Agricultura familiar atualmente não necessariamente é sinônimo de pequenas chácaras e sítios, o que caracteriza é menos o tamanho da propriedade e mais a forma de exploração dela.
A distinção é relevante em face da diferença de extensão de um para outro. Para citar apenas um exemplo, no município de Hidrolândia, na região da Grande Goiânia, um módulo rural mede 3 hectares, enquanto que o módulo fiscal mede 12 hectares. A implicação é enorme, porque, a se adotar o número de módulos rurais, imóvel pequeno naquele município seria o que tivesse até 12 hectares, enquanto que pelo conceito adotado pela lei 8629/93 que se refere ao módulo fiscal, passa para 48 hectares! Seria de se perguntar quantas pessoas, neste país, em região valorizada e próxima de grande centro, teriam um imóvel rural com área de 48 hectares. Certamente, a resposta seria a de que, de todos os proprietários rurais, bem poucos não seriam considerados pequenos.
Não entendi muito bem isso aqui. Imóveis rurais em regiões valorizadas e próximos de grandes centros são exceções no universo dos imóveis rurais no Brasil, e estão sujeitos ao fator da especulação imobiliária. Não são o melhor exemplo para se caracterizar a agricultura familiar.
Além disso, imóveis rurais de 48 ha são pequenos, de qualquer maneira. Mesmo um imóvel rural de 100 ha não é lá grande um latifúndio.
Como evidência anedótica, trabalhei no MT em uma fazenda (na verdade eram várias áreas contíguas, mas que eram consideradas uma única "fazenda" ) que media 12.000 ha, e tinha 16 km de uma ponta a outra. Isso sim é um latifúndio. O que não é demérito algum, ela era 100% produtiva (tinha algodão, soja, milho e piscicultura).
Existe espaço para a agricultura "empresarial" e para a agricultura familiar no Brasil, pela extensão do país. A agricultura "empresarial" é mais adequada para o Centro Oeste, com grandes áreas mecanizáveis e para grandes culturas como algodão, milho, soja, cana, pastagens, etc., e a familiar se adequa mais ao Sul (principalmente Santa Catarina), pequenos estados do Nordeste, aqui no ES, para produção de hortaliças, fruticultura, leite, etc.
Tudo isso a grosso modo, claro. A agricultura familiar e a "empresarial" se complementam, e podem conviver harmoniosamente.