Autor Tópico: Governo Dória em São Paulo  (Lida 26021 vezes)

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Offline _Juca_

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #550 Online: 01 de Junho de 2017, 11:52:15 »
Algo com resultado prático zero não é algo como "é eu que digo". A não ser que a ideia fosse ir todo o dia perguntar e, depois que o viciado morrer, contabilizar como ponto da "política de insistência".

Velho é uma opinião pessoal sua. Eu prefiro ficar com opiniões de gente realmente embasada.

Tratamento obrigatório para viciados em crack é ação 'ridícula', diz neurocientista americano



E a opinião dele não tem nada a ver com o que estamos discutindo. Você que está imaginando uma falsa dicotomia.

Sério? Estamos discutindo o que aqui senão formas de intervenções para o problema das drogas? Agora ficou confuso.  :hein:

Como você ajuda alguém que não quer ser ajudado? Foi a minha pergunta a você que começou essa conversa.

Você não conseguiu me convencer que insistência era uma política séria e, por algum motivo, citou um neurocientista que afirma que tratamento obrigatório é ridículo. Eu nem toquei nesse assunto.

Eu respondi, insistindo.
 E maneiras de insistir são, mão largando nunca a pessoa sozinha com seus problemas, tendo empatia, compaixão, dando alternativas viáveis, sempre que a pessoa recair estando ao seu lado para ajudar, dando apoio emocional, material, psiquiátrico, etc, etc, etc... mesmo que a pessoa não quiser ajuda, sempre tendo alguém ali disposto a ajudar. É assim que se ajuda alguém que não quer ajuda, mas precisa de ajuda. Haverá casos insolúveis, haverá casos de sucesso e qualquer caso de sucesso, já vale a insistência.

Juca, eu perguntei o que o governo pode fazer pra ajudar quem não quer ser ajudado, não o que a família pode fazer.

O mesmo que a família, insistir o máximo para a recuperação da pessoa. Não é um problema que se resolve a curto prazo, é um problema crônico que requer planejamento e ações no médio e longo prazo. É um problema grave de saúde pública e assim deve ser tratado. Não deveria nunca ser um caso de polícia.

Offline _Juca_

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #551 Online: 01 de Junho de 2017, 11:55:50 »

Eu tô curioso, _Juca_, pra saber de você o que deve ser feito a respeito do tráfico e dos traficantes. Tem sugestões?

Tenho, descriminalizar e regular o uso e o comércio de drogas hoje ilícitas.

Offline Skeptikós

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #552 Online: 01 de Junho de 2017, 12:12:48 »

Eu tô curioso, _Juca_, pra saber de você o que deve ser feito a respeito do tráfico e dos traficantes. Tem sugestões?

Tenho, descriminalizar e regular o uso e o comércio de drogas hoje ilícitas.
Todas, incluindo metanfentaminas?
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline Johnny Cash

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #553 Online: 01 de Junho de 2017, 12:31:13 »

Eu tô curioso, _Juca_, pra saber de você o que deve ser feito a respeito do tráfico e dos traficantes. Tem sugestões?

Tenho, descriminalizar e regular o uso e o comércio de drogas hoje ilícitas.

Eu sou pró-legalização, mas a cracolândia se resolveria dessa forma? As atividades criminosas da cracolândia se extinguiriam com a descriminalização da posse e venda do crack? Tenho dúvidas sobre isso.

Talvez dê pra traçar um paralelo com alguns butecos "copo-sujo" (espécie de alcoolândias), que vendem cachaça barata a centavos, que acabam criando um ambiente violento/criminoso por abuso das substâncias de forma dependente mas ainda assim são bem menos feios ou concentrados do que a cracolândia. Dessa forma eu acho que a solução contém a revisão das leis relacionadas, mas não está totalmente ligada a isso.

