Autor Tópico: Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus  (Lida 61942 vezes)

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Offline Dodo

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #50 Online: 14 de Junho de 2013, 10:48:29 »
Só um pequeno aviso, eu NÃO entendo de economia, então não sei se o texto abaixo esta 100% correto, alguém tem algo a dizer sobre ele?

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A gota que faltava
Alexandre Versignassi 12 de junho de 2013 

Para entender melhor o que está acontecendo na rua, imagine que você é o presidente de um um país fictício. Aí você acorda um dia e resolve construir um estádio. Uma “arena”.
O dinheiro que o seu país fictício tem na mão não dá conta da obra. Mas tudo bem. Você é o rei aqui. É só mandar imprimir uns 600 milhões de dinheiros que a arena sai.
Esses dinheiros vão para bancar os blocos de concreto e o salário dos pedreiros. Eles recebem o dinheiro novo e começam a construção. Mas também começam a gastar a grana que estão recebendo. E isso é bom: se os caras vão comprar vinho, a demanda pela bebida aumenta e os vinicultores do seu país ganham uma motivação para produzir mais bebida. Com eles plantando mais e fazendo mais vinho o PIB da sua nação fictícia cresce. Imprimir dinheiro para construir estádio às vezes pode ser uma boa mesmo.
Mas e se houver mais dinheiro no mercado do que a capacidade de os vinicultores produzirem mais vinho? Eles vão leiloar as garrafas. Não num leilão propriamente dito, mas aumentando o preço. O valor de uma garrafa de vinho não é o que ela custou para ser produzida, mas o máximo que as pessoas estão dispostas a pagar por ela. E se muita gente estiver com muito dinheiro na mão, essa disposição para gastar mais vai existir.
Agora que o preço do vinho aumentou e os vinicultores estão ganhando o dobro, o que acontece? Vamos dizer que um desses vinicultores resolve aproveitar o momento bom nos negócios e vai construir uma casa nova, lindona. E sai para comprar o material de construção.
Só tem uma coisa. Não foi só o vinicultor que ganhou mais dinheiro no seu país fictício. Foi todo mundo envolvido na construção do estádio e todo mundo que vendeu coisas para eles. Tem bastante gente na jogada com os bolsos mais cheios. E algumas dessas pessoas podem ter a idéia de ampliar as casas delas também. Natural.
Então as empresas de material de construção vão receber mais pedidos do que podem dar conta. Com vários clientes novos e sem ter como aumentar a produção do dia para a noite, o cara do material de construção vai fazer o que? Vai botar o preço lá em cima, porque não é besta.
Mas espera um pouco. Você não tinha mandado imprimir 600 milhões de dinheiros para fazer um estádio? Mas e agora, que ainda não fizeram nem metade das arquibancadas e o material de construção já ficou mais caro? Lembre-se que o concreto subiu justamente por causa do dinheiro novo que você mandou fazer.
Mas, caramba, você tem que terminar a arena. A Copa das Confederações Fictícias está logo ali… Então você dá a ordem: “Manda imprimir mais 1 bilhão e termina logo essa joça”. Nisso, os fabricantes de material e os funcionários deles saem para comprar vinho… E a remarcação de preços começa de novo. Para quem vende o material de construção, tudo continua basicamente na mesma. O vinho ficou mais caro, mas eles estão recebendo mais dinheiro direto da sua mão.
Mas para outros habitantes do seu país fictício a situação complicou. É o caso dos operários que estão levantado o estádio. O salário deles continua na mesma, mas agora eles têm de trabalhar mais horas para comprar a mesma quantidade de vinho.
O que você fez, na prática, foi roubar os peões. Ao imprimir mais moeda, você diminuiu o poder de compra dos caras. Inflação é um jeito de o governo bater as carteiras dos governados.
Foi mais ou menos o que aconteceu no mundo real. Primeiro, deixaram as impressoras de dinheiro ligadas no máximo. Só para dar uma ideia: em junho de 2010, havia R$ 124 bilhões em cédulas girando no país. Agora, são R$ 171 bilhões. Quase 40% a mais. Essa torrente de dinheiro teve vários destinatários. Um deles foram os deputados, que aumentaram o próprio salário de R$ 16.500 para de R$ 26.700 em 2010, criando um efeito cascata que estufou os contracheques de TODOS os políticos do país, já que o salário dos deputados federais baliza os dos estaduais e dos vereadores. Parece banal. E até é. Menos irrelevante, porém, foi outro recebedor dos reais novos que não paravam de sair das impressoras: o BNDES, que irrigou nossa economia com R$ 600 bilhões nos últimos 4 anos. Parte desse dinheiro se transformou em bônus de executivo. Os executivos saíram para comprar vinho… Inflação. Em palavras mais precisas, o poder de compra da maioria começou a diminuir. Foi como se algumas notas tivessem se desmaterializado das carteiras deles.
Algumas dessas carteiras, na verdade, sempre acabam mais ou menos protegidas. Quem pode mais tem mais acesso a aplicações que seguram melhor a bronca da inflação (fundos com taxas de administração baixas, CDBs que dão 100% do CDI…, depois falamos mais sobre isso). O ponto é que o pessoal dos andares de baixo é quem perde mais.
Isso deixa claro qual é o grande mal da inflação: ela aumenta a desigualdade. Não tem jeito. E esse tipo de cenário sempre foi o mais propício para revoltas. Revoltas que começam com aquela gota a mais que faz o barril transbordar. Os centavos a mais no ônibus foram essa gota.
 

Fonte:http://super.abril.com.br/blogs/crash/a-gota-que-faltav/
Você é único, assim como todos os outros.
Alfred E. Newman

Offline Renato T

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #51 Online: 14 de Junho de 2013, 11:00:08 »
Erro meu, segundo essa fonte: http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/tarifas-metro-onibus-sp/
A passagem de onibus deveria custar 2,16 se seguisse a inflação desde 1994. Alguém sabe explicar por que o preço está tão acima disso?

