Eu ia postar uma explicação mais elaborada do que vou tentar dizer agora, mas estou sem tempo e com preguiça, eu precisaria entrar em algumas minúcias de questões técnicas em Ecologia (estratégias r e K) e em evolução (o custo da reprodução sexuada) e teria que escrever uma historinha didatica para tentar ilustrar o que quero dizer (e que, afinal, para muitos de vocês possa até ser algo óbvio) mas a questão é que, aproveitando o sucesso que o vídeo norueguês fez no outro tópico e o rumo que este tópico aqui tomou, eu preciso dizer que tanto o estupro quanto a "descartabilidade" do homem (macho) são perfeitamente compreensíveis à luz da Biologia.
Em resumo: a reprodução sexuada tem custos (gônadas e demais órgãos reprodutivos têm que surgir e eles gastam energia de diversos modos, em caso de diocismo você tem membros da população que consomem recursos do ambiente mas não colaboram diretamente para a perpetuação da espécie (não engravidam, não botam ovos)...) mas também carrega um enorme benefício (variabilidade genética).
A questão central é que quanto mais eficaz for o padrão reprodutivo na tarefa de promover variabilidade genética mais custoso ele tende a ser e isso determina um intrincado ajuste fino que vai ajudar a explicar porque entre os animais terrestres animais superiores a maioria das espécies são dioicas, com machos vivendo quase o mesmo tempo que as fêmeas, mas em outros grupos os padrões encontrados serem os mais distintos possíveis (macho microscópico que vive dentro do corpo de uma fêmea macroscópica... macho que só aparece em tempos de crise ambiental desaparecendo logo após a cópula ou reestabelecimento das condições ambientais ideias... hermafroditismo...)
Acontece que tanto a questão da "vida do macho valer menos" quanto a questão do "direito de estuprar" entram nestas equações um tanto quanto complicadas. O que eu tô querendo dizer é que as mesmas "lógicas biológicas" que explicam perfeitamente o porquê de os machos serem os primeiros a saírem à guerra (e se vocês olharem ao redor vão ver que isto não é algo nem de longe inventado pela humanidade) explicam também o porquê de boas partes das cópulas serem connseguidas à força pelo macho e não por gosto e vontade da fêmea (idem ao anterior).
A questão é: se somos humanos e resolvemos "moralizar essa zorra que a natureza fez" (ou seja: se idealizamos viver não sob as regras selvagens que a nossa biologia nos impôs mas sob os conceitos de justiça e moralidade que surgiram da nossa cabeça hiperdesenvolvida, que é do que trata o tópico aqui) então não valerá dizer "com o estupro tudo mal e temos que corrigir e com os homens tendo suas vidas tratadas como algo de menor valor tudo bem, vocês que vão reclamar com Darwin e não nos encham o saco".
O ponto é que enquanto obtivemos êxito no primeiro caso (em tratar o estupro como algo imoral e anormal em nossa sociedade) continuamos pouco nos lixando para o segundo (a vida do macho humano continua valendo menos, como se esperaria em um ambiente selvagem, e isto é tão normal como sempre foi pra maioria de nós).
Dito isto:
Só que isso é uma mentira. A vida do macho não vale menos. É a vida da criança que vale mais, o que faz todo o sentido para a perpetuação da espécie. Não se prefere salvar mulheres e/ou meninas a meninos em nenhuma circunstância, mas sim as crianças, em primeiro lugar, todas elas, sem distinção de sexo e em seguida o mais apto a cuidar para que elas sobrevivam, no caso, as mulheres.
A claro, faz todo sentido: A proposição que diz que a vida das mulheres e das crianças valem mais do que a do homem é muito diferente da que diz que a vida do homem vale menos do que a da mulher e das crianças. Agora mudou tudo, tá serto
De fato, na prática, não muda nada, só expõe mais do mesmo rancor ideológico mal disfarçado pela distorção conveniente dos fatos. O que serve apenas para aferir o quanto você, genericamente falando, está disposto a engolir meias verdades ou trocar por outras. Uma coisa requer o mesmo rigor crítico que a outra. É tão tosco quanto.
Meninos são deixados junto com os homens no barco para afundar? Só entram no bote depois que todas as mulheres e meninas estiverem alojadas? Não? Então não é a vida do macho que vale menos, é a do adulto. Da mulher, inclusive, se for preciso fazer uma escolha. A prioridade é a prole, que depende de um investimento, em que as mulheres, na divisão de tarefas, estão mais especializadas.
Provavelmente porque nos primórdios elas não só eram encarregadas dos cuidados com a prole, mas também pelo fornecimento da maior parte do alimento consumido pelo bando, no papel de coletoras. A caça, apesar da periculosidade, representava apenas uma pequena porcentagem, em média, do total consumido.
Carece de fontes, pode cita-las?
A tese do custo x benefício (maior benefício, reconhecimento, para o homem em troca do maior custo), abordada num dos vídeos dessa mesma série, é questionável, tanto que o sistema de hierarquias era exceção e não regra.
Pode ser mais claro, não entendi a sua indagação. Você disse que a tese é questionável, falou de haver exceções, mas não citou nenhum exemplo e nem mesmo desenvolveu uma lógica que confirmasse a sua teoria.
