Falei que extremamente poroso seria como um balde furado, errei, ficaria melhor: “como um balde sem fundo”...
Meu caro Montalvão; a isso eu chamo "mimetismo retórico'. O máximo de alguma coisa, sim, desde que não perca a condição básica, ser poroso. Um balde jamais seria poroso ao máximo.
Isso é o que chamo de espantalho. Não falei que um balde fosse poroso, preste atenção: “extremamente poroso seria COMO um balde sem fundo, passa tudo, não retém nada”
Por que um véu seria extremamente poroso, já que um coador com buracões seria muito mais?
Observe que eu dei exemplos que se encaixariam, mas não disse que era o único ou o que mais se adequava.
O que não percebe, seja por não querer ou por desatenção, é que tais expressões (extremamente, incontáveis, etc.) são de difícil mensuração: não devem (nunca) serem usadas em definições.
É comum o uso desleixado de palavras, sem atinar-se se estão aplicadas condizentemente. Já ouvi quem dissesse: “fulano é extremamente pontual”! Pô, o que significa isso? Alguém que chega ao compromisso nanossegundamente na hora?
Não, meu caro; mas a alguém que excepcionalmente se atrasa. Principalmente se considerarmos que de modo geral nós excepcionalmente somos pontuais. Viu? Isto é um termo de comparação que privilegia a objetividade e não o rigorismo semântico.
Quem raramente se atrasa é pontual, quem o faz frequentemente é impontual ou imerecedor de confiança. Desnecessário “extremalizar” os conceitos. Mui dificilmente expressões tais, qual o extremamente, privilegiariam a objetividade.
Nenhum outro livro espírita, mesmo que voltado para as elites, se assemelha à “Evolução”, aquilo foi um xou de vaidade da dupla Chico/Waldo.
Juízo de valor, meu caro?
Qual seria o “Juízo de valor”, a vaidade da dupla ou a insolitez da obra? Seja o que for, ambos são facilmente demonstráveis. Em torno de Chico construíram-se muitas “fraudes pias”, dentro da concepção de que se tratava de enviado especial da espiritualidade. Então, temos, por exemplo, o Chico iletrado, mesmo assim capaz de psicografar mais de 400 obras, incluindo o para alguns complexo, para outros confuso, para outros um saco, Evolução em Dois Mundos. Outro exemplo, o Chico abençoado que, em leito de hospital, recebe a visita do inexistente Emmanuel e de sua mãe, sob a forma de fachos luminosos...
Chico era desapegado de bens materiais, isso é verdade, seus valores eram outros. Envaidecia-se ante a glória de ser arauto da espiritualidade, um Kardec nacional, a trazer consolo a corações aflitos, o grande mediador do século entre mortos e vivos...
Mesmo que fosse como diz: obra voltada para as elites, tal não altera o fato de que a maioria, nem ferrenhos seguidores de Chico, entenderam o que Evolução em Dois Mundos quis noticiar...
Não, Montalvão, eu não disse que era voltado para as elites; apenas destaquei que tendo a DE surgido e se disseminado historicamente entre as elites, então tal livro teria, hoje, um público ao qual seria útil.
Se o livro tem ou teria “público ao qual seria útil”, esse público ainda não se consubstanciou...
Mais um esclarecimento, que é muito divulgado e nada tem de verdadeiro: André Luiz não foi médico sanitarista, nem CChagas, nem OCruz. Era um clínico geral e sem grande destaque no meio médico.
Luciano dos Anjos concorda com você: nem Chagas, nem Cruz, A.L. fora, sim, Faustino Esposel!
O fato é que, na seara espírita, há defensores acerbos das várias opções disponíveis, inclusive quem garanta seu prestígio que recebera do próprio Chico a informação. A verdade verdadeira é que A.Luiz foi lucubração da fértil e doentia mente xaveriana, do mesmo modo que Emmanuel...
Nesse caso, não se trata nem de afirmações cientificamente aceitáveis quando foram escritas, mas superadas mais tarde. Mesmo em 1959, não passavam de mal-entendidos típicos de leigos com conhecimento superficial de biologia e evolução. Os dinossauros não são “lacertinos” (lagartos) e mesmo no século XIX, quando a origem das aves ainda era controvertida, sabia-se que elas não descendiam dos pterossauros (seus ancestrais eram dinossauros carnívoros bípedes, da sub-ordem dos terópodes). Os primeiros mamíferos surgiram muito antes da época “supracretácea” (ou seja, o Cenozóico): são quase tão antigos quanto os primeiros dinossauros e isso é sabido desde fins do século XIX.
