Quando lhe cobro demonstração clara da literatura mediúnica que ampararia suas alegações, o que faz? Nada, apenas desconversa.
Muito bem, Sandro, agora você está de “A – parabéns”, gostei de ver, embora sua resposta não seja exatamente satisfatória, ao menos tentou embasar as alegações que faz sobre a notável deficiência visual dos mortos, que passo a comentar.
Antes, preciso lembrá-lo do seguinte: você vem se esforçando, a ponto de apostar todas as fichas, que mortos muito mal enxergam coisas na crosta, desta teriam apenas “impressões”. Sendo assim, testes que desafiem entidades comunicantes a ler alguma coisa seriam irrealizáveis, pois sendo cegos para a leitura nenhuma resposta podem produzir.
Entretanto, esquece que a verificação é adaptável para outras sensações, quais ouvir, cheirar... a respeito dessas não se manifesta. Apenas condena a sugestão que dei de os supostos mortos comunicantes lerem trecho de publicação postada longe das vistas humanas, como se ela fosse a única forma de realizar o experimento.
Mas, mesmo no quesito enxergar sua admirável tentativa de cegar os espíritos não se sustenta, conforme veremos a seguir.
Caro Moises, a parte problemática não está exatamente na sua busca, mas na forma materialista em que você e a maioria dos espíritas compreende as informações contidas na Codificação... Para melhor compreender esse ponto de vista, venho a colaborar sobre o tocante "visão".
Primeiramente, se eu (que não sou espírita) e maioria dos espíritas entendemos a codificação de um modo diverso do de sua compreensão, não seria o caso de verificar atenciosamente se sua leitura não estaria equivocada? Não estou a defender que valha a opinião da maioria, mas tem gente que estuda a doutrina muito atentamente, mesmo assim não consegue ver conforme sua pessoa...
Mas, sigamos, vamos ver se chegamos a porto seguro.
O que é a visão?
Uma coisa é correta a afirmar, é que a visão é um produto mental com base nos "inputs" gerados pelo nervo ocular, esse limitado a um campo de abrangência e restrito a captação dos fotos pelo olho.
Então pense como seria sua visão sem os olhos? Pense que essa produção mental de um ambiente ou lugar não tivesse esse sensor "olho", como você acha q veria as coisas?
Em termos gerais, quem não dispõe do sensor “olho” nada enxerga. Supõe-se que, na espiritualidade, concebendo que lá estejam almas conscientes e inteligentes, ocorra do mesmo modo, ou seja: havendo espírito destituído da capacidade enxergativa este nada enxergará.
Por outro lado, sabemos que os sentidos, que não a visão, desde que aguçados, podem prover “imagens” sensoriais do mundo externo. As cobras percebem o ambiente com a língua, os cães e outros “enxergam” mais com o olfato que com a visão, alguns seres “veem” pelo tato, pela audição...
Como estamos especulando sobre o mundo espiritual, podemos supor que se lá há espíritos visualmente prejudicados deve haver os que enxerguem muito bem, que tenham verdadeiros “olhos de águia”, que nem aqui os há...
Na mesma Codificação de Kardec que você alega, errônea e interpretadamente, a forma como eles tentam passar o fato da visão, fica claro lá que ele diz que os espiritos "vêem" não por um olho, mas por todo "seu corpo espiritual".. O que será que ele queria dizer?
Entendo que, segundo Kardec, os mortos enxergam muito melhor que os encarnados...
Infelizmente esse tema é complexo e a Codificação o aborda muito superficialmente, mas foi uma forma que fora explicada em 1860... Evoluímos muito de lá para cá...
Acho um tanto otimista demais falar em “evolução” no espiritismo: a codificação se mantém inalterada desde sua promulgação, mesmo Kardec tendo dito que se nela for detectado erro que se fique com o certo, e erros tem de montão.
Mas no que diz respeito aos sentidos dos espíritos Kardec deu informações suficientes para montar-se panorama claro do assunto.
Só posso dar a dica.. não vai pelo caminho do olho humano porque esse vai lhe levar ao fracasso em qualquer experiência, não importa o que você venha a ler em livros.
Tenho a impressão de que estou a ouvir: não importa o que lhe digam, importa o que EU lhe digo...