Posso. Eu disse que se o custo procriativo do homem fosse, de fato, maior do que o da mulher, como alega a tese apresentada no vídeo para sustentar a defesa da necessidade do homem de reconhecimento dos seus maiores esforços pela mulher, por sua vez, concedendo-lhe maior status social, isso deveria ser evidente na história dos caçadores-coletores, com o sistema de hierarquia, que representa a concessão de status social, entrando na equação como regra em vez de exceção. Ou seja, a ideia não corresponde aos fatos.
E mesmo a tese de que o homem teria sofrido maior pressão seletiva devido a caça tornando-se por isso mais forte também é questionável. Pela mesma lógica as leoas, por exemplo, também deveriam ser mais fortes e não é o que acontece.
As leoas são as donas do território, vivem geralmente em famílias muito grandes, com muitas leoas para ajudarem umas as outras na caça, enquanto geralmente apenas um ou no máximo dois machos alfas lideram o grupo. A questão aqui é que as fêmeas de forma geral, durante toda a sua vida, não só tem machos alfas e fortes para protegerem o grupo, como tem o auxilio de muitas outras leoas para ajudarem-nas na caça, o que diminui drasticamente o esforço exigido delas, enquanto os machos, durante a maior parte de suas vidas vivem como nômades, sozinhos e sem grupos, caçando por conta própria, sem auxilio, fazem tudo sozinhos, até se tornarem forte o suficiente para desafiarem um macho alfa líder de algum grupo, o destronando e reinando por em média dois anos, neste meio tempo eles lutam constantemente contra outros machos invasores, para defender o seu trono, fazem longas rondas diariamente para assegura que seu território não seja invadido por machos rivais, ou quaisquer outros predadores que possam ameaçar suas crias e suas leoas, e permanecem assim até um macho mais jovem e forte, o desafiar e o matar ou expulsa-lo do grupo, expulsando (caso não consiga mata-los) também todos os filhotes machos do antigo líder, para uma vida de nômades, sofrida e muito mais difícil e pesada do que a de qualquer fêmea, até que estes mesmos jovens machos se tornem fortes o suficiente para conseguir o seu próprio grupo. Logo, é evidente que o exemplo das leões não contradiz de fato algum a teoria apresentada no vídeo, na verdade, ela a complementa e a confirma.
Abraços!
Bingo! A palavra-chave aqui é macho-alfa. Ou seja, a resposta é estratégia evolutiva. O dimorfismo sexual é mais acentuado nas espécies poligâmicas e não devido a divisão de tarefas. É mais provável, na verdade, que o dimorfismo determine a divisão de tarefas do que o contrário. Motivo porque os saguis, espécie monogâmica, citada no vídeo, são menos dimórficos e não porque, nas palavras dela "eles fazem todos as mesmas coisas e tem feito as mesmas coisas por muito tempo". Quer dizer então que se começarmos todos a fazer as mesmas coisas e fizermos por muito tempo acabamos com as diferenças? O feminismo vai adorar saber disso. É ridículo! Contudo, eu tiro o chapéu se ela também for uma ferrenha defensora da poligamia masculina.
No mesmo vídeo ela diz, nas minhas palavras (estou com preguiça de assistir novamente), que, na maior parte do tempo, os machos contribuíam com a mesma quantidade de provimento que as fêmeas (não que eu saiba, mas é claro que as fontes dela podem ser mais confiáveis), e eventualmente elas podiam até contribuir mais, mas não eram recompensadas porque seus esforços envolviam menos riscos, o que explica porque na maior parte do tempo, as sociedades de caçadores-coletores eram igualitárias e não hierárquicas. E então, entra com os Inut na história.
Agora me diga que estranha lógica é essa. Os machos contribuíam com a mesma quantidade de comida que as fêmeas, a um custo muito maior do que o delas, o que pode ser atestado pelo dimorfismo sexual, mas não cobravam a diferença na maior parte do tempo, mesmo sendo maiores e mais fortes. Só quando, como no caso dos Inut, proviam o bando na quase totalidade.
Vamos analisar os leões. Segundo você, o fardo dos machos é muito mais pesado. Com base em que critério? A maioria dos machos, como você disse, na maior parte da vida, cuidam apenas de si mesmos (a vida, que segundo a moça dos vídeos, todo homem devia querer). A fêmea, por outro lado, ao atingir a idade adulta, tem que caçar se quiser comer, mas não sem antes servir o macho e deixar que ele se farte, alimentar os filhotes e então, se sobrar, pegar sua parte, que será dividida com as outras. Assumir uma longa e onerosa gestação para, no final, se tudo der certo, ela não abortar ou morrer no processo, correr o risco de vir um macho e matá-lo ou expulsá-lo do bando. Algumas vezes, o próprio pai do filhote, para forçá-la a entrar no cio e começar tudo outra vez.
Quanto às mulheres. Bom, se as taxas de mortalidade materna são altas ainda hoje, uma gravidez no tempo das cavernas não devia ser pura diversão. Abortos deviam ser frequente e frequentemente letais. A mortalidade infantil, maior ainda. Coletar maior parte do provimento, na maior parte do tempo, carregando um bebê, sujeita a ataque de predadores. Isso me parece bastante oneroso.