Independente de haver cooperação ou não, os genes continuam sendo "individualizados", e um macho impregnar uma grande quantidade de fêmeas é vantajoso para seus genes. Não tem como não ser vantajoso. Pode no máximo ser neutralizado por uma grande quantidade de filhos sem cuidados parentais que não "vinguem", mas é bem provável que os filhos "bastardos" recebam cuidados da família da mãe ou de outros machos (que podem ou não estarem conscientes de estarem cuidando de filho alheio).
Resumindo: impregnar muitas fêmeas é vantajoso para os genes do macho.
De forma similar, engravidar de vários machos é "vantajoso aos genes" da fêmea, numa análise estrita.
Seria vantajoso se ela pudesse de fato engravidar de vários machos e se os filhos tivessem cuidados parentais garantidos.
Como ela não pode engravidar de vários machos
Evidentemente pode!
Tanto no sentido literal, ter um filho de um e um filho de outro em seguida, ou até "mais literal" só que errado, paternidade compartilhada dos mesmos filhos, que na prática existe, embora não seja biologicamente verdadeiro, como sabemos.
e não tem cuidados parentais garantidos, só lhe resta lutar para ter cuidados parentais nas poucas crias que pode gerar por vez e (não menos importante) selecionar os melhores genes para sua cria.
Não, pode abandonar ou negligenciar significativamente as crias, não muito diferentemente do que pode ser a estratégia do macho. Mesmo bebês podem ser abandonados e ser criados por outras pessoas, seja por empatia "pura" (na verdade os mesmos instintos de cuidados parentais "disparando" com um gatilho "errado"), ou por acharem que são os pais (quando houver tal suposição/conhecimento biológico de fato).
Os cuidados também podem ser mínimos, apenas até a cria aprender a andar e pedinchar, ser "carniceira", roubar. Fêmeas jovens devem ainda ter maior chance de "adoção", incluindo aí "adoção" combinada a "casamento" ou captura de fêmeas para um harém.
Atualmente existe toda uma proteção legal que garante às crianças esses cuidados parentais mínimos (quando o pai é conhecido). No pleistoceno não havia.
As mulheres dessa época tinham que contar apenas com o afeto espontâneo dos machos para consigo e seus filhos.
É extremamente improvável que houvesse um modo de vida singular, homogêneo, durante o pleistoceno.
É também possível que houvesse em alguns grupos pressões sociais equivalentes às garantias burocraticamente formalizadas na civilização. Devem existir em vários grupos de caçadores-coletores atuais, de origem "espontânea", não introduzidos pela civilização ocidental e suas leis.
Só bem mais tarde que surgiram tradições (como o casamento) ou organizações sociais que procuraram dar uma maior garantia às mulheres de que não ficariam desamparadas pelo homem que as engravidassem.
Acho que não há boas estimativas para esse tipo de coisa, não se sabe exatamente o modo de vida exato dos humanos/pré-humanos pre-históricos. Não é possível dizer que "foi assim" ou assado. Bem poderia ser que o padrão instintivo fosse o de maior coesão social e cuidados compartilhados com prole, indício disso é que as mães humanas, mesmo em grupos "tradicionais-naturais" (caçadores-coletores) serem consideravelmente mais desligadas da prole do que em chimpanzés, bonobos, gorilas, e orangutangos, já havendo muito mais cuidados divididos pelo grupo, em vez da cria ficar abraçada à mãe o tempo todo, como é com essas outras espécies, que é o mais condizente com essa idéia inviabilidade de estratégias minimizando o investimento.
E inclusive esse tipo de coisa (promiscuidade de ambos os lados) pode ter sido gatilho para evolução de maior coesão social, outra coisa distintiva da espécie humana. Talvez algo similar aconteça com os bonobos. É o que acontece em tribos que tem a prática de paternidade compartilhada, e também acontece até algo parecido em espécies bastante distantes, como cães, onde os machos podem proteger filhotes "aleatórios", supostamente pela possibilidade de serem seus, numa "consideração instintiva".
Mas mesmo com essas garantias, a idéia de que caberia primeiro e acima de tudo à mulher selecionar melhor quem a impregnará, visando ter investimentos parentais, persistiu.
Não sei se existe continuidade significativa da "idéia" esse tempo todo. A humanidade teve diversas tradições diferentes, como poligamia e etc, onde isso não se encaixa -- a mulher não teve sempre opção de selecionar o parceiro. É mais provavelmente algo que ressurge espontaneamente sob condições econômicas/ecológicas suficientemente similares.
Nessa linha de pensamento (promiscuidade feminina) há ainda até umas teorias de "competição de esperma", que eu particularmente acho que não devem ter lá muito embasamento, mas devem ser motivadas por outras indicações de que as mulheres não são tão mais monogâmicas que os homens.