Eu entendo perfeitamente o luto, por isso consigo me colocar sem dificuldades no lugar da família do morto. É, de fato, um absurdo protestos em velórios. Mas quando tento me colocar no lugar das muitas famílias desestruturadas em consequência dos muitos crimes praticados por anos seguidos pela quadrilha a qual o morto pertencia, o que requer algum esforço criativo, afinal são apenas números divulgados no noticiário (e o que os olhos não veem o coração não sente), já não é tão simples. Tenho que criar histórias na minha mente, supondo que encontrem paralelo na realidade, situações que nunca vivi. Imaginar minha família vivendo privações, perdendo bens conquistados com anos de trabalho, sob forte estresse, se desfazendo em brigas e discussões, vendo tudo se esvair e sem expectativas, enquanto esses bandidos e suas famílias se esbaldam, em parte com o que foi retirado do meu bolso e que agora me faz tanta falta. É um verdadeiro treino de empatia. Percebo então que há coisas muito piores, mais graves e desumanas que protestos em velórios.