Offline Gaúcho

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #554 Online: 01 de Junho de 2017, 15:20:02 »
Algo com resultado prático zero não é algo como "é eu que digo". A não ser que a ideia fosse ir todo o dia perguntar e, depois que o viciado morrer, contabilizar como ponto da "política de insistência".

Velho é uma opinião pessoal sua. Eu prefiro ficar com opiniões de gente realmente embasada.

Tratamento obrigatório para viciados em crack é ação 'ridícula', diz neurocientista americano

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É hipocrisia criticar ação policial sem conhecer a realidade da cracolândia, diz psicóloga

A psicóloga Clarice Madruga, de 39 anos, conhece bem o cotidiano da cracolândia de São Paulo. Nos últimos cinco anos, atuou na capacitação de equipes do governo estadual que atuam na região e coordenou pesquisas que traçaram o perfil dos usuários de drogas da área.

Para ela, há "hipocrisia" em algumas críticas à operação policial de combate ao tráfico que na semana passada dispersou usuários e o "feirão da droga" que funcionava no local.

"É uma hipocrisia. As pessoas de repente discutem direitos humanos em relação a uma ação da polícia, mas do crime ninguém fala. Como se a cracolândia fosse um parque de diversões: estavam todos brincando de roda quando chegou uma operação maligna", afirma a pesquisadora e pós-graduanda do departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Madruga diz que "todos os direitos humanos possíveis e imagináveis" já estavam sendo desrespeitados com a ação de traficantes que, segundo ela, dominam com "tirania" os dependentes químicos na região.

"Vi crianças sendo espancadas, com braço e perna quebrados, porque não seguiram alguma regra. Vi usuário vindo à tenda (do programa Recomeço, estadual) para pedir intervenção e ser esfaqueado lá dentro porque estava devendo", conta Madruga, para quem a violência desses grupos recrudesceu neste ano.

Nesta semana, a BBC Brasil publicou entrevista com o neurocientista Carl Hart, professor da Universidade de Columbia (EUA) que estuda drogas há 20 anos e já visitou o Brasil e a cracolândia de São Paulo. Hart avaliou a ação policial como prova de "falta de compaixão" dos governos municipal e estadual, que estariam "fazendo política com pessoas".

Para Clarice Madruga, que tem mestrado em neurociências e em psicologia com ênfase em dependência química, é preciso ver o que ocorrerá daqui em diante para julgar o sucesso da ação policial, que ela considerava inevitável.

"Claro que é ruim ter que fazer esse tipo de operação. Óbvio que é preciso ter agentes de saúde e assistência social antes de considerar aquilo como problema de polícia, mas da forma como estava não vejo outra alternativa para tentar quebrar aquele ciclo", diz ela, lembrando que a ação da polícia ocorreu sem confrontos e feridos graves, diferentemente de intervenções no passado recente.

"Uma ação que claro que é desrespeitosa, é a polícia. Não acompanhei a operação, sei que foram truculentos, que houve desrespeito, mas ninguém fala dos absurdos que estavam ocorrendo lá. É chocante pensar que foi preciso chegar onde chegou. Aquelas cenas (da ação policial) que para todo mundo são chocantes, de fato são, mas chocam menos que as cenas vividas dentro da cracolândia", completa.

'Erros da prefeitura'

Apesar de rebater críticas à operação policial, a professora diz ver equívocos nas políticas anticrack da gestão João Doria (PSDB), sobretudo no pedido à Justiça, feito nesta semana, de autorização para fazer internações contra a vontade dos dependentes químicos.

Para ela, o erro está na solicitação, feita por Doria, de uma espécie de autorização coletiva, sem necessidade de análise individual pelo Judiciário. Atualmente, cada caso de internação compulsória deve ser respaldado por laudo médico e autorizado de modo individualizado pela Justiça.

"Ninguém em sã consciência pode concordar com isso. Duvido que (o prefeito) consiga levar isso adiante, haverá todo tipo de bloqueio", afirma. Ministério Público de São Paulo, por exemplo, já declarou que o pedido de Doria pode motivar uma "caçada humana".