Eu me lembro que em 2006, há 7 anos, a passagem era 2 reais. De lá pra cá ela pulou muito rápido no governo Kassab, indo de 2,30 e depois pra 2,70 em uns 2 anos. Manteve-se então 2,70 até acho que 2010. E aí subiu pra 3 reais.
Eu imagino que o motivo da passagem estar acima do período seja o bilhete único. Quando a Marta introduziu o bilhete único, uma pessoa que tomasse 4 conduções pra chegar ao trabalho gastaria, hoje, R$12,80. Hoje se gasta R$3,20. O preço mínimo é R$3,20, aliás. Isso de certo modo privilegia quem precisa de muitas conduções e "prejudica" quem precisa de poucas. Alguém que vai do extremo sul usa 4. Alguém que se movimenta pela zona oeste usa só uma. Então acho que é meio que dar uma balanceada: quem anda menos paga por quem anda mais e por conta disso o preço médio acaba subindo. Mas isso é só uma suposição.

Offline Geotecton

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #52 Online: 14 de Junho de 2013, 11:10:58 »
Erro meu, segundo essa fonte: http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/tarifas-metro-onibus-sp/
A passagem de onibus deveria custar 2,16 se seguisse a inflação desde 1994. Alguém sabe explicar por que o preço está tão acima disso?

Eu me lembro que em 2006, há 7 anos, a passagem era 2 reais. De lá pra cá ela pulou muito rápido no governo Kassab, indo de 2,30 e depois pra 2,70 em uns 2 anos. Manteve-se então 2,70 até acho que 2010. E aí subiu pra 3 reais.
Eu imagino que o motivo da passagem estar acima do período seja o bilhete único. Quando a Marta introduziu o bilhete único, uma pessoa que tomasse 4 conduções pra chegar ao trabalho gastaria, hoje, R$12,80. Hoje se gasta R$3,20. O preço mínimo é R$3,20, aliás. Isso de certo modo privilegia quem precisa de muitas conduções e "prejudica" quem precisa de poucas. Alguém que vai do extremo sul usa 4. Alguém que se movimenta pela zona oeste usa só uma. Então acho que é meio que dar uma balanceada: quem anda menos paga por quem anda mais e por conta disso o preço médio acaba subindo. Mas isso é só uma suposição.

É exatamente isto que os sistemas integrados fazem: tiram de alguns para dar para outros e ao mesmo tempo subsidiam cartéis de empresas e promovem políticos populistas.
Foto USGS

Offline Price

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #53 Online: 14 de Junho de 2013, 11:23:11 »
Só um pequeno aviso, eu NÃO entendo de economia, então não sei se o texto abaixo esta 100% correto, alguém tem algo a dizer sobre ele?

Só tem um pequeno problema, para saber se a justificativa do aumento é a inflação, a própria empresa ou órgão regulador ou agência de avaliação deveria estipular os custos da empresa. Afinal, se considerarmos o valor de 2006 (R$2) como "justo", somando todas as variações históricas do IGPM desde então o valor não deveria ser maior que R$3.
A culpa não é da inflação diretamente, mas sim do poder de monopólio, se desejar eu posso de explicar com fundamentos econômicos porque o monopólio NECESSARIAMENTE será danoso para a sociedade.
Se você aceitar algumas colocações minhas...
A única e verdadeira razão de eu fazer este comentário em resposta é deixar absolutamente claro que NÃO ACEITO "colocações" suas nem de quem quer que seja.

Offline Osler

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #54 Online: 14 de Junho de 2013, 11:33:13 »
se desejar eu posso de explicar com fundamentos econômicos porque o monopólio NECESSARIAMENTE será danoso para a sociedade.

Explica, tio Price!  :twisted:
“Como as massas são inconstantes, presas de desejos rebeldes, apaixonadas e sem temor pelas conseqüências, é preciso incutir-lhes medo para que se mantenham em ordem. Por isso, os antigos fizeram muito bem ao inventar os deuses e a crença no castigo depois da morte”. – Políbio

Offline Osler

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #55 Online: 14 de Junho de 2013, 11:35:30 »
Numa maneira simplista de explicar inflação e moeda:
Numa ilha toda a produção é um coco
Alguém acha uma pedrinha e decide que vai ser a moeda da ilha.
Logo 1 coco custa uma pedrinha
Um belo dia se encontra outra pedra igual, entao duas pedrinhas valem um coco
“Como as massas são inconstantes, presas de desejos rebeldes, apaixonadas e sem temor pelas conseqüências, é preciso incutir-lhes medo para que se mantenham em ordem. Por isso, os antigos fizeram muito bem ao inventar os deuses e a crença no castigo depois da morte”. – Políbio

Offline Renato T

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #56 Online: 14 de Junho de 2013, 12:10:43 »
Um amigo meu me mandou esse link:

http://mises.org.br/Article.aspx?id=1365

Não li o texto inteiro então não posso dizer que sou a favor ou contra. É só pra agregar.
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Faz um bom tempo que venho pensando no porquê de o transporte coletivo ser sinônimo de transporte público.  Existe algo de especial na atividade de levar pessoas de um ponto a outro que torna válido impedir a concorrência e proibir empreender no setor?  Existe algo que justifique a não existência de uma variabilidade de serviço conforme o interesse de cada passageiro em uma cidade?  O transporte coletivo público no Brasil é reconhecidamente ineficiente, e é a camada da população mais pobre, que mais depende deste serviço, que sai prejudicada.
Como uma empresa poderia ingressar no mercado ou inovar tecnologicamente em transporte público?  Muito além do básico que falta nas linhas brasileiras — como um sistema de identificação de rotas tanto online como no próprio ônibus (em Porto Alegre, é preciso saber o que códigos como T1 e T5 significam como rota) —, saber que ônibus passa em cada parada já seria um início e um grande diferencial comparativo para um novo entrante.  Enquanto dependemos da eficiência do poder público, o grupo portoalegrense Shoot the Shit elaborou uma iniciativa colaborativa para descobrir quais são os ônibus que param em cada lugar, ainda sofrendo uma reação inicial da EPTC de encarar a atitude como vandalismo.

