A grande diferença é que todas as outras coisas poderiam ser explicadas de forma absurdamente grosseira como "movimento e interação de partículas". E isso é meio que inquestionavelmente o caso para TUDO, a menos que se acreditasse que certas porções de matéria são "especiais".
E era exatamente isso que pensavam ,basta ver na história da química orgânica
http://en.wikipedia.org/wiki/Vitalism Naquela época não era evidente que coisas como vida pudessem surgir somente de matéria, então apelavam-se para essências, almas, pra explicar isso.
Sim, essa idéia é algo bastante conhecido. O que estou dizendo é que seria argumentável, como de fato era, que os seres vivos nada mais eram do que "máquinas" feitas de outro material. Peças encaixadas que se movem.
Com consciência fenomenal, a coisa parece bastante diferente, você não tem como fazer a analogia com absolutamente nada. É uma "coisa", física, mas subjetiva; só existe "dentro de nossas cabeças/cérebros", de sua atividade, e não há nada externo que se compare.
Seres vivos = máquinas, autômatos (Descartes)
Experiência fenomenal = plasma? Eletricidade? Emaranhamento quântico? Televisão? Energia? Raios laser? Dobramento de proteínas? Holograma? Show de sombras?
A coisa mais próxima de analogia seria "realidade virtual", mas com o problema de, se não é apenas uma forma de ilustrar o problema com "realismo direto", sendo incompleta, e simplesmente "errada", sendo interpretada de forma muito literal. Acaba incorrendo numa recursão infinita, de uma "consciência" dentro da consciência para ver as representações. De alguma forma é mais como uma "realidade virtual", mas "sem usuário", ou com um usuário também "virtual".
Essa analogia de "realidade virtual" deve ser aceita por virtualmente todo mundo (tirando enativistas, que são meio que um tipo esquisito de dualistas em negação), mas ainda está muito mais distante da analogia entre organismo vivo e máquina, em poder de explicação.
Hoje pode não ser evidente como a consciência possa surgir de interacões no cérebro, mas não significa que precisamos apelas pra novas entidades. A ciência dos dá o direito da dúvida, vamos esperar, é inegável que sabemos pouco do cérebro pra dizer que é impossível tirar a consciência dele. Assim como era inegável que sabiamos pouco sobre química orgânica para sugerirmos uma forca vital
Eu particularmente desconsidero completamente qualquer alegação, mesmo materialista (como enativismo e dualismo de substância) de que a consciência não "se encontra" no cérebro.
Mas outra analogia poderia ser feita. No passado também talvez houvesse quem dissesse que "não se precisa de mais elementos químicos, de alguma forma vamos explicar tudo com água, terra, fogo e ar".
Se a física não prevê a consciência, nem há nada mínimamente parecido para servir de base, então não é nem um pouco estranho, chega a ser até inevitável, propor que talvez seja necessário "algo mais". Para alguns seria toda uma outra "substância", "não-física" (se isso não for auto-contraditório), para outros, talvez fossem só propriedades adicionais, virtualmente negligenciadas o tempo todo porque apenas no cérebro que esse papel/efeito seria observável, ao menos até agora.
Talvez a noção holista de "propriedade de um sistema" seja algo "menos" que isso, ou faça parecer uma proposição que mexe menos com a física fundamental, mas acho que provavelmente essa aparência é ilusória, uma vez que parece que propriedades físicas "extra" terão que ser tiradas de algum lugar; não importa se dos quarks ou de macromoléculas, ou conjuntos delas interagindo. Mesmo que se chegue ao ponto de se dizer algo como "ah, finalmente, consciência fenomenal é só o eletromagnetismo resultante da ação conjunta dos neurônios, tá explicado".
Mas no caso, o aspecto fenomenal da experiência, é algo que "nem parece matéria"; daí tem de um lado os que propõem que de fato não seja, e que exista um "outro mundo", "imaterial", e de outro aqueles que tentam de alguma forma começar a explicar/conciliar essas coisas (apenas começando), ou até negam completamente a existência de algo a ser explicado. Acho que Chalmers é um dos que enxergam um "meio termo" entre as coisas.
(vitalismo)
Qualquer semelhanca é mera coincidência. Assim como compostos orgânicos pareciam ser totalmente diferentes dos inorgânicos(digamos, "matéria bruta) e não podiam ser produzidos em laboratórios, concluiu-se que era necessário uma forca vital pra explicar isso. Eu acho que isso é uma coisa semelhante a propor que a consciência seria fundamental. Em outras palavras tentaram puxar uma nova entidade do bolso e não deu muito certo
A semelhança se dá por deliberadamente buscar-se uma "teoria refutada" como analogia para se defender uma noção vaga/não-delineada, supostamente análoga a teoria sucessora, apenas nisso.
Em vez disso poderia se usar a analogia com "preformacionismo". Que passou dessa parte teórica para observações empíricas (como os cruzamentos de ervilhas de Mendel, talvez análogos a pesquisa por correlatos neurais da consciência), que eventualmente desbancaram outras noções largamente tidas (de herediteriedade como uma "mistura de fluidos", e herança de caracteres adquiridos), até que eventualmente se chegou numa estrutura física responsável, e em todo o entendimento de como contém "instruções" para gerar cópias de si mesmo e da célula hospedeira. E então hoje quem faz pouco da noção de que algo mais é necessário para explicar a consciência fenomenal são análogos a "lamarckistas" ridicularizando a noção de infinitos homúnculos dentro do espermatozóide. Acho que essa analogia era feita por Francis Crick, antes de morrer, quando estudava a consciência.