A divulgação da intenção da prefeitura de internar viciados contra à vontade, segundo ela, também já prejudica a situação das equipes que estão em campo tentando acolher os dependentes que se dispersaram, que ficaram mais arredios. "É terrível que tenha sido falado de internação em massa, porque isso boicotou as tentativas de abordagem social, de acolhimento."

"Sou absolutamente contrária a essa ideia e espero que prevaleça o trabalho preventivo de reinserção social tão necessário para que a coisa funcione", afirma Madruga.

A Prefeitura de São Paulo diz que o pedido de internação é "apenas mais um instrumento para atender às pessoas". "Nenhum médico será obrigado a realizar internações compulsórias e não há nenhuma ação da prefeitura no sentido de internação em massa", informou a gestão.

A administração disse ainda que agentes de assistência social e saúde realizaram "mais de 5 mil abordagens e 2.445 acolhimentos" desde a operação policial, e que já está em funcionamento na região uma base com capacidade para atender 80 pessoas por dia, com dois psiquiatras de plantão em regime de 24 horas.

Perfil da cracolândia

Madruga foi orientadora de um estudo realizado para o programa Recomeço por alunos da especialização em dependência química da Unifesp entre maio e junho de 2016 que buscou identificar o perfil e o histórico de consumo de drogas dos frequentadores da cracolândia.

A pesquisa estimou que havia à época cerca de 700 usuarios frequentando a região, dos quais 107 foram entrevistados.

Entre os entrevistados, prevaleciam homens (79%) com idade média de 34 anos, desempregados (72%), moradores de rua (68%) e com ensino fundamental incompleto (46%). Destacou-se o consumo de tabaco (86%), álcool (83%), crack (76%), maconha (70%) e cocaína (59%).

Cerca de 30% dos participantes relataram já ter sofrido overdose. Doenças contagiosas confirmadas também foram alvo de perguntas - 20,6% apontaram sífilis, 11,2% tuberculose e 5,6%, HIV. Mais da metade (56%) relatou prática recente de sexo sem proteção e 57,9% disseram ter tido pensamentos suicidas. E 71% manifestaram desejo de deixar de usar crack.

Para Madruga, após o choque inicial pelas cenas degradantes, é possível constatar, pela vivência no local, que há colaboração e laços comunitários entre as pessoas. "Você vê que tem uma comunidade ali, com personalidades. Há churrascos, sambas", conta.

'Falhas no Braços Abertos

Embora não seja contrária às chamadas políticas de redução de danos, princípio que inspirou o programa Braços Abertos, iniciativa da gestão Fernando Haddad (PT) extinta por Doria, Madruga afirma que a ação petista era uma "boa ideia" que fracassou por falhas de planejamento e execução.

"A ideia da varrição, por exemplo, não funcionou (dependentes ganhavam R$ 15 por dia da prefeitura se trabalhassem em atividades como varrição e jardinagem). No final praticamente ninguém varria nada e todo o dinheiro ia para comprar droga", afirma ela, para quem a escalada da violência atual dificultava o trabalho social na região.

"Muitos usuários não conseguiam sair (da cracolândia) porque deviam para o tráfico", afirma.

A pesquisadora também vê problemas em pesquisa de avaliação do Braços Abertos que no ano passado entrevistou 80 beneficiários e apontou impacto positivo na vida de 95% dos usuários e que duas em cada três pessoas tinham reduzido o consumo.

"A pesquisa tem limitações metodológicas sérias. Pegaram só (frequentadores da cracolândia) que estavam dentro do programa, que eram 20% do total. Entrevistaram só 10% desse total e há um viés de seleção na amostra, pois entrevistaram quem já estava em uma situação melhor", diz.