Uma outra estratégia empreendedorial seria identificar quais trajetos estão saturados de passageiros, tentando lucrar por meio da criação de um ônibus a mais para atender os passageiros que não estão sendo atendidos na margem.  Ou então fazer exatamente o contrário: tentar descobrir a demanda para rotas ainda inexistentes a partir de pesquisas de mercado.  Ainda, uma forma muito mais simples seria fazer o que muitas escolas adotam para o transporte de seus alunos, porém, neste caso, concentrando-se em estabelecimentos de usos variados. Uma empresa poderia abordar edifícios comerciais de um determinado bairro e perguntar de qual bairro os trabalhadores estão vindo, e se eles estariam dispostos a contratar um serviço para este trecho, sem paradas.  Se apenas esta última alternativa fosse viável e viesse a acontecer de forma generalizada pela cidade, muitas pessoas já poderiam se desfazer de seus carros, já que, independentemente do lugar em que elas trabalham, é muito possível que exista um transporte específico para a rota de que cada um precisa.

Outro exemplo, extremamente atual, seria o aplicativo para iPhone ou Android chamado Sidecar, recentemente publicado no TechCrunch, que permite conectar passageiros indo para o mesmo lugar, transformando praticamente qualquer automóvel em um pequeno veículo de transporte coletivo, no qual a tarifa é paga voluntariamente pelo usuário, com a quantia sendo decidida a partir do valor médio pago pelos usuários anteriores.  Uma invenção genial, mas que tiraria o monopólio municipal que existe hoje sobre o transporte coletivo, sendo exatamente esta regulação o que impede o aplicativo de entrar no mercado.

Assim, levei meus questionamentos sobre a restrição do empreendedorismo ao transporte coletivo a Manuela D'Ávila e a José Serra, candidatos às prefeituras de Porto Alegre e São Paulo, respectivamente, no evento realizado pelo INSPER sobre cidades, que teve como convidado (infelizmente à distância) o urbanista Edward Glaeser.

Manuela me respondeu que estranhava minha pergunta, pois ela considera o transporte coletivo, no caso de Porto Alegre, privado, sendo empresas privadas que operam cada linha.  Estranhei mais ainda a resposta, já que sabemos que é quase impossível conseguir uma licença e todas as empresas que atuam em Porto Alegre são concessões estatais altamente reguladas, que devem ainda seguir o padrão da Carris, a empresa pública de transporte.  Tentei continuar a conversa perguntando pelo Twitter "como posso inovar em transporte coletivo com licenças limitadas, cargas, tarifas e rotas controladas?", mas infelizmente não tive resposta.

Já Serra argumentou que o transporte, assim como alguns outros serviços públicos infraestruturais, não podem sofrer o risco de parar, já que muitas pessoas dependem dele.  Porém, qualquer cidadão sabe que estes serviços públicos são mais suscetíveis a greves do que empresas privadas, causando o caos no transporte que vimos algumas semanas antes do evento. Se houvesse um mercado aberto, com várias empresas competindo entre si e com facilidade de entrada, não haveria motivos para que esse serviço parasse.  Estes são os mesmos motivos pelos quais é difícil imaginar a falta de comida no mercado de alimentos, como citado no recente artigo de Leandro Narloch na Folha, o qual teve minha singela colaboração.

A experiência histórica mais recente de um sistema desmonopolizado de transporte coletivo é a do Chile, que permitiu a livre concorrência e o livre estabelecimento de preços por empresas neste setor a partir do final da década de 1970 até o início dos anos 1990, quando o setor foi novamente regulamentado.  Após ouvir uma série de podcasts, ler artigos e ouvir depoimentos (ver referências abaixo) sobre esta experiência, parece-me serem três as principais críticas em relação ao sistema, as quais comento a seguir.

A primeira e principal crítica de uma possível desregulamentação é semelhante à crítica comum feita a qualquer setor que corre este risco: a criação de um cartel e o aumento das tarifas em um sistema gerido por empresas privadas, impedindo que os mais pobres usufruam deste direito. Segundo Gómez-Lobo, as tarifas médias de Santiago praticamente dobraram de valor no período de 1979 a 1990, mas a análise vê o problema apenas na superfície.

O valor não leva em consideração os subsídios, recursos coletados por meio de impostos, utilizados para manter esta tarifa baixa.  Segundo o economista Mike Munger, o sistema de ônibus de Santiago, que hoje é regulado, tem prejuízo de Ch$600 milhões anuais, e embora eu não tenha os números de antes de 1979, é de se esperar que haja um grande subsídio estatal para manter as tarifas baixas. 

Em Porto Alegre, a empresa municipal Carris teve prejuízo anual de R$1,8 milhão devido ao preço das tarifas, e na capital paulistana o repasse de subsídios às empresas de transporte coletivo (sem contar o metrô), chega a quase R$800 milhões para manter a tarifa a R$3,00.  Isto significa, basicamente, que são os cidadãos que não utilizam o transporte coletivo que estão pagando por quem usa.  Há quem defenda esta política como sendo "social", já que, por ser um transporte mais barato, ele normalmente é utilizado por uma camada mais pobre da população. Porém, o que acontece é que muitos dos usuários são de classe média e até mesmo alta, que acabam recebendo subsídios de quem ganha menos, mas que também paga impostos.