Posso lhe dar uma segunda dica, ela está no fato de que alguns sonhos (que acredito que ja tenha presenciado), você se vê ao mesmo tempo em primeira pessoa e simultaneamente em terceira pessoa, onde a visão não se trata de uma observação de um campo restrito, mas de um "ambiente virtual" criado pela própria mente ou pela captação da criação da mente alheia.
Correto, a visão no sonho ocorre num campo virtual, mas o que isso tem a ver com a discutida capacidade de os mortos enxergarem normalmente no mundo material?
Concordo com o Giga, Moises... Veja que mesmo que um médium reproduzisse tal feito exigido por você, isso não garantiria essencialmente que fosse um espirito... Se um médium conseguisse ler uma pagina de um livro primeiro teria que se esgotar alguma hipótese de fraude e inclusive de ação PSI, algo que cairia num rumo sem resposta..
Não me surpreende que você concorde com o Giga nesse ponto, que bem atende à negaça de requerer dos espíritos que se mostrem presentes nos entornos mediúnicos, surpreender-me-ia se o Giga dissesse que concorda com suas alegações.
Apelar para PES, como forma de desqualificar o experimento, supondo-se que o resultado fosse positivo, pois não se poderia definir o que estava em ação, se paranormalidade ou mediunidade, já disse que não cabe no projeto. Se existir essa “força” que se convencionou nominar “psi” ela é mui tênue, de ocorrência incerta e fora do controle que quem a possuísse. Já os espíritos estariam ao nosso derredor, sequiosos por comunicar, observando o ambiente e amplamente capazes de responder a testes de presença.
A suposição de que telepatia e clarividência pudessem explicar alguma coisa foi válida nos tempos pioneiros, quando os “fenômenos” pareciam ocorrer generosos e grandiosos. Presentemente não passam de titiquinhas, que podem ser postos de lado sem receios.
A melhor ideia ao longo da história não foi apenas testar leitura de espiritos, mas testar a capacidade de alguma inteligência que ia muito alem da possível pelo médium, ou seja, que ao se indagar um médium em transe, a resposta viesse condizente e coerente sobre algum tema que pudesse demonstrar que uma inteligência respondia no lugar daquela pessoa que fornecia a resposta.
Aqui sua linda pessoa cai no ponto que venho denunciando: a subjetividade. A alegação de que o médium acerta coisas as quais não poderia conhecer por via trivial (portanto haveria espírito em comunicação) ocasiona mais incerteza do que esclarecimento, e demanda investigação complexa (às vezes irrealizável) para conferir se havia meios de o sujeito obter o informe por aqui mesmo. Por esse caminho não se chega a conclusão satisfatória: céticos denunciam malandragens e espíritas defendem seus médiuns.
Mais uma vez, lembro-lho: a ideia não é a de “testar leitura de espiritos”, parece que tem certa dificuldade de entender esse ponto. A ideia é testar se "espíritos" respondem em verificação de presença (mesmo que depois se apurasse que os espíritas atiraram no que viram e acertaram outra coisa). Então, a sugestão de ler livro é uma, há diversas outras, se quiser posso lhe apresentar quantas pedir, seja envolvendo leituras, audição, cheiração...
Um bom caso sobre isso é o caso do acidente do dirigível R101, segue o link de uma matéria:
http://jornalcienciaespirita.spiritualist.one/o-desastre-do-dirigivel-r101-e-manifestacao-emocionada-de-seu-capitao-desencarnado/
Caro Sandro, essas histórias, no máximo, podem ser catalogadas como “curiosas”. Não funcionam como provas da mediunidade. Se servissem para tal, levando-se em conta o catatau de psicografias, psicofonias, psicopictografias já produzidas, não estaríamos cá a discutir modos de a comunicação ser comprovada, pois isso estaria constatado desde o século XIX. Conversaríamos sobre as maneiras mais eficientes de entrarmos em contato com nossos queridos que se foram antes de nós.
Se desde os tempos do “derramamento dos espíritos” verificação de presença fosse implementada não teríamos contemporaneamente, por exemplo, o Gigaview, objetando que o teste, mesmo que desse retorno satisfatório, não indicaria necessariamente a presença de um morto. Isso porque todas as variações explicativas já teriam sido avaliadas e a comunicação, se fosse real, estaria consolidade como conhecimento firme e utilitário.