A Plataforma Brasileira de Política de Drogas, que conduziu a pesquisa sobre o Braços Abertos, rebate as críticas. Diz que o estudo foi preliminar e visava analisar o impacto entre beneficiários, e que não procede a afirmação de que foram entrevistados apenas quem havia melhorado a situação do vício.

Diz que houve ainda uma etapa qualitativa, com entrevistas sobre a vida dos usuários, e que o trabalho foi independente, financiado por recursos internacionais e sem "nenhum tipo de comprometimento com a gestão municipal".

Possíveis saídas

Sobre a atual dispersão da cracolândia por diversos pontos de São Paulo, a pesquisadora da Unifesp diz considerar que agora é o momento crucial para tentar buscar e reinserir esses usuários na sociedade. Ela diz que funcionários do tráfico já se movimentam na praça Princesa Isabel, para onde a maior parte dos usuários espalhados pela ação de domingo se deslocou.

"Os dependentes não irão dizer que é um alívio dormirem espalhados porque o crack não está mais na mão deles, mas na verdade eles saíram da tirania a que eram submetidos lá", afirma, apontando ter notado reforço, pela prefeitura, das equipes de assistência social.

"Tem que ser ação social intensa. Notei um aumento das equipes (depois da ação policial), gente com menos experiência de abordagem a usuários, mas pelo menos conseguiram colocar gente lá com uma intenção. É fazer alguma coisa enquanto o sistema (de domínio do tráfico) se desmantelou um pouco", afirma.

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-40067399
« Última modificação: 01 de Junho de 2017, 15:25:02 por Gaúcho »
"— A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras." Sérgio Moro

Offline Arcanjo Lúcifer

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #555 Online: 01 de Junho de 2017, 15:28:52 »
   Lembrei ndo caso do Rafeal Ilha, ex-viciado, que depois de idas e voltas (segundo se fakava ele teve recaidas), criou uma clinica pra recuperação de viciados em drogas e num episodio ele quis pegar um paciente de volta pra clinica de forma obrigatoria e deu confusão:

Rafael Ilha fazia internações à força, diz ex-paciente



Isto foi uma crítica à ideia de internação a força ?

Eu na verdade só escrevi apoiando a possibilidade de internar a força porque a lei boazinha  não deixa outra alternativa para tirar esse noias crackados do espaço público, que  criam um ambiente propício à crimes contra a propriedade, e até contra a vida de pessoas que estão próximas.  Entretanto,  o  que devia ser feito mesmo é a mudança da lei penal, de modo a autorizar a prisão e/ou internação a força, desses noiados que ficam vagabundeando nas ruas ameaçando as pessoas ordeiras.  Querem ser uns noiados vagabundos ? Que sejam dentro de suas casas. E se não tiver casa, então que escolha entre uma internação, ou uma prisão. Outra alternativa seria uma espécie de espaço controlado, vigiado e  fechado para  cercar  esse noias, que não precisaria ser necessariamente  com celas, uma espécie de internato, no qual não haveria tratamento necessariamente a força, mas também não teriam a liberdade de vagabundear nas ruas, nas praças, nos viadutos, e em outros espaços públicos.

Em parte o Brasil está virando essa zona de crimes justamente por causa dessa ideologia de tolerância com vagabundos.

Não foi.

Só lembrei do fato e achei curioso que ele mesmo sendo ex(?)-drogado, se fosse se basear na experiencia pessoal dele, deveria saber se internação forçada funcionaria ou não. Mas pelo visto ele não demonstrou saber ou achou que pra quem é drogado seria única solução. Parece que nem sempre quem passou pela experiencia sabe qual melhor metodo pra lidar com isso ou Rafael Ilha é que não tem aptidão pra fazer isso da forma correta.



Sempre fico com um pé atrás quando um cara que foi preso tentando passar pela fronteira com uma escopeta resolve abrir uma clínica de drogados.

De um modo ou de outro ainda existe uma diferença entre o dono de uma clínica particular tentar segurar alguém contra a vontade sem base legal ou o poder público fazer isso.

