segunda é falsa porque o governo não apresenta o que fará para não precisar mais dos médicos estrangeiros contratados.
E vamos ser claros , se as condições oferecidas não são atraentes para que um profissional saia do mercado saturado dos grandes centros urbanos quão na pior deverá estar o médico estrangeiro contratado para trabalhar nas mesmas condições? E se melhores condições serão oferecidas para que contratá-los ?