Eu gostaria de crer que as coisas estão tão ruins para o PT como os mais entusiastas disso estão, mas ainda na maior das manifestações pró-impeachment havia algo como 5 ou 10 mil que disseram que votariam em Lula... que gosto de imaginar que eram na maioria só "trolls". (
Será que algum jornal já entrevistou algum pró-impeachment que tenha dito que votaria em Lula?)
Daqueles mesmos institutos que tiravam algumas dezenas de milhares de pessoas de uma manifestação para por na outra, tentando nos convencer que estávamos tão cegos pelo ódio que eram nossos olhos que estavam nos enganando? Se for, não vejo porque confiar logo nessa parte não visível da pesquisa.
Eu é que não consigo entender esse temor. Os fatos não o apoiam. Essa história de que o PT sofreu um massacre da mídia, só cola para quem não acompanhou. O que a mídia fez foi noticiar os escândalos, um atrás do outro. O partido sempre teve um espaço gigantesco para se defender, difundir o seu discurso. Episódios como o da condução coercitiva e do power point, por exemplo, receberam massiva críticas, chegando a ser ridicularizados, apesar do encanto nacional com a Lava Jato. O próprio impeachment foi reiteradamente questionado ao longo do processo, chegando a levantar dúvidas. O discurso da jararaca foi mais repetido do que as vinhetas dos canais, fazendo, inclusive, parte de algumas delas. Tudo que há é o que restou da incansável militância martelando sobre a força do partido, a cota fiel do eleitorado, o peso da figura do líder - repetida inclusive pelos opositores. A baixa adesão às manifestações, mesmo com direito a shows, celebridades, líderes políticos, entre eles o próprio Lula, ônibus, comida, acampamento e o escambau, dizem o contrário, o resultado das eleições dizem o contrário, diversas pesquisas dizem o contrário, as perspectivas judiciais dizem o contrário. O que diabos vocês estão vendo que me escapa?
Também acho estranho esse "repúdio moral" de "transferir responsabilidade para a falecida", já que dentro da narrativa de inocência, não é ele dizendo, "foi a minha esposa que coordenou todo o esquema de receber propinas", mas "foi minha esposa que fez todas essas coisas completamente inocentes, estudando a possível aquisição de um imóvel que acabamos descartando". Para quem "sabe" dentro do seu coração que ele é 100% culpado de tudo do que é acusado e do que eventualmente for, isso ainda é de fato repugnante ante a alternativa que seria confessar tudo, até coisas ainda insuspeitas, claro, mas a narrativa de inocência é simplesmente o comportamento mais "natural" de um criminoso, que ainda é estranho ter esse efeito sobre as pessoas, já que não é realista esperar qualquer outra coisa. Parece algo como o julgamento moral de um crocodilo que come um cervo que foi beber água.
Mas talvez eu é que seja meio "apático" demais a esses aspectos mais emocionais de tudo.
A história não se resume ao triplex, ao depoimento do Lula ao Moro. De repente, dona Marisa aparece como a interlocutora entre as empreiteiras e a reforça do sítio, a compra de um terreno para a nova sede do instituto, do que me lembro de cabeça. O que não é inverosímel. Se parece bem com o Lula a essa altura por inclusive a mulher e os filhos para fazer o trabalho sujo por ele.
Talvez seja um equívoco meu pensar que o zelo com a memória dos entes próximos é algo meio que universal, até entre bandidos, sei lá. De fato, me causou e ao que percebo, não só a mim, uma certa repulsa esse ato de covardia. Um sujeito que se faz de forte, corajoso, guerreiro, com uma história, uma reputação a zelar, um discurso vigoroso, que se esconde por trás de uma mulher viva já é algo espantoso, quanto mais por trás do cadáver de uma, expondo sua memória. Enfim. Será que é muito antiquado isso?