Na hora que postei nem lembrei ou nem tinha pensado nesse detalhe: Privado X público.

Não sei se na cabeça de quem é contra internação forçada isso faz diferença, mas é uma questão a mais.



Pessoalmente sou a favor, acho que ainda é uma solução melhor que deixar essas pessoas dormindo na chuva e comendo no lixo, sem qualquer assistência médica e oferecendo risco a todos os demais.

Offline _Juca_

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #556 Online: 01 de Junho de 2017, 15:29:00 »

Eu sou pró-legalização, mas a cracolândia se resolveria dessa forma? As atividades criminosas da cracolândia se extinguiriam com a descriminalização da posse e venda do crack? Tenho dúvidas sobre isso.

Você me perguntou qual minha sugestão para o tráfico e os traficantes, não sobre a cracolândia, essa que vai muito além do aspecto do comércio de drogas, sendo um problema gravíssimo de saúde publica.

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Talvez dê pra traçar um paralelo com alguns butecos "copo-sujo" (espécie de alcoolândias), que vendem cachaça barata a centavos, que acabam criando um ambiente violento/criminoso por abuso das substâncias de forma dependente mas ainda assim são bem menos feios ou concentrados do que a cracolândia. Dessa forma eu acho que a solução contém a revisão das leis relacionadas, mas não está totalmente ligada a isso.

O crack na minha opinião existe por uma razão econômica, é barato, muito mais barato que a cocaína, por isso as pessoas podem sustentar seu vício muito mais fácil. Se a cocaína fosse mais acessível, duvido que o crack tomasse essa proporção. Quando o alcool foi proibido nos EUA, alambiques caseiros se proliferaram fazendo bebida com altíssimo índice alcoolico e péssima qualidade, mas muito mais barato e acessível do a droga ilegal que era o whisky tradicional. Com uma industria da droga legalizada a sociedade poderia ter muito mais controle sobre a qualidade, o fornecimento e a distribuição das drogas, além de ter um retorno em forma de impostos e parar de gastar dinheiro à toa na repressão a um vício tão arraigado na estrutura social, podendo gastar esse dinheiro em prevenção e saúde publica, além do fim dos inigualáveis lucros que o crime organizado tem. Eu só vejo vantagens na legalização. Sou absolutamente contra o uso de drogas pesadas e o abuso de drogas leves, mas estou cansado da tragédia social que representa essa guerra louca contra as drogas.


Offline _Juca_

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #557 Online: 01 de Junho de 2017, 15:35:53 »
Algo com resultado prático zero não é algo como "é eu que digo". A não ser que a ideia fosse ir todo o dia perguntar e, depois que o viciado morrer, contabilizar como ponto da "política de insistência".

Velho é uma opinião pessoal sua. Eu prefiro ficar com opiniões de gente realmente embasada.

Tratamento obrigatório para viciados em crack é ação 'ridícula', diz neurocientista americano

Citar
É hipocrisia criticar ação policial sem conhecer a realidade da cracolândia, diz psicóloga

A psicóloga Clarice Madruga, de 39 anos, conhece bem o cotidiano da cracolândia de São Paulo. Nos últimos cinco anos, atuou na capacitação de equipes do governo estadual que atuam na região e coordenou pesquisas que traçaram o perfil dos usuários de drogas da área.

Para ela, há "hipocrisia" em algumas críticas à operação policial de combate ao tráfico que na semana passada dispersou usuários e o "feirão da droga" que funcionava no local.

"É uma hipocrisia. As pessoas de repente discutem direitos humanos em relação a uma ação da polícia, mas do crime ninguém fala. Como se a cracolândia fosse um parque de diversões: estavam todos brincando de roda quando chegou uma operação maligna", afirma a pesquisadora e pós-graduanda do departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Madruga diz que "todos os direitos humanos possíveis e imagináveis" já estavam sendo desrespeitados com a ação de traficantes que, segundo ela, dominam com "tirania" os dependentes químicos na região.