Adicionalmente, a meu ver, transporte coletivo não deveria ser algo limitado à camada mais pobre da população, podendo existir alternativas mais baratas ou mais caras dependendo da importância e do valor que cada cidadão atribui para seu transporte pessoal.  Por fim, vejo um grande problema ao tentar corrigir um problema de desigualdade social e renda distorcendo toda a rede de transporte público.  Se o problema é a falta de renda, então seria no mínimo mais racional se estes mesmos subsídios fossem repassados aos cidadãos mais pobres para que estes pudessem escolher eles mesmos o tipo de transporte que gostariam de utilizar.

De forma geral, sabemos que, se as barreiras políticas à entrada no mercado fossem realmente eliminadas, a pressão dos concorrentes tenderia a levar a um aumento da eficiência e à diminuição dos preços para tentar atrair mais consumidores para este mercado.  No que mais, diferenças em capacidade, flexibilidade de rotas, qualidade e idade dos veículos, densidade de passageiros por ônibus e, ainda, a eficiência de gestão de cada empresa influenciariam no preço de cada trajeto, criando uma ampla gama de escolhas em transporte coletivo.

O segundo problema citado da experiência chilena, a qual inclusive ouvi pela primeira vez do Secretário de Mobilidade Urbana de Porto Alegre Luís Afonso Senna, é a concorrência que existia entre motoristas de ônibus para pegar passageiros em uma determinada parada. J á que as paradas continuaram sendo públicas e os motoristas são recompensados por eficiência, os relatos dos moradores de Santiago são que os motoristas de ônibus agiam como Ben-Hur na corrida de bigas, correndo para buscar o grupo de passageiros que estava à espera.  Isto causou um aumento no número de acidentes e uma percepção pública muito negativa do sistema, onde a busca pelo lucro das empresas aumentava o número de mortes no trânsito.

Entretanto, o problema surgia porque eram empresas privadas atuando em uma plataforma pública — paradas que pertenciam a todas as empresas em conjunto —, gerando então esta distorção no mercado.  Estes incentivos perversos foram analisados por Daniel Klein em um artigo falando sobre "curb rights", ou "direitos de meio-fio", argumentando que um modo simples de resolver este problema seria estabelecendo paradas específicas para cada empresa ou grupo de empresas, terminando com qualquer tipo de concorrência para a mesma parada e prezando pela segurança no trânsito.

Fisicamente, o formato destas paradas poderia ser muito parecido com as paradas de BRT implementadas em Curitiba e Bogotá.  Já que os passageiros à espera do ônibus em uma determinada parada já compraram sua passagem, esta poderia ser exclusivamente de uma empresa ou de um consórcio de empresas, acabando com qualquer tipo de corrida por passageiros e, ao mesmo tempo, praticamente implementando um BRT privadamente, sem onerar os cofres públicos.

A última crítica em relação aos ônibus de livre mercado chilenos foi que, para reduzir custos, as empresas deixaram de renovar e realizar manutenção nas suas frotas, gerando um grande número de veículos velhos na cidade, inseguros e poluentes.  Meu primeiro comentário a esta crítica seria que, para automóveis, o incentivo brasileiro é justamente o contrário: carros com mais de 10, 15 ou 20 anos, são isentos de IPVA, dependendo da região.  O motivo é social, já que normalmente os proprietários destes veículos são cidadãos pobres.  Repetindo o que comentei anteriormente, não me parece eficiente incentivar o trânsito de carros menos seguros e criar um problema de poluição urbana se a intenção é fazer redistribuição de renda: os assuntos devem ser resolvidos separadamente.

Por outro lado, se uma grande camada da população que anda de transporte coletivo possui menos recursos financeiros ou se importa menos com a qualidade dos ônibus para se deslocar, é natural que surjam, em um mercado livre, veículos para atender a estes consumidores.  Qualquer tipo de regulação municipal com o intuito de proibir agentes privados de emitir gases tóxicos ou de ameaçar os demais com veículos caindo aos pedaços recairia novamente no problema de as ruas serem propriedade pública.  Fossem as ruas privadas, não haveria motivo para tais conflitos.  No entanto, acredito que tais regulações não estabeleceriam padrões proibitivos aos mais pobres e nem seriam restritas a apenas carros ou ônibus, já que os danos são os mesmos.  Enfim, não acredito que este argumento por si só seja motivo suficiente para inviabilizar a inovação no transporte coletivo.

Mesmo assim, transporte coletivo segue sendo sinônimo de transporte público, restringindo os incentivos à inovação trazidos pela livre concorrência e pela possibilidade de falência, inexistente quando se pode cobrir qualquer ineficiência com mais impostos e mais subsídios.  Quando o serviço é ruim, quando a rota não existe, quando os veículos são poluentes, quando o preço é considerado alto ou as informações sobre rotas são inexistentes, resta ao cidadão reclamar ao poder público — sempre com poucas chances de sucesso, sem a possibilidade de trocar de fornecedor nem de empreender algo melhor.

Offline Fabrício

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #57 Online: 14 de Junho de 2013, 13:01:03 »
Pergunta básica: o transporte público em São Paulo (para pegar o exemplo mais quente no momento) é mais caro, igual ou mais barato que em outras cidades similares do mundo?

Tentei pesquisar, mas não consegui, porque a preguiça não deixou. Por isso preciso de uma alma caridosa que tenha consideração pelos foristas preguiçosos.  :P
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Offline Gaúcho

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #58 Online: 14 de Junho de 2013, 13:05:00 »
Eu sei que não me importaria de pagar R$3,00 por um transporte coletivo confortável, pontual e de qualidade.
"— A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras." Sérgio Moro

Offline Cumpadi

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #59 Online: 14 de Junho de 2013, 13:13:23 »
Pergunta básica: o transporte público em São Paulo (para pegar o exemplo mais quente no momento) é mais caro, igual ou mais barato que em outras cidades similares do mundo?

