Alguém falar "a imprensa mentirosa contra Trump" soa bastante como aquelas de "a nomenklatura darwinista", "o PiG". Com focos como a fraude do homem de Piltdown, ou no crime de violação de privacidade em grampos ajudando a substanciar um crime incomparavelmente maior.
Você sabe que a pessoa vive numa realidade paralela, bem fechada, bem vedada, e cuidadosamente construída.
É mentira que a maioria dos grandes veículos de imprensa apoiou Hillary e nem procuravam disfarçar esse apoio?
Não, mas isso em si não faz da imprensa mentirosa.
Mas a faz enviesada, logo menos confiável como fonte de informações imparciais sobre o cenário político. Pode fazer com que a mesma trate opiniões como fatos (e vice-versa), induzindo a audiência ao erro.
E nem é preciso mentir (no sentido estrito) para deturpar uma informação via edição ou seleção, favorecendo um dos lados.
O pecado deles foi a falta de sutileza em sua cruzada anti-Trump. Deixou o povo desconfiado e se sentindo manipulado.
Não sei, acho complicado. Talvez seja argumentável até terem sido sutis demais em alguns casos. O apresentador do TYT comentou que antes os noticiários costumavam apenas ter manchetes como "Bush afirma que", e o texto apenas explicar que isso não condizia com os fatos. Já com Trump, estão se vendo na obrigação de ter que sintetizar já na manchete que o que Trump afirma não condiz com os fatos.
Ainda tem o problema das pessoas tenderem a sentir haver uma perseguição só por não haver uma "imparcialidade jornalística" que artificialmente tenta colocar como equivalentes todos os lados de uma questão.
Mas, tendo dito isso, boa parte da mídia também deve ter sido seletiva na forma como abordava Hillary. Apesar disso ser mais do que compensado pelas fake news e mesmo por Sanderistas que viraram cripto-Trumpistas, como Glenn Greenwald.
Acho que o "pecado" maior deles (não lembrando agora de qualquer desonestidade mais imperdoável contra Trump ou pró-Hillary) foi escolherem noticiar como propaganda algo que praticamente apenas servia para reforçar a posição anti-Trump de quem já era anti-Trump, como toda a coisa do pussy-grab-gate. O que é bem capaz de ter
aumentado seu apelo entre os MRAs/alt-righters!
Deveriam ter dado maior foco em coisas como o esquema de fraudes da "universidade" Trump e como eles praticamente instruiam para passar a perna e vender a a coisa por mais pobre que o interessado fosse, que talvez fosse algo que afetasse mais os eleitores de Trump.
É mentira que a maioria dos grandes veículos de imprensa afirmava que Hillary ia ganhar fácil, e já estava em clima de já ganhou?
Não, mas novamente, não é "mentira" a pesquisa de intenção de votos falhar, até porque nem teria falhado, se considerado o voto popular.
A pesquisa de intenção de votos é feita por estado, levando em conta o processo eleitoral de lá (se assim não fosse, seria tão útil quanto decidir na moeda). E nessa pesquisa era dito de forma convicta que Hillary teria mais delegados e ganharia fácil a eleição.
Dizer que a pesquisa não teria falhado se levassem em conta o total absoluto de votos faz tanto sentido e é tão útil quanto dizer que o Vasco seria campeão brasileiro em 2011 se não existisse a regra do impedimento.
O problema aparentemente foi de dificuldade de prever a coisa através de pesquisa, não mentira:
http://www.telegraph.co.uk/news/2016/11/09/how-wrong-were-the-polls-in-predicting-the-us-election/
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On the morning of the election, the Telegraph's electoral college vote tracker showed that Clinton was predicted to win 206 electoral college votes while Trump was expected to get 164. The remaining 168 were toss-ups from states like Florida, Ohio and Pennsylvania that were too close to call.
This compared to a final result of Trump gaining 306 electoral votes compared to Clinton's 232.
This is because he managed to claim crucial swing states such as Iowa, Ohio, Florida, North Carolina, Michigan and Pennsylvania, jumping through the all the loops that pollsters claimed were so small.
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Talvez até a "certeza" da vitória de Hillary desincentivasse os eleitores a irem votar (isso conta para os "eleitores definitivos", ou esses tem uma obrigação?), enquanto que a necessidade de "lutar" pela vitória para os trumpistas incentivasse a votar.
http://www.telegraph.co.uk/news/2016/11/09/how-wrong-were-the-polls-in-predicting-the-us-election/
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According to IBD/TIPP data Mr Trump does better than Ms Clinton among men (48 per cent to 34 per cent), lower income voters (48 per cent to 35 per cent), rural voters (60 per cent to 22 per cent), and those who identify as religious.
Ms Clinton beats Mr Trump with women (46 per cent to 38 per cent), voters aged 18 to 44 (41 per cent to 34 per cent), the wealthy (47 per cent to 38 per cent), and investors (48 per cent to 38 per cent).
Ms Clinton has been described by US media as acting as if the presidential race is all but won, while Mr Trump himself admitted it was his “last chance”.
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Why was this the case?
It looks as though polling in these swing states failed to see just how many white working class people - the core of Trump's support - would turn out to push him over the line.
Analysis shows the the higher the proportion of lower-educated white people in a particular state, the higher the polling gap was in favour of Trump.
Non-college educated white people make up 41.2 per cent of Indiana's population, for example. The polling gap here was 8.6 percentage points - with the polls giving an average 10.7 point lead to Trump, compared to the actual 19.3 point lead he managed.
Wisconsin - a crucial state that swung to Trump to give him the last 10 electoral college votes he needed - has 35.7 per cent of its people as non-college educated white people.
There was a huge 7.4 percentage point gap between the polls and the result here: the average polling on Real Clear Politics before the vote had Clinton winning by 6.5 percentage points, when in fact Trump claimed the state by 0.9 points.
In the chart below, which excludes states which have insufficient polling data, we can see how the more non-educated white people there are in a state, the higher the polling gap. Positive polling gap numbers mean Trump did better than the polls expected - ranging from 8.6 points better in Utah and Indiana, to 5.9 points worse in the Democrat stronghold of California.
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Talvez fenômenos similares expliquem a vitória de Dilma também, parece bem o mesmo perfil, tirando o aspecto racial e invertendo o sexual.