"Vi crianças sendo espancadas, com braço e perna quebrados, porque não seguiram alguma regra. Vi usuário vindo à tenda (do programa Recomeço, estadual) para pedir intervenção e ser esfaqueado lá dentro porque estava devendo", conta Madruga, para quem a violência desses grupos recrudesceu neste ano.

Nesta semana, a BBC Brasil publicou entrevista com o neurocientista Carl Hart, professor da Universidade de Columbia (EUA) que estuda drogas há 20 anos e já visitou o Brasil e a cracolândia de São Paulo. Hart avaliou a ação policial como prova de "falta de compaixão" dos governos municipal e estadual, que estariam "fazendo política com pessoas".

Para Clarice Madruga, que tem mestrado em neurociências e em psicologia com ênfase em dependência química, é preciso ver o que ocorrerá daqui em diante para julgar o sucesso da ação policial, que ela considerava inevitável.

"Claro que é ruim ter que fazer esse tipo de operação. Óbvio que é preciso ter agentes de saúde e assistência social antes de considerar aquilo como problema de polícia, mas da forma como estava não vejo outra alternativa para tentar quebrar aquele ciclo", diz ela, lembrando que a ação da polícia ocorreu sem confrontos e feridos graves, diferentemente de intervenções no passado recente.

"Uma ação que claro que é desrespeitosa, é a polícia. Não acompanhei a operação, sei que foram truculentos, que houve desrespeito, mas ninguém fala dos absurdos que estavam ocorrendo lá. É chocante pensar que foi preciso chegar onde chegou. Aquelas cenas (da ação policial) que para todo mundo são chocantes, de fato são, mas chocam menos que as cenas vividas dentro da cracolândia", completa.

'Erros da prefeitura'

Apesar de rebater críticas à operação policial, a professora diz ver equívocos nas políticas anticrack da gestão João Doria (PSDB), sobretudo no pedido à Justiça, feito nesta semana, de autorização para fazer internações contra a vontade dos dependentes químicos.

Para ela, o erro está na solicitação, feita por Doria, de uma espécie de autorização coletiva, sem necessidade de análise individual pelo Judiciário. Atualmente, cada caso de internação compulsória deve ser respaldado por laudo médico e autorizado de modo individualizado pela Justiça.

"Ninguém em sã consciência pode concordar com isso. Duvido que (o prefeito) consiga levar isso adiante, haverá todo tipo de bloqueio", afirma. Ministério Público de São Paulo, por exemplo, já declarou que o pedido de Doria pode motivar uma "caçada humana".

A divulgação da intenção da prefeitura de internar viciados contra à vontade, segundo ela, também já prejudica a situação das equipes que estão em campo tentando acolher os dependentes que se dispersaram, que ficaram mais arredios. "É terrível que tenha sido falado de internação em massa, porque isso boicotou as tentativas de abordagem social, de acolhimento."

"Sou absolutamente contrária a essa ideia e espero que prevaleça o trabalho preventivo de reinserção social tão necessário para que a coisa funcione", afirma Madruga.

A Prefeitura de São Paulo diz que o pedido de internação é "apenas mais um instrumento para atender às pessoas". "Nenhum médico será obrigado a realizar internações compulsórias e não há nenhuma ação da prefeitura no sentido de internação em massa", informou a gestão.

A administração disse ainda que agentes de assistência social e saúde realizaram "mais de 5 mil abordagens e 2.445 acolhimentos" desde a operação policial, e que já está em funcionamento na região uma base com capacidade para atender 80 pessoas por dia, com dois psiquiatras de plantão em regime de 24 horas.

Perfil da cracolândia

Madruga foi orientadora de um estudo realizado para o programa Recomeço por alunos da especialização em dependência química da Unifesp entre maio e junho de 2016 que buscou identificar o perfil e o histórico de consumo de drogas dos frequentadores da cracolândia.