Tentei pesquisar, mas não consegui, porque a preguiça não deixou. Por isso preciso de uma alma caridosa que tenha consideração pelos foristas preguiçosos.  :P
Sei que em Vancouver em 2009 eu pagava bem mais caro por passagem, tipo 3,40 se comprasse um pacote de 10 bilhetes e mais de 4 reais se comprasse bilhete por bilhete. (lá era dividido por zonas, quem morasse mais longe pagava mais, eu pagava um intermediário)
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Skorpios

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #60 Online: 14 de Junho de 2013, 13:16:07 »
Nós pagamos R$ 3,05 por um transporte sem qualidade nenhuma.
Claro que Blumenau não é similar a São Paulo.

Offline Cumpadi

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #61 Online: 14 de Junho de 2013, 13:20:21 »
Achei as páginas com os preços: http://www.translink.ca/en/Fares-and-Passes/Single-Fares.aspx e http://www.translink.ca/en/Fares-and-Passes/FareSaver-Tickets.aspx .

Estou surpreso que o preço chegue a 8 reais (zona 2). e 6,20 comprando os 10 tickets juntos. Não era assim quando eu estava lá. Lembro também que o cartão de estudante custava algo em torno de 140 reais por mês (aí viaja-se o quanto quiser sem comprar tickets, mas é só para estudantes mesmo, não como carteirinha de estudante no Brasil).

Editado: o Cartão de estudante está custando 70 reais por mês agora. Já se não for estudante você tem a opção de pagar 250 reais por mês.
« Última modificação: 14 de Junho de 2013, 13:26:25 por parcus »
http://tomwoods.com . Venezuela, pode ir que estamos logo atrás.

Offline Correio

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #62 Online: 14 de Junho de 2013, 13:33:13 »
Aqui em Itajaí pagamos R$3,20. No bairro onde moro a linha chega a ter mais de duas horas de intervalo e nos finais de semana encerra às 19:30, ou seja, perdeu...fudeu  |(
O mal está no monopólio. A empresa daqui ganha todas as licitações em todas administrações com contratos  absurdos de vinte anos! Não sou a favor de baderna mas, não utilizar o serviço por algum tempo, isso com todos os usuários na ação, mesmo significando não ir ao emprego, academia....uma forma, digamos, pacífica para demonstrar algum poder do "pequeno" para com o grande  :|
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Offline Price

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #63 Online: 14 de Junho de 2013, 13:38:41 »
Pergunta básica: o transporte público em São Paulo (para pegar o exemplo mais quente no momento) é mais caro, igual ou mais barato que em outras cidades similares do mundo?

Tentei pesquisar, mas não consegui, porque a preguiça não deixou. Por isso preciso de uma alma caridosa que tenha consideração pelos foristas preguiçosos.  :P

Não é muito válido comparar passagens ao redor do mundo, os poderes de compra das moedas são diferentes, as empesas têm custos diferentes, as leis são mais ou menos liberais a respeito de concessões, etc. Isso sem falar na subjetividade que uma avaliação dessa pode envolver.
Se você aceitar algumas colocações minhas...
A única e verdadeira razão de eu fazer este comentário em resposta é deixar absolutamente claro que NÃO ACEITO "colocações" suas nem de quem quer que seja.

Offline West

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #64 Online: 14 de Junho de 2013, 14:01:05 »
Pela quantidade de impostos que se paga nesse país daria tranqüilamente para se ter um transporte coletivo gratuito de primeira qualidade. Mas a roubalheira, safadesa e falta de vergonha já cara dos políticos não deixa né, aliás como não deixa que nada funcione nesse país.
"Houve um tempo em que os anjos perambulavam na terra.
Agora não se acham nem no céu."
__________
Provérbio Iídiche.

"Acerca dos deuses não tenho como saber nem se eles existem nem se eles não
existem, nem qual sua aparência. Muitas coisas impedem meu conhecimento.
Entres elas, o fato de que eles nunca aparecem."
__________
Protágoras.Ensaio sobre os deuses. Séc. V a.C.

Offline Fabrício

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #65 Online: 14 de Junho de 2013, 14:50:08 »
Pergunta básica: o transporte público em São Paulo (para pegar o exemplo mais quente no momento) é mais caro, igual ou mais barato que em outras cidades similares do mundo?

Tentei pesquisar, mas não consegui, porque a preguiça não deixou. Por isso preciso de uma alma caridosa que tenha consideração pelos foristas preguiçosos.  :P

Não é muito válido comparar passagens ao redor do mundo, os poderes de compra das moedas são diferentes, as empesas têm custos diferentes, as leis são mais ou menos liberais a respeito de concessões, etc. Isso sem falar na subjetividade que uma avaliação dessa pode envolver.

Mas então qual o critério que podemos adotar para sabermos se a passagem é cara, justa ou barata? O serviço é ruim, mas ele está no nível permitido pelo valor das passagens ou poderia ser melhor sem aumentar o preço?
"Deus prefere os ateus"

Offline Fabrício

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #66 Online: 14 de Junho de 2013, 14:54:31 »
Pela quantidade de impostos que se paga nesse país daria tranqüilamente para se ter um transporte coletivo gratuito de primeira qualidade. Mas a roubalheira, safadesa e falta de vergonha já cara dos políticos não deixa né, aliás como não deixa que nada funcione nesse país.

Eu não acho que o ideal seja a gratuidade, porque quem não usa o serviço vai estar pagando por quem usa. Acho que o melhor seria um serviço justo pelo preço que se paga. Por isso minha dúvida acima, será que o valor hoje cobrado pelas passagens é suficiente para prestar um serviço de boa qualidade?

Citação de: West
Mas a roubalheira, safadesa e falta de vergonha já cara dos políticos não deixa né, aliás como não deixa que nada funcione nesse país.

