Luis Souto, respeito sua análise mas discordo. No meu entender, a causa profunda da onda de protestos foi a insatisfação antiga da população com o governo, os partidos políticos, os serviços públicos e a corrupção. Essa insatisfação nunca se materializava em atos, pois não havia uma fé muito grande nessa possibilidade e nem disposição e exemplos para tal.
As redes sociais possibilitaram, pela primeira vez, um meio do povo se comunicar e se informar sem depender da grande imprensa, de partidos políticos ou de outras organizações (ex: sindicatos, igrejas, etc).
Com os meios técnicos disponíveis, faltavam os motivos e o estopim. As peripécias recentes dos políticos brasileiros no âmbito da corrupção aumentaram ainda mais o já altíssimo descrédito da classe política. Os políticos (parlamentares principalmente) deixaram de se envergonhar de seus atos imorais, defendem abertamente seus colegas de maracutaia e chegam a propor medidas absurdas para evitarem ser punidos (Ex: a PEC 37). Junte-se a isso a degradante situação dos serviços públicos (saúde, educação e a segurança), a explosão da criminalidade e da impunidade a criminosos, a coragem crescente dos bandidos (que agora matam mesmo quando a vítima não reage), etc. Enfim, a coisa chegou num patamar inédito de sensação de impunidade e insegurança.
O estopim foi a forma violenta como os protestos pela redução da tarifa foram reprimidos, e a repercussão nacional e internacional das imagens dessa repressão. Usando as redes sociais, as pessoas foram encorajarando-se mutuamente a irem às ruas. Isso criou uma bola de neve, encorajando cada vez mais pessoas, o que aumentou a repercussão e mais gente aderiu. Um sentimento de orgulho e "vingança" contra a classe política tomou conta do povo, e a vontade de fazer farra nas ruas também (juntou-se o útil ao agradável). Temos o quadro atual à partir disso.