Sobre a forma de pagamento, aqui temos um tema bom, nota-se o quão é difícil conceber algo que não se rege pela lógica liberal, como dói compreender que pode existir outro modo de remunerar o trabalho. Cuba tem um regime político diferente do Brasil, goste você ou não,
O Brasil não pode mudar o regime cubano nem suas regras. Mas isso não significa que é obrigado a concordar com elas. Simplesmente não faça negócios com Cuba enquanto durarem essas regras.
as regras de convênios como esse são claras e legitimadas por dezenas de países.
Tu quoque.
Os médicos cubanos são funcionários do Estado em Cuba, tem seus trabalhos garantidos, uma carreira.
Claro, empregados de uma ditadura que manda para o Paredón os que não concordam (e que, aliás, é a única alternativa de trabalho para eles) e recebendo a vultosa soma de 25 dólares por mês. Quem não quer ter uma carreira dessas?
Em missões como essa no exterior eles recebem um adendo em seu salário (4 mil reais provavelmente a depender do custo de vida das cidades para onde serão destinados) e outra parte fica para o Estado que garantiu sua formação gratuita desde sua infância.
A formação de um indivíduo custa um valor limitado X, mas ele paga por ela até o fim de sua vida. Claro, para nós, malvados capitalistas gananciosos é realmente difícil entender essas filigranas econômicas que não se regem pela lógica liberal...
Gonzales, um dos médicos cubanos recém-chegados, quando perguntado sobre o quanto vai receber afirmou: “não sabemos ainda, mas será o necessário, pois tenho emprego garantido no meu país e parte dos recursos irá para ajudar o meu povo”.
Concordamos ou não com essa lógica, essa dinâmica, isso é ter contato com outro modo de ver a vida, de olhar para as relações sociais e humanas, assim como temos direito de termos nossas interações trabalhistas pautadas em uma lógica mais mercantil e individual, os profissionais de outros países tem o direito de pensar e agir diferente de nós.
Sim, os cubanos tem todo o direito de pensar e agir diferente de nós. Seria bom se eles
pudessem exercer esse direito de pensar e agir como quisessem e não fossem obrigados a pensar e agir como manda o Fidel.
Tenho um adendo fundamental sobre exigência demagógica pelo revalida em um programa emergencial com tempo de duração determinado, vou ser didático. É óbvio que a exigência de revalida em um programa como o “Mais Médicos” seria o principal motivo para o seu fracasso. Todo profissional que faz o revalida no Brasil pode trabalhar em qualquer lugar, com qualquer carga horária, se quiser somente na sua especialidade, e ainda cobrar a quantia que achar adequada pelos seus serviços, além de disputar livremente mercado com os profissionais formados no Brasil. Isso é tudo o que não prevê o programa, com a licença especial de 3 anos e com avaliação permanente das universidades, se garante o objetivo de segurar os profissionais somente na atenção básica de saúde, por 40 horas semanais, com a bolsa de 10 mil reais e, o principal, trabalhando estritamente nos municípios e regiões que forem alocados, que são as que mais necessitam de médicos. Sem comentar a burocracia e a morosidade que envolve o Revalida.
Tradução: Se for permitido revalidar o diploma, os cubanos vão abandonar o programa para irem clinicar nas capitais, com melhores condições de trabalho, cobrando quanto queiram e sem precisar mandar dinheiro para o regime castrista. Isso afundaria o Mais Médicos.
But, wait! O que aconteceu com aquele outro modo de ver a vida, de olhar as relações sociais e humanas, do trabalho garantido, da carreira, do profissional que pensa e age diferente de nós, sem se pautar em uma lógica mais mercantil e individual que ele acabou de exaltar mais acima?
Quer dizer que, se ele pudesse escolher, também agiria igualzinho aos brasileiros mercantilistas individualistas liberais que ele tanto critica nesse texto?
I rest my case...