Claro que a corrupção é uma forte possibilidade de causa do transporte público ser caro e ruim. Ruim todos nós sabemos que ele é, o que eu não sei é se ele é caro.
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Offline caerus

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #67 Online: 14 de Junho de 2013, 15:00:23 »
Pergunta básica: o transporte público em São Paulo (para pegar o exemplo mais quente no momento) é mais caro, igual ou mais barato que em outras cidades similares do mundo?

Tentei pesquisar, mas não consegui, porque a preguiça não deixou. Por isso preciso de uma alma caridosa que tenha consideração pelos foristas preguiçosos.  :P

Não é muito válido comparar passagens ao redor do mundo, os poderes de compra das moedas são diferentes, as empesas têm custos diferentes, as leis são mais ou menos liberais a respeito de concessões, etc. Isso sem falar na subjetividade que uma avaliação dessa pode envolver.

Mas então qual o critério que podemos adotar para sabermos se a passagem é cara, justa ou barata? O serviço é ruim, mas ele está no nível permitido pelo valor das passagens ou poderia ser melhor sem aumentar o preço?


Dá pra comparar dentro do próprio Brasil, ou calcular o valor teórico da passagem, levando em conta todos os gastos existentes( manutenção e compra de onibus, salários, gasolina, etc).

Offline Fabrício

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #68 Online: 14 de Junho de 2013, 15:04:20 »
Como vocês, preguiçosos, não me respondem do jeito que eu quero  :hmph:, fui obrigado a pesquisar:

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As cidades com transporte público mais caros e mais baratos; SP e RJ estão na lista

SÃO PAULO – O preço dos transportes públicos é mais barato em países da África, América do Sul e Ásia do que na Europa e América do Norte, confirma o estudo “Prices and Earnings” realizado pela UBS.
Na cidade de Bombaim, na Índia, o preço médio da passagem de ônibus, trólebus e metrô é de US$ 0,13 – o mais baixo das metrópoles analisadas. Por outro lado, Oslo, na Noruega, conta com a média da passagem mais alta (US$ 5,12).
Em São Paulo e Rio de Janeiro os valores médios foram de US$ 1,53 e US$ 1,56, respectivamente. As cidades foram classificadas na 37º e 38º posições, respectivamente. Veja abaixo as metrópoles com preços mais altos e mais baixos:
Preço do Transporte Público
Posição   Cidade   Preço mais baixo   Posição   Cidade   Preço mais alto
Fonte: UBS
1º lugar   Bombaim   US$ 0,13                63º lugar   Munique   US$ 3,24
2º lugar   Cairo   US$ 0,19                    64º lugar   Frankfurt   US$ 3,24
3º lugar   Nova Déli   US$ 0,25                    65º lugar   Helsinque   US$ 3,28
4º lugar   Kiev   US$ 0,25                            66º lugar   Sydney   US$ 3,43
5º lugar   Pequim   US$ 0,26               67º lugar   Genebra   US$ 3,67
6º lugar   Buenos Aires US$ 0,28            68º lugar   Londres   US$ 3,70
7º lugar   Manila   US$ 0,34                    69º lugar   Estocolmo   US$ 4,52
8º lugar   Caracas   US$ 0,35                    70º lugar   Zurique   US$ 4,66
9º lugar   Cidade do México US$ 0,37    71º lugar   Copenhague   US$ 4,88
10º lugar   Jacarta   US$ 0,38                     72º lugar   Oslo   US$ 5,12

http://br.financas.yahoo.com/noticias/cidades-transporte-p%C3%BAblico-caros-baratos-181400388.html

Por este estudo até que a situação de preço não está tão mal, São Paulo e Rio estão em posições intermediárias... a primeira vista achei coerente, o serviço não é tão bom quanto deve ser em Copenhague e Oslo nem tão ruim quanto deve ser em Bombain e no Cairo.

O que me leva a crer que para melhorar significativamente o serviço, seria necessário aumentar o valor da passagem, infelizmente...
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Offline Fabrício

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #69 Online: 14 de Junho de 2013, 15:05:11 »
Pergunta básica: o transporte público em São Paulo (para pegar o exemplo mais quente no momento) é mais caro, igual ou mais barato que em outras cidades similares do mundo?

Tentei pesquisar, mas não consegui, porque a preguiça não deixou. Por isso preciso de uma alma caridosa que tenha consideração pelos foristas preguiçosos.  :P

Não é muito válido comparar passagens ao redor do mundo, os poderes de compra das moedas são diferentes, as empesas têm custos diferentes, as leis são mais ou menos liberais a respeito de concessões, etc. Isso sem falar na subjetividade que uma avaliação dessa pode envolver.

Mas então qual o critério que podemos adotar para sabermos se a passagem é cara, justa ou barata? O serviço é ruim, mas ele está no nível permitido pelo valor das passagens ou poderia ser melhor sem aumentar o preço?


Dá pra comparar dentro do próprio Brasil, ou calcular o valor teórico da passagem, levando em conta todos os gastos existentes( manutenção e compra de onibus, salários, gasolina, etc).

Estou procurando algo neste sentido, se achar eu coloco aqui. Aqui em Vitória varia de 2,45 a 2,60 dependendo da distância.
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Offline Barata Tenno

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #70 Online: 14 de Junho de 2013, 15:08:16 »
Eu sei que não me importaria de pagar R$3,00 por um transporte coletivo confortável, pontual e de qualidade.

Pontual da pra fazer, confortável numa metrópole eu nunca vi, em nenhum lugar do planeta. E de qualidade eu não sei o que quer dizer.....
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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #71 Online: 14 de Junho de 2013, 15:08:26 »
Tem que ficar esperto com os textos dos liberais, sempre tem alguma armadilha ou indução ao pensamento liberal que pode facilmente ultrapassar o absurdo com sua divinificação da propriedade privada.

