Eu concordo com o Fabrício quando diz que o certo e o errado não pode depender da ideologia.
Se não fossem as paixões ideológicas seria muito simples ver que os dois estão errados neste caso. Mas haja ginástica mental passar pano ou condenar, dependendo de pra que time a pessoa torce.
Eu não vi o que o Nunes falou do Verde, só vi a justificativa dele na rádio, mas se o que ele justificou é verdade, então as acusações do Verde eram ridículas e teatrais.
Vamos recapitular o incidente:
- Verde acusa Nunes de ter sido baixo, de ter usado a família para ataca-lo e chegado ao ponto de exortar as autoridades para que ele perdesse a guarda dos filhos. E ainda acrescenta: "Você queria que meus filhos perdessem um lar e voltassem para o abrigo?"
Um cínico melodramático esse tal de Verde, e a gente descobre logo depois quando Nunes dá sua versão. O que o Verde está tentando fazer e atrair antipatia para o Nunes, ele está torcendo os comentários do colega para tentar fazer dele um monstro. Um homem que está efetivamente advogando pela causa que terá como consequência tirar duas crianças de um lar confortável e retorna-las ao orfanato público.
Mas quando Nunes se justifica, ficamos sabendo que a acusação é não só exagerada mas distorce o que foi realmente dito. Nunes então começa a explicar que apenas "brincou" questionando sobre quem cuida dos filhos, já que um só liga pro Intercept e o outro só fica em Brasília...
A justificativa estava parecendo razoável e convincente - ora, nem mesmo um idiota interpretaria ao pé da letra estas declarações - e Verde percebe que na acareação a sua acusação está sendo desmoralizada então usa o expediente, calculadamente teatral, de interromper a explicação do seu desafeto gritando: "Covarde, covarde, você foi covarde!".
É quando ocorre o pugilato...
Mas mesmo um idiota também deveria ser capaz de perceber que essas declarações bobocas do Nunes tinham por intenção não tirar dos pais a guarda dos filhos, mas usar a condição homossexual do Verde para alimentar subliminarmente a antipatia da audiência por esse jornalista. Ou seja, Nunes é anti PT e pró Bolso, então sua intenção é desqualificar os vazamentos do intercept, mas ele não faz isso só com argumentos mas também com estes truques que incluem até procurar formas de sutilmente antipatizar o público com o responsável pela divulgação das informações.
O que não deveria ter nenhuma importância para seres raciocinantes, porque pouco importa quem divulga a informação. O que importa é A informação. Mas seres humanos não são raciocinantes e jornalistas sabem muito bem disso, então o que a "ironiazinha" do Nunes tem como alvo é sugerir que quando 2 gays adotam, o resultado é esse: por não serem uma "família normal", onde um é o provedor e a mãe se dedica mais aos filhos, no caso de dois homens cada um tem sua vida e a atenção aos filhos fica relegada a segundo plano. É tudo de caso pensado; ele está na verdade querendo incutir no público a impressão de que viados só adotam por ser "modinha" e também por ativismo da causa gay, que na verdade nem ligam para filhos. E com isso espera trabalhar subliminarmente a homofobia latente do público, especialmente a homofobia contra homossexuais ativistas, para gerar mais antipatia pelo VerdeValdo. Sabendo que uma vez que você tenha antipatia pelo Verde essa antipatia tenderá a se estender também para tudo o que o Verde faz, e com isso você foi manipulado porque agora já está querendo ver defeitos, tramoias e adulterações nos diálogos vazados mas somente porque o responsável por estes vazamentos é o Verde e você não gosta dele!
É claro que se você não gosta do PT e da esquerda em geral, já tem motivos e viés suficiente para tentar minimizar e desqualificar as informações divulgadas, mas o que o Nunes estava fazendo era tentar dar-lhe ainda mais motivos para isso.
Ou seja, Nunes estava sim jogando com a carta da homofobia, mas fazendo de forma sutil, não explícita. E o VerdeValdo poderia tê-lo acusado disso, mas talvez entendendo que este tipo de acusação não teria muito impacto sobre a audiência conservadora pois ela própria é preconceituosa e refratária ao casamento gay, especialmente à adoção de crianças por gays, ele então distorce sutilmente a calhordice do Nunes para que pareça uma calhordice maior: agora é o Nunes que é um desalmado que em nome de seu ativismo conservador não se importa com o bem estar e o destino de duas pobres inocentes crianças...
É muito teatro e hipocrisia de ambas as partes e se nem os senhores céticos enxergam isso, imagine então a audiência típica da Jovem Pan.