Moises, para não responder ponto a ponto e não tornar essa conversa longa e cansativa, lhe passo algumas partes da Codificação (embora eu não gosto disso), onde Kardec indaga a varios médiuns e faz um resumo das respostas:
428. Qual a causa da clarividência sonambúlica [entenda médium em transe ou agindo fora do corpo]?
“Já o dissemos: É a alma que vê.”
429. Como pode o sonâmbulo ver através dos corpos opacos?
“Não há corpos opacos senão para os vossos grosseiros órgãos. Já precedentemente não dissemos que a matéria nenhum obstáculo oferece ao Espírito, que livremente a atravessa? Freqüentemente ouvis o sonâmbulo [entenda médium em transe ou agindo fora do corpo] dizer que vê pela fronte, pelo punho, etc., porque, achando-vos inteiramente presos à matéria, não compreendeis lhe seja possível ver sem o auxílio dos órgãos. Ele próprio, pelo desejo que manifestais, julga precisar dos órgãos. Se, porém, o deixásseis livre, compreenderia que vê por todas as partes do seu corpo, ou, melhor falando, que vê de fora do seu corpo.”
[...]
Aonde você entende alí que a visão é algo como a humana? Isso é o primeiro passo a você compreender.
Meu prezadio, alguém de nós quer encolher o ampliado, mesmo que a mensagem não o permita. O que Kardec assevera é que os sentidos, notadamente o da visão, no além é muito mais amplo que na Terra. Esse discurso não nega que o morto consiga ler, ao contrário, reforça a ideia, pois ele enxerga muito melhor que qualquer vivo. Se há alguma característica nessa “visão ampliada”, que impedisse a leitura de textos no orbe terrestre, não está noticiada.
Além disso, note que Kardec, no texto de seu exemplo, fala de sonâmbulos, ou seja, encarnados. Se examinar um pouco adiante dessa parte encontrará:
430 - Pois que a sua clarividência é a de sua alma ou de seu Espírito, por que é que o sonâmbulo não vê tudo e tantas vezes se engana?
“Primeiramente, aos Espíritos imperfeitos não é dado verem tudo e tudo saberem. Não ignoras que ainda partilham dos vossos erros e prejuízos. Depois, quando unidos à matéria, não gozam de todas as suas faculdades de Espírito. Deus outorgou ao homem a faculdade sonambúlica para fim útil e sério, não para que se informe do que não deva saber. Eis por que os sonâmbulos nem tudo podem dizer.”
Vou citar um parte de um artigo sobre os estudos do Reverendo Drayton Thomas, onde relata os estudos dele testando visão de espiritos.. Isso que você diz que existe ampla literatura que evidencia que espiritos podem ler livros eu desconheco.. existe sim alguma coisa, mas a forma como foi feita era muito passível de fraude.
Segue o trecho:
()...Thomas chegou a fazer alguns dos experimentos mais notáveis possíveis para se testar a fundo a real comunicação com os mortos, e isso incluía a leitura de livros fechados, deslocamentos do espirito para verificações em salas fechadas e a intermediação com outros espíritos.
No início Drayton optava pela hipótese PSI como a que melhor explicava o fenômeno, isto é, de que a médium lia sua mente e que muitos dos dados fornecidos vinham por meio de clarividência. Mas isso começou a mudar quando seu falecido pai, supostamente, vinha a se comuni- car por meio da mentora de Osborne. Em várias passagens o falecido pai lhe apontava e demonstrava que viera a se comunicar como uma missão de ajuda e que os métodos científicos utilizados eram elaborados por espíritos de um grau mais elevado.
[...]
Discutir o trabalho de Drayton Thomas pediria tópico exclusivo. Posso lhe adiantar que o sujeito depois que se converteu seu trabalho cuidou de aferir até onde a mediunidade de Gladys podia ir. Ele não questionava se espíritos estavam ou não presentes, disso tinha a mais traquila das certezas, queria apenas mensurar a extensão dos poderes da médium. Mesmo os testes de leitura, que seriam ótimos indicadores de uma possível comunicação, não foram realizados de forma a suprir respostas consistentes. Thomas esteve sempre ao comando de Osborne, era ela quem ditava o que poderia fazer e como faria. Impossível conferir adequadamente os passos do experimento e ver se fora todo ele feito em corretas condições. O que salta aos olhos é que Gladys Osborne nunca era precisa em suas revelações, essas imprecisões apontam para uma aprimorada técnica de leitura fria (às vezes quente), que o ingênuo Thomas engulia alegremente. Já os espiritualistas defendem que as informações vagas, quase sempre propondo vários caminhos, mostram a dificuldade de o contato entre os mundos se firmar adequadamente. Pode até ser, mas pode bem ser demonstração da malandragem da moça...