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Uma outra estratégia empreendedorial seria identificar quais trajetos estão saturados de passageiros, tentando lucrar por meio da criação de um ônibus a mais para atender os passageiros que não estão sendo atendidos na margem.  Ou então fazer exatamente o contrário: tentar descobrir a demanda para rotas ainda inexistentes a partir de pesquisas de mercado.
Isso já é feito - obviamente em uma escala menor do que poderia ocorrer em um cenário de livre concorrência - quando ocorrem remanejamentos de linhas, aumento de pontos e reformas nas vias públicas. No caso de SP, a CET muitas vezes modifica o trânsito não somente pensando no tráfego de carros, mas também recolocando as rotas de ônibus para maximizar a quantidade de pessoas atendidas com a reforma. Um bom exemplo é o que atualmente ocorre na ZO.
Esse argumento não é uma justificativa boa.



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Outro exemplo, extremamente atual, seria o aplicativo para iPhone ou Android chamado Sidecar, recentemente publicado no TechCrunch, que permite conectar passageiros indo para o mesmo lugar, transformando praticamente qualquer automóvel em um pequeno veículo de transporte coletivo, no qual a tarifa é paga voluntariamente pelo usuário, com a quantia sendo decidida a partir do valor médio pago pelos usuários anteriores.  Uma invenção genial, mas que tiraria o monopólio municipal que existe hoje sobre o transporte coletivo, sendo exatamente esta regulação o que impede o aplicativo de entrar no mercado.
Esse argumento é podre. Cadê a demanda pelo produto? O Estado não pode regular quais aplicativos são utilizados no celular das pessoas e não impede a carona, logo, se o aplicativo não é utilizado é por falta de demanda, não por impedimentos legais.

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Já Serra argumentou que o transporte, assim como alguns outros serviços públicos infraestruturais, não podem sofrer o risco de parar, já que muitas pessoas dependem dele.  Porém, qualquer cidadão sabe que estes serviços públicos são mais suscetíveis a greves do que empresas privadas, causando o caos no transporte que vimos algumas semanas antes do evento. Se houvesse um mercado aberto, com várias empresas competindo entre si e com facilidade de entrada, não haveria motivos para que esse serviço parasse.
Mentira, simplesmente. Todas as classes de trabalhadores entram em greve, os metalúrgicos - que trabalham para a iniciativa privada - entram em greve, os seguranças privados entram em greve, quando ocorre greve geral dos bancários não são somente os funcionários da CEF e do BB que entram em greve. E mais, também não se poderia se argumentar com qualquer confiança que "menos funcionários entrariam em greve", ainda bem que o camarada não lançou esta afirmação.

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Em Porto Alegre, a empresa municipal Carris teve prejuízo anual de R$1,8 milhão devido ao preço das tarifas, e na capital paulistana o repasse de subsídios às empresas de transporte coletivo (sem contar o metrô), chega a quase R$800 milhões para manter a tarifa a R$3,00.  Isto significa, basicamente, que são os cidadãos que não utilizam o transporte coletivo que estão pagando por quem usa.
Quem paga passagem também paga impostos que servirão como subsídios, o pagamento de um não anula o outro.

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Há quem defenda esta política como sendo "social", já que, por ser um transporte mais barato, ele normalmente é utilizado por uma camada mais pobre da população. Porém, o que acontece é que muitos dos usuários são de classe média e até mesmo alta, que acabam recebendo subsídios de quem ganha menos, mas que também paga impostos.
Nossa, MUITOS do usuários são de classe MÉDIA e ALTA? E qual a proporção? Ein? A classe baixa é a maioria disparada que utiliza o transporte público, se são eles quem pagam pela população total utilzar os transportes, novamente se conclui que os indivíduos da classe baixa pagam por eles mesmos.
Esse argumento é quase uma "falácia da justiça social invertida", que acha cenários diversos onde os pobres pagam, em valores absolutos, mais do que os ricos e que os ricos supostamente são beneficiados pelo que não pagam. Os socialistas usam o mesmo a favor do povo falando que o bom é que o mesmo aconteça com os ricos pagando pelos pobres, os liberais falam que o melhor é acabar com isso. A resposta é simples, enquanto a população pobre é a que mais paga impostos, também é ela quem mais utiliza os serviços públicos.

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Se o problema é a falta de renda, então seria no mínimo mais racional se estes mesmos subsídios fossem repassados aos cidadãos mais pobres para que estes pudessem escolher eles mesmos o tipo de transporte que gostariam de utilizar.
E assim surge o bolsa-transporte. Como que o IMB aceita um argumento desses? :histeria:

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De forma geral, sabemos que, se as barreiras políticas à entrada no mercado fossem realmente eliminadas, a pressão dos concorrentes tenderia a levar a um aumento da eficiência e à diminuição dos preços para tentar atrair mais consumidores para este mercado.
É "TENDERIA a levar", "TENDERIA a melhorar"... A regulação pública é necessária para manter as opções extremas inválidas, sem gente pendurada em ônibus, sem carroças com cavalos cagando tudo, impedir o oligopólio e o monopólio com a força da lei, não esperando que o mercado - que pode ser facilmente ludibriado - regule tudo. Sim, o povo necessita do papai Estado para que eles não façam merda, mas, claro, que não impeça que ele erre algumas vezes, daí vem a liberação assitida (sempre deu certo quando feito honestamente, vide países desenvolvidos bacana).

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O segundo problema citado da experiência chilena, a qual inclusive ouvi pela primeira vez do Secretário de Mobilidade Urbana de Porto Alegre Luís Afonso Senna, é a concorrência que existia entre motoristas de ônibus para pegar passageiros em uma determinada parada. J á que as paradas continuaram sendo públicas e os motoristas são recompensados por eficiência, os relatos dos moradores de Santiago são que os motoristas de ônibus agiam como Ben-Hur na corrida de bigas, correndo para buscar o grupo de passageiros que estava à espera.  Isto causou um aumento no número de acidentes e uma percepção pública muito negativa do sistema, onde a busca pelo lucro das empresas aumentava o número de mortes no trânsito.

