Esse argumento não parece soar como aquele ditado que diz "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço"?
Talvez sim, mas Ele pode. Só Ele. Entre os homens não.
Deus dita uma moral que deve ser seguida pelos homens, mas ele mesmo adota a sua própria moral, na maioria das vezes, contrária àquela. Por exemplo, quando diz "Não matarás" e, ele próprio, ordena o extermínio de todo um povo.
Deus não é homem. Ele ditou as regras. Sua vontade não poderia ser impedida.
Veja que matar em legítima defesa é justificável em se tratando de seres humanos, mas quando o assunto diz respeito a um deus onipotente a coisa muda de figura. Mas ainda quando esse mesmo deus se propõe a ditar, e não só isso mas também a dar exemplo, de como se deve proceder para se atingir um nível de moral elevada.
O que vc quer que eu comente aqui?
Um outro ponto que também sempre gosto de analisar nesse argumento é que os crentes sempre procuram associar o deus em que creem à idéia de perfeição e beleza. Dessa feita, argumentam que a belaza observada na natureza é, por si só, evidência da existência e perfeição divinas.
Eu diria que não a beleza, mas a complexidade. Além do mais, não foi preciso todo o poder dEle para criar todas as coisas, mas apenas uma parte, diria... infinitesimal. Contudo, esta discussão é absolutamente off topic.
Todavia, quando o assunto diz respeito a moral, o mesmo raciocínio não se aplica e vemos deus praticando os mais terríveis atos, sem que isso gere nos crentes o menor sinal de surpresa. Ora, se nossos sentidos e sentimentos são suficientes como parâmetro para aferição da presença divina na criação, por que não são quando se trata de julgar o que é ou não justo?
Tema off topic. Mas veja, de que moral estamos falando? Da nossa atual e local, da dos índios da tribo Tererê, daquela dos homens que promoveram a inquisição, da dos países islâmicos do oriente médio... Qual? Qual Moral e qual ética são universais?
Com relação a lógica, a mesma coisa, de qual lógica falamos? E por aí vai.
Ademais, evidencio mais uma vez, essa discussão é off topic.
Complementando meu comentário. Um outro ponto fraco desse argumento é que com base nele é possível justificar qualquer atrocidade cometida por qualquer deus. Assim, por exemplo, não teríamos como condenar o sacrafício de crianças praticado pelos astecas ao seu deus Tlaloc, poque nossa moral não é a moral de Tlaloc, e assim não temos condição de julgar a justiça de seus atos. Hittler poderia justificar o olocausto nazista ao judeus como sendo a vontade do próprio deus cristão, já que nos é impossível saber o que, em si tratando de deus, é justo ou injusto, certo ou errado.
Quanto a mensagem central da bílbia, o tal plano de salvação, pergunto, de que devemos ser salvos?
Deus quer nos salvar dele póprio, é isso? Essa é a mensagem central da bíblia? Isso também não soa um tanto contraditório?
Em regra, assume-se como evento inicial do plano divino a queda do homem, ou pecado original, por meio do qual (combinado também com a idéia de livre-arbítrio) atribuí-se ao homem a culpa por todos os males do mundo, sugindo daí a necessidade da intervenção divina. Deus, a partir daí, põe em marcha o seu plano de redenção da humanidade. Mas veja o que postei sobre esse evento essêncial à doutrina do plano divino, pois sem pecado original, sem culpa, aquele se torna completamente desnecessário.
O pecado original (desobediência), combinado com o livre arbítrio, serve unicamente para justificar toda desgraça que há no mundo e, ao mesmo tempo, responsabilizar o homem por ela. Em suma, é uma forma de isentar Deus dos males do mundo, jogando toda a culpa no homem.
Mas vamos pensar um pouco. O próprio mito de criação contido no Gêneses afirma que antes do cometimento do pecado original, o homem não possuía a noção do bem e do mal. Segundo esse mito, foi somente depois que o homem comeu do fruto do conhecimento que ele passou a ter essa consciência.
Logo, antes disso o homem não tinha capacidade alguma de fazer qualquer juízo de valor acerca do que quer que fosse. Nessa condição era incapaz de entender o caráter negativo ou positivo de seus atos.
Mas Deus, mesmo sabendo da condição humana de inocência, acaba colocando uma árvore no meio do jardim e proibindo o homem de comer do fruto dessa árvore, sob pena de assim fazendo, morrer. Só que não sendo capaz de formular qualquer juízo de valor, o homem não poderia saber que a desobediência é algo negativo, tão pouco que a morte é algo negativo. Em um cenário como esse, a proibição divina não teria valor nenhum. Um proibição de faz de conta pra tentar livrar a cara da grande sacanagem que armara para a humanidade.
Pense bem, como poderia o homem, nesta condição, ser responsabilizado por alguma coisa? Se fossem julgados pelo direito moderno, Adão e Eva seriam considerados inimputáveis e, dessa forma, isentos de pena.
Mas, como gostam de proclamar os próprios religiosos, a justiça de Deus não é a justiça dos homens e ele, na sua suprema sabedoria, resolve punir, não só dois inocentes, mas toda a humanidade por todo o tempo do mundo e ainda culpar o próprio homem por isso.
Seria mais ou menos como alguém dar veneno a uma criança de um ano e achar que, por tê-la advertido dos males de sua ingestão, ficará isento de qualquer culpa, mas não só isso, que a culpa será da própria criança caso essa venha a ingerir o veneno. E todos sabemos que quem faz uma coisa dessas tem total consciência (nos caso de Deus presciência ) que a criança inevitavelmente ingerirá a substância mortal.
E nem falamos da auto-destrutiva e contraditória idéia do livre-arbítrio, outro pilar da doutrina do plano divino da salvação.