Fora isso tem muita coisa ainda, mas não caberia ficar citando aqui pois não é o objetivo do tópico e não pretendo convencer ninguém..
Oh, que meigo, então não quer convencer ninguém? Claro que quer, por isso está, com todo direito, a defender seu ponto de vista. Respeito-o por isso, mas não diga que não quer me convencer... eu quero sim convencê-lo, com argumentos...
Vejamos agora, já que tanto falamos de miopia dos espíritos, vários trechos, de autores variados que contestam sua tese.
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Um jovem que freqüenta nossa casa, doutor em Física, queria saber como um espírito desencarnado, revestido de seu perispírito, consegue ver, ouvir e cheirar o mundo material. “De acordo com a Terceira Lei de Newton, não há jeito de interagir sem sofrer também interação. Assim, se um espírito desencarnado precisa de ectoplasma para atuar na matéria, ele também precisaria de ectoplasma para sentir influência da mesma. Por isso, gostaria de saber: como um espírito desencarnado consegue atravessar uma parede sem resistência nenhuma e é capaz de sentir as vibrações mecânicas de moléculas de nitrogênio e oxigênio do ar, isto é, o som? Como um espírito desencarnado é invisível aos encarnados, isto é, a luz material o atravessa sem se atenuar, refletir, e, ainda sim, esse espírito desencarnado usa essa luz para enxergar objetos, mesas, etc.? (Ivanete Silvestre, Campo Grande - MS)
Cara Ivanete,
O ectoplasma é fornecido pelos médiuns ou pessoas encarnadas que têm facilidade em intermediar fenômenos físicos. Os espíritos utilizam esse elemento, que constitui o duplo etérico, ou corpo vital, para poder enxergar ou sentir as coisas da matéria. Lembro que o duplo etérico, ou corpo vital, ou fluido vital, faz parte do perispírito, somente enquanto a alma está encarnada. Seria bom reler O Livro dos Médiuns, sobretudo a parte referente aos fenômenos de efeitos físicos, na qual Kardec fala sobre o laboratório do invisível e explica o fenômeno das mesas girantes. Recomendo, também, os livros de André Luiz, especialmente Nos Domínios da Mediunidade, Missionários da Luz e Mecanismos da Mediunidade. Há, neles, explicações importantes sobre este assunto.
Marlene Nobre, presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil
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257 - “Dizendo que os Espíritos são inacessíveis às impressões da matéria que conhecemos, referimo-nos aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não encontra analogia neste mundo. Outro tanto não acontece com os de perispírito mais denso, os quais percebem os nossos sons e odores, não, porém, apenas por uma parte limitada de suas individualidades, conforme lhes sucedia quando vivos. Pode-se dizer que, neles, as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o ser e lhes chegam assim ao sensorium commune, que é o próprio Espírito, embora de modo diverso e talvez, também, dando uma impressão diferente, o que modifica a percepção. Eles ouvem o som da nossa voz, entretanto nos compreendem sem o auxílio da palavra, somente pela transmissão do pensamento. Em apoio do que dizemos há o fato de que essa penetração é tanto mais fácil, quanto mais desmaterializado está o Espírito. Pelo que concerne à vista, essa, para o Espírito, independe da luz, qual a temos. A faculdade de ver é um atributo essencial da alma, para quem a obscuridade não existe. É, contudo, mais extensa, mais penetrante nas mais purificadas. A alma, ou o Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Estas, na vida corpórea, se obliteram pela grosseria dos órgãos do corpo; na vida extracorpórea, se vão desanuviando, à proporção que o invólucro semi-material se eteriza.”
(LIVRO DOS ESPÍRITOS)
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“Já na questão 245, Parte Segunda, Cap. VI de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta aos espíritos se a visão do espírito é circunscrita como quando estamos encarnados, ou seja, se a visão se limita somente ao que os olhos podem alcançar.