Aqui, os menos avisados pedem perdão e saem da sala:
No prefácio da obra o autor esclarece que as informações científicas ali relacionadas se baseiam nos conhecimentos dos sábios da época. Nenhuma revelação nesta área.
Por isto que é bom ler-se o livro, antes.
O que Chico/Waldo fizeram foi uma pedante exibição de conhecimento, arrimado em linguajar tão rebuscado quem especialistas na área ousariam. Se fossem mais humildes nessa questão produziriam versão popular da obra, tornando-a palatável ao grande público.
Agora, se a espiritualidade, na pessoa de A.L. se esmerou em produzir aquela maçaroca de considerações nebulosas, que apenas espelha, de uma maneira exótica, discutível erudição, sem acrescentar nada de útil ao conhecimento disponível, e ainda cometendo erros crassos, pergunta-se: pra que tanto trabalho pra nada? Para qual público uma obra assim, tão sem sentido, seria útil?
E, não esqueça que os “espritos” superiores bagunçaram o coreto científico de Kardec, ao noticiar-lhe da pluralidade dos mundos habitados, dos marcianos trogloditas, da casa de Mozart em Júpiter, dos habitantes da lua, do espírito que se desgruda do corpo durante o sono, do magnetismo animal...
No meio espírita, particularmente entre os menos estudiosos e mais críticos (que por ali também sobeja) isto é sempre lembrado.
Sempre lembrado e sempre não levado em consideração. O fato é que do exame sério dessas falhanças eclode, no mínimo, a suspeita de que mortos não comunicam, por isso quando acontece de a questão ser ventilada é abordada superficialmente.
No entanto o pp AKardec dá, permita dizê-lo, a mão à palmatória desde os prolegômenos do LEspíritos, quando esclarece que, se o texto se referir a uma opinião pessoal, viria em corpo de letra diferente para não ser confundido com as respostas dos Espíritos.
As falhas na doutrina dos espíritos estão tanto nas considerações pessoais (o codificador era mau intérprete do que teria ouvido dos espíritos), quanto nos recados diretos da espiritualidade: os marcianos rudes foram falados pelos espíritos; a pluralidade dos mundos habitados, idem; a alma fora do corpo no sono, do mesmo modo...
As principais incongruências da obra, embora não sejam tantas se deve à personalidade voluntariosa de Kardec, mas facilmente detectadas pelo formato do texto.
Outro ponto em que os Espíritos da Codificação foram rigorosos é no que diz respeito às revelações científicas. A DE não veio trazer os avanços tão aguardados da Ciência, sim auxiliar a humanidade em ser progresso moral. No entanto, quando o esclarecimento com este objetivo é imprescindível, não se negam à cooperação. André Luiz e Emmanuel, p.ex. não se prestam exclusivamente aos ensinamentos do Evangelho.
A guisa de ilustração, poderia citar apoios efetivos da espiritualidade ao conhecimento humano? Seja nas ciências ou na filosofia.
Interessante que o neuro cirurgião Nubor Facure, professor emérito da Unicamp participa juntamente com vários médicos de renome de uma Boletim Médico Espírita, (o de no. 9) de SPaulo, comentando capítulo por capítulo aquele livro.
Pequenas imprecisões surgem, mesmo porque existe sempre a questão da interpretação. No mais, ressaltam a importância e o conteúdo, que não traz grandes inovações no campo da ciência mas mostra a interação entre estes dois campos, ao longo da evolução do Princípio Espiritual (Mônada).
Parece que o citado boletim é vendido. Entrei no site da AME e não vi disponibilidade do material...
Tenho um livro do Nubor, que ainda não pude ler (está na fila): “O Cérebro e a Mente – Uma Conexão Espiritual”.
As experiências publicadas por membros da AME, que conheço, são todas fraquinhas. Uma “prova” cientificamente a mediunidade de Chico, outra exalta os “poderes” de João de Deus. Mais uma (se não me engano, também veio da AME) diz que a medicina reconhece a mediunidade... Mesmo assim, gostaria de avaliar esse trabalho de Facure, para não ter que opinar sem exame... De antemão adianto que, sabendo-se ser a abordagem do médico calcada nos ensinos kardecistas-chiquitistas, e, sabendo-se que o espiritismo tem muito pouco (mais precisamente nada) de útil a dizer sobre a mente e o cérebro, não se pode esperar muito de apreciável em trabalhos dessa natureza.
Respeito o espiritismo como religião, pois, qual a maioria delas, propõe a elevação moral de seus seguidores. Entretanto, como “força” real de ação da espiritualidade na natureza carece de fundamentos...