Entretanto, o problema surgia porque eram empresas privadas atuando em uma plataforma pública — paradas que pertenciam a todas as empresas em conjunto —, gerando então esta distorção no mercado.  Estes incentivos perversos foram analisados por Daniel Klein em um artigo falando sobre "curb rights", ou "direitos de meio-fio", argumentando que um modo simples de resolver este problema seria estabelecendo paradas específicas para cada empresa ou grupo de empresas, terminando com qualquer tipo de concorrência para a mesma parada e prezando pela segurança no trânsito.
HEHEHEHE. Daí sem dúvida virá o argumento das ruas privadas, do fim de fiscalização pública de construção... É completamente inviável que todas as empresas construam pontos de parada privados, por um motivo simples, limite físico. Locais absurdamente movimentados terão calçadas repletas de pontos de ônibus, de modo que quanto mais segmentado e mais concorrido o mercado mais pontos existirão.
Além disso, existe uma motherfucking 666 from hell explicação do porquê desse argumento de múltiplos pontos de parada ser completamente impraticável em diversas situações (os pontos de parada deveriam ser móveis ou toda a calçada deveria ser uma parada de gigante) utilizando uma explicação com a Teoria dos Jogos, esse jênio que escreveu o artigo não deve ter a mínima ideia do que se trata. Se alguém desejar eu demonstro posteriormente.

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A última crítica em relação aos ônibus de livre mercado chilenos foi que, para reduzir custos, as empresas deixaram de renovar e realizar manutenção nas suas frotas, gerando um grande número de veículos velhos na cidade, inseguros e poluentes. 

[...] se uma grande camada da população que anda de transporte coletivo possui menos recursos financeiros ou se importa menos com a qualidade dos ônibus para se deslocar, é natural que surjam, em um mercado livre, veículos para atender a estes consumidores.  Qualquer tipo de regulação municipal com o intuito de proibir agentes privados de emitir gases tóxicos ou de ameaçar os demais com veículos caindo aos pedaços recairia novamente no problema de as ruas serem propriedade pública.  Fossem as ruas privadas, não haveria motivo para tais conflitos.
Eu sabia que o argumento das ruas privadas apareceria. Nem vou entrar no absurdo que é defendê-lo. Essa justificativa já foi comentada, to com preguiça de escrever mais.

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Mesmo assim, transporte coletivo segue sendo sinônimo de transporte público, restringindo os incentivos à inovação trazidos pela livre concorrência e pela possibilidade de falência, inexistente quando se pode cobrir qualquer ineficiência com mais impostos e mais subsídios.  Quando o serviço é ruim, quando a rota não existe, quando os veículos são poluentes, quando o preço é considerado alto ou as informações sobre rotas são inexistentes, resta ao cidadão reclamar ao poder público — sempre com poucas chances de sucesso, sem a possibilidade de trocar de fornecedor nem de empreender algo melhor
Este argumento o melhor do texto. Relacionar-se com empresas privadas, nas situações atuais das empresas públicas, é muitíssimo mais fácil do que com o poder público, sem falar na maior probabilidade do pedido ser aceito (individual ou grupal).
Se você aceitar algumas colocações minhas...
A única e verdadeira razão de eu fazer este comentário em resposta é deixar absolutamente claro que NÃO ACEITO "colocações" suas nem de quem quer que seja.

Offline Barata Tenno

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #72 Online: 14 de Junho de 2013, 15:09:56 »
Pela quantidade de impostos que se paga nesse país daria tranqüilamente para se ter um transporte coletivo gratuito de primeira qualidade. Mas a roubalheira, safadesa e falta de vergonha já cara dos políticos não deixa né, aliás como não deixa que nada funcione nesse país.

Sério, coloca as contas ai pra gente ver. Tipo custo vs arrecadação, quanto custa o transporte gratuito na cidade e quanto foi roubado.... Sabe como é, aqui a gente gosta bastante de evidencias.
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Offline Fabrício

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #73 Online: 14 de Junho de 2013, 15:14:52 »
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A última crítica em relação aos ônibus de livre mercado chilenos foi que, para reduzir custos, as empresas deixaram de renovar e realizar manutenção nas suas frotas, gerando um grande número de veículos velhos na cidade, inseguros e poluentes. 

[...] se uma grande camada da população que anda de transporte coletivo possui menos recursos financeiros ou se importa menos com a qualidade dos ônibus para se deslocar, é natural que surjam, em um mercado livre, veículos para atender a estes consumidores.  Qualquer tipo de regulação municipal com o intuito de proibir agentes privados de emitir gases tóxicos ou de ameaçar os demais com veículos caindo aos pedaços recairia novamente no problema de as ruas serem propriedade pública.  Fossem as ruas privadas, não haveria motivo para tais conflitos.

Citação de: Price
Eu sabia que o argumento das ruas privadas apareceria. Nem vou entrar no absurdo que é defendê-lo. Essa justificativa já foi comentada, to com preguiça de escrever mais.

Rua privadas???  :o

Logo agora que eu pensei que já tinha visto de tudo   :lol:...
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Offline Gaúcho

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Re:Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus
« Resposta #74 Online: 14 de Junho de 2013, 15:19:34 »
Eu sei que não me importaria de pagar R$3,00 por um transporte coletivo confortável, pontual e de qualidade.

Pontual da pra fazer, confortável numa metrópole eu nunca vi, em nenhum lugar do planeta. E de qualidade eu não sei o que quer dizer.....

Então você deveria visitar a Nova Zelândia.
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