Os espíritos respondem então que a visão quando estamos desencarnados, em espírito, está em todo o ser. Na sequência esclarecem que nem sequer precisam de luz para ver, exceto quando na condição de expiação (quando o espírito sofre pelo mal que tenha praticado).
Tentando entender um pouco mais a relevância deste assunto, imaginemos a possibilidade de uma visão em 360º, ou seja, de abrangermos praticamente tudo em nossa volta e não somente até onde o ângulo de visão que nossos olhos humanos alcançam. Isso por si só não é maravilhoso? Mais ainda do que ver tudo ao redor, seja à frente ou à retaguarda, é a possibilidade de na condição de espírito, ver em mais de um ponto ao mesmo tempo.”
http://espiritismofacil.com.br/a-vida-do-espirito/-4-
“Várias experiências mostraram-me que o homem, ao entrar no mundo dos espíritos após a morte, leva consigo tudo o que lhe pertencia na Terra, exceto seu corpo. Quando o homem entra no mundo espiritual, ele possui um corpo igual àquele que lhe servira na Terra, sem qualquer diferença aparente. Entretanto, esse corpo é espiritual, e, por isso, está separado e purificado das coisas terrestres.
O espírito pode ver e tocar a substância espiritual, como o homem natural faz em relação às coisas naturais. Disso resulta que o homem, ao tornar-se espírito, imagina que ainda está no corpo que possuía na Terra e, em conseqüência, não sabe que morreu. O espírito goza de todos os sentidos internos e externos que possuía na Terra: vê, escuta e fala, como fazia antes. Também possui paladar e olfato, e sente pelo tato. Possui inclinações, formula desejos, pensa, raciocina, ama e vê tal como antes.”
(“O Mundo dos Espíritos - Segundo o que lá foi ouvido e visto” - Swedenborg)
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As vozes das pessoas que entram e saem são abafadas. Parece que houve algum engano terrível, pois eles parecem estar chorando a morte dele, e ele lá está, esperando para lhes mostrar os melhores peixes que já pescou na vida. [...]
“Ele fica desconcertado. Por que todo mundo está agindo de maneira tão estranha e se recusa a falar com ele?
[...] Nesse ponto ele exclama: Parece até que estou morto e ao dizer isso ele se encontra de novo na colina verdejante à margem do regato. Mas desta vez há ali outras pessoas admirando a paisagem. Meio receoso de ser ignorado como tinha sido pela família, murmura um alô tímido e instantaneamente eles o cercam com o calor da amizade. Perguntam sobre os peixes que ele pescou, se gosta da vista e de onde ele veio.
“Ele lhes diz que não sabe onde deixou o carro e um deles diz que ele não vai mais precisar dele, pois pode ir aonde quiser só pelo simples desejo de lá estar. Isso o intriga de tal modo que ele cai num torpor profundo. Quando por fim ele desperta, as pessoas se foram, menos um homem com uma longa barba branca que diz: Filho, já está na hora de começar as aulas.
“Aulas? exclama ele. Acabei com as aulas há muito tempo, e certamente o senhor também.
“Mas um tipo diferente de aulas, meu filho, continua o velho. Esta é a verdadeira escola onde nos ensinam como recordar, como esquecer e o que saber sem aprender.
“O homem fica muito intrigado, mas segue o velho até a uma escola onde estão sentados vários outros estranhos, numa espécie de sala de aula. Um deles parece um advogado que ele conheceu no Lions Club, mas como ele tinha morrido havia uma ou duas semanas, devia ser engano. [...]
O velho diz devagar: Escute bem, filho, pois esta é uma das lições mais importantes que você aprenderá. [...]
Aceite simplesmente que, por enquanto sua família e seus amigos não poderão ver e conversar com você, embora você possa vê-los e conversar com eles. Isso prova que você está mais vivo do que eles, pois suas faculdades são tão maiores agora que você deixou o seu corpo. Mas no momento eles não o verão e pensarão em você como estando debaixo da terra. Uma pena. . . mas é daí que você vai começar na lição, amanhã ”.
(A VIDA NO ALÉM-TÚMULO – Ruth Montgomery – “Impressionante Mensagem de Além-Túmulo do Eminente Médium Arthur Ford)
-6-
REGRESSANDO A CASA
Imitando a criança que se conduz pelos passos dos benfeitores, cheguei à minha cidade, com a sensação indescritível do viajante que torna ao berço natal depois de longa ausência.