Mas voltando a analogia com vitalismo, e enfatizando novamente que o problema vai além de "vitória por analogia arbitrária", que não há realmente analogia. Descartes já tinha a resposta essencial: os seres vivos são máquinas (talvez seja argumentável que o vitalismo nem bem rejeita isso, mas apenas se pergunta sobre a energia que as move, não sei).
No caso de consciência fenomenal, simplesmente não há essa estrutura análoga que apresenta funcionamento e propriedades suficientemente análogas. Ou, no mínimo, não ser uma petição de princípio completa, "o nosso cérebro é como um computador; logo, computadores também têm sua consciência fenomenal".
Não sei. No mínimo não me parece "menos fé" do que afirmar que seria alguma forma de emergência trivial, ao mesmo tempo em que não se têm a menor idéia de como começar a explicar; sem qualquer coisa minimamente parecida, conhecida, que possa servir de "base" para a afirmação. Ou, não sendo trivial, que certamente algum dia vamos entender, que nada (ou isso ao menos, por pior que pareça) está além de nossos limites de compreensão.
Nem de longe eu afirmei isso. Eu não acho que seja fé você simplesmente ficar em dúvida e esperar, achávamos que várias tecnologias atuais eram impossíveis no século passado. Dizer que só porque não temos meios de resolver um problema atualmente de um jeito não significa que nunca resolveremos, é mais prudente adimitir que sabemos pouco do cérebro(isso é um fato), pra afirmarmos isso. Vamos continuar as pesquisas, SE depois de termos um vasto conhecimento dos fenômenos que ocorrem no cérebro e mesmo assim, não tivermos uma chance mínima de tirar a consciência dele, então, será razoável sugerir a consciência como uma nova entidade
Bem, na verdade essa sugestão está vindo daqueles que estudam o assunto, cérebro incluso. Até porque não deve se tratar, na maior parte do tempo, de "tirar" o cérebro como parte fundamental da explicação. Apenas de se ter "bases" de onde fazer um reducionismo, ou de onde se tirar uma "emergência fraca", em vez de uma "forte".
Ironicamente, nesse sentido, a aversão a idéia de postular uma outra propriedade da matéria, não exclusiva do cérebro, é que acaba sendo análoga ao vitalismo, pelo antropocentrismo ou excepcionalismo, por colocar o cérebro (algumas vezes exclusivamente o humano) como uma coisa fundamentalmente "especial", onde a "mágica ocorre", em vez disso ter origem "matéria ordinária", assim como a gravidade de um planeta "deriva" dela a "sua" (a mesma). É dizer, "não, a consciência é fundamentalmente exclusiva do cérebro [humano], não podendo ter base alguma em fenômenos mais fundamentais da matéria bruta, além daqueles que regem como a matéria se junta e reage".
Numa analogia, admitidamente enviesada do lado "agnóstico" da coisa, parece uma reação como a que talvez cientistas ou filósofos tenham tido/pudessem ter tido às primeiras sugestões de dualidade de onda e partícula. Sugerir que essa dualidade proposta é uma "fé", apostando que de alguma forma tudo será eventualmente explicado apenas com coisas se comportando de uma forma só, tradicional, ou como partícula, ou como onda.
O problema foi que a dualidade onda/partícula não foi sugerida, simplesmente sugerida, existiam vários experimentos que suportavam que a luz era uma onda(difracão, interferência) e vários outros que mostravam o comportamento de partícula. (efeito fotoelétrico). Sem essas evidências, ninguém ia sugerir isso, como estão fazendo com a consciência, qual seria o motivo de sugerir uma dualidade sem ter nenhuma evidência pra suportar isso?
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Bem, no caso de consciência fenomenal, ela não parece algo "sólido", "líquido", "gás", "onda", "partícula"...
Bem, de qualquer forma, tem gente tentando imaginar o que poderia ser:
Consciousness as a State of Matter
Max Tegmark (MIT)
(Submitted on 6 Jan 2014)
We examine the hypothesis that consciousness can be understood as a state of matter, "perceptronium", with distinctive information processing abilities. We explore five basic principles that may distinguish conscious matter from other physical systems such as solids, liquids and gases: the information, integration, independence, dynamics and utility principles. If such principles can identify conscious entities, then they can help solve the quantum factorization problem: why do conscious observers like us perceive the particular Hilbert space factorization corresponding to classical space (rather than Fourier space, say), and more generally, why do we perceive the world around us as a dynamic hierarchy of objects that are strongly integrated and relatively independent? Tensor factorization of matrices is found to play a central role, and our technical results include a theorem about Hamiltonian separability (defined using Hilbert-Schmidt superoperators) being maximized in the energy eigenbasis. Our approach generalizes Giulio Tononi's integrated information framework for neural-network-based consciousness to arbitrary quantum systems, and we find interesting links to error-correcting codes, condensed matter criticality, and the Quantum Darwinism program, as well as an interesting connection between the emergence of consciousness and the emergence of time.
http://arxiv.org/abs/1401.1219

Longe de minha capacidade de compreensão, e já disparando todos meus "alarmes" contra essas visões metafísicas que eu particularmente acho esquisitas, de "monismo mentalista/informacionista/matemático".