Sim, a paisagem não se modificara de maneira sensível. As velhas árvores do bairro, o mar, o mesmo céu, o mesmo perfume errante. Embriagado de alegria, não mais notei a expressão fisionômica da senhora Laura, que denunciava extrema preocupação, e despedi-me da pequena caravana, que seguiria adiante.
Clarêncio abraçou-me e falou:
- Você tem uma semana ao seu dispor. Passarei aqui diariamente para revê-lo, atento aos cuidados que devo consagrar aos problemas da reencarnação de nossa irmã. Se quiser ir a "Nosso Lar", aproveitará minha companhia. Passe bem, André!
[...]
Não me demorei a examinar pormenores. Atravessei celeremente algumas ruas, a caminho de casa. O coração me batia descompassado, à medida que me aproximava do grande portão de entrada. O vento, como outrora, sussurrava carícias no arvoredo do pequeno parque. Desabrochavam azáleas e rosas, saudando a luz primaveril. Em frente ao pórtico, ostentava-se, garbosa, a palmeira que, com Zélia, eu havia plantado no primeiro aniversário de casamento.
Ébrio de felicidade, avancei para o interior. Tudo, porém, denotava diferenças enormes. Onde estariam os velhos móveis de jacarandá? E o grande retrato onde, com a esposa e os filhinhos, formávamos gracioso grupo? Alguma coisa me oprimia ansiosamente. Que teria acontecido? Comecei a cambalear de emoção. Dirigi-me à sala de jantar, onde vi a filhinha mais nova, transformada em jovem casadoura. E, quase no mesmo instante, vi Zélia que saía do quarto, acompanhando um cavalheiro que me pareceu médico, à primeira vista.
- [...]
Zélia chorava e torcia as mãos, demonstrando imensa angústia.
Um corisco não me fulminaria com tamanha violência. Outro homem se apossara do meu lar. A esposa me esquecera. A casa não mais me pertencia. Valia a pena de ter esperado tanto para colher semelhantes desilusões? Corri ao meu quarto, verificando que outro mobiliário existia na alcova espaçosa. No leito, estava um homem de idade madura, evidenciando melindroso estado de saúde. Ao lado dele, três figuras negras iam e vinham, mostrando-se interessadas em lhe agravar os padecimentos.
[...]
Assentei-me, decepcionado e acabrunhado, vendo Zélia entrar no aposento e dele sair, varias vezes, acariciando o enfermo com a ternura que me coubera noutros tempos, e, depois de algumas horas de amarga observação e meditação, voltei, cambaleante, à sala de jantar, onde encontrei as filhas conversando. Sucediam-se as surpresas. A mais velha casara-se e tinha ao colo o filhinho. E meu filho? Onde estaria ele?
- [...]
A filha mais jovem interveio, acrescentando:
- Desde que a pobre mana começou a se interessar pelo maldito Espiritismo, vive com essas tolices na cachola. Onde já se viu tal disparate? Essa história dos mortos voltarem é o cúmulo dos absurdos.
- [...]
Aproximei-me da filha chorosa e estanquei-lhe o pranto, murmurando palavras de encorajamento e consolação, que ela não registrou auditiva, mas subjetivamente, sob a feição de pensamentos confortadores.
[...]
Então, em face da realidade, absolutamente só no testemunho, comecei a ponderar o alcance da recomendação evangélica e refleti com mais serenidade. Afinal de contas, por que condenar o procedimento de Zélia? E se fosse eu o viúvo na Terra? Teria, acaso, suportado a prolongada solidão? Não teria recorrido a mil pretex- tos para justificar novo consórcio? E o pobre enfermo? Como e por que odiá-lo? Não era também meu irmão na Casa de Nosso Pai? Não estaria o lar, talvez, em piores condições, se Zélia não lhe houvesse aceitado a aliança afetiva? Preciso era, pois, lutar contra o egoísmo feroz. Jesus conduzira-me a outras fontes. Não podia proceder como homem da Terra. Minha família não era, apenas, uma esposa e três filhos na Terra. Era, sim, constituída de centenas de enfermos nas Câmaras de Retificação e estendia- se, agora, à comunidade universal. Dominado de novos pensamentos, senti que a linfa do verdadeiro amor começava a brotar das feridas benéficas que a realidade me abrira no coração.
(Nosso Lar – C. Xavier)