A pesquisa estimou que havia à época cerca de 700 usuarios frequentando a região, dos quais 107 foram entrevistados.

Entre os entrevistados, prevaleciam homens (79%) com idade média de 34 anos, desempregados (72%), moradores de rua (68%) e com ensino fundamental incompleto (46%). Destacou-se o consumo de tabaco (86%), álcool (83%), crack (76%), maconha (70%) e cocaína (59%).

Cerca de 30% dos participantes relataram já ter sofrido overdose. Doenças contagiosas confirmadas também foram alvo de perguntas - 20,6% apontaram sífilis, 11,2% tuberculose e 5,6%, HIV. Mais da metade (56%) relatou prática recente de sexo sem proteção e 57,9% disseram ter tido pensamentos suicidas. E 71% manifestaram desejo de deixar de usar crack.

Para Madruga, após o choque inicial pelas cenas degradantes, é possível constatar, pela vivência no local, que há colaboração e laços comunitários entre as pessoas. "Você vê que tem uma comunidade ali, com personalidades. Há churrascos, sambas", conta.

'Falhas no Braços Abertos

Embora não seja contrária às chamadas políticas de redução de danos, princípio que inspirou o programa Braços Abertos, iniciativa da gestão Fernando Haddad (PT) extinta por Doria, Madruga afirma que a ação petista era uma "boa ideia" que fracassou por falhas de planejamento e execução.

"A ideia da varrição, por exemplo, não funcionou (dependentes ganhavam R$ 15 por dia da prefeitura se trabalhassem em atividades como varrição e jardinagem). No final praticamente ninguém varria nada e todo o dinheiro ia para comprar droga", afirma ela, para quem a escalada da violência atual dificultava o trabalho social na região.

"Muitos usuários não conseguiam sair (da cracolândia) porque deviam para o tráfico", afirma.

A pesquisadora também vê problemas em pesquisa de avaliação do Braços Abertos que no ano passado entrevistou 80 beneficiários e apontou impacto positivo na vida de 95% dos usuários e que duas em cada três pessoas tinham reduzido o consumo.

"A pesquisa tem limitações metodológicas sérias. Pegaram só (frequentadores da cracolândia) que estavam dentro do programa, que eram 20% do total. Entrevistaram só 10% desse total e há um viés de seleção na amostra, pois entrevistaram quem já estava em uma situação melhor", diz.

A Plataforma Brasileira de Política de Drogas, que conduziu a pesquisa sobre o Braços Abertos, rebate as críticas. Diz que o estudo foi preliminar e visava analisar o impacto entre beneficiários, e que não procede a afirmação de que foram entrevistados apenas quem havia melhorado a situação do vício.

Diz que houve ainda uma etapa qualitativa, com entrevistas sobre a vida dos usuários, e que o trabalho foi independente, financiado por recursos internacionais e sem "nenhum tipo de comprometimento com a gestão municipal".

Possíveis saídas

Sobre a atual dispersão da cracolândia por diversos pontos de São Paulo, a pesquisadora da Unifesp diz considerar que agora é o momento crucial para tentar buscar e reinserir esses usuários na sociedade. Ela diz que funcionários do tráfico já se movimentam na praça Princesa Isabel, para onde a maior parte dos usuários espalhados pela ação de domingo se deslocou.

"Os dependentes não irão dizer que é um alívio dormirem espalhados porque o crack não está mais na mão deles, mas na verdade eles saíram da tirania a que eram submetidos lá", afirma, apontando ter notado reforço, pela prefeitura, das equipes de assistência social.

"Tem que ser ação social intensa. Notei um aumento das equipes (depois da ação policial), gente com menos experiência de abordagem a usuários, mas pelo menos conseguiram colocar gente lá com uma intenção. É fazer alguma coisa enquanto o sistema (de domínio do tráfico) se desmantelou um pouco", afirma.

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-40067399

A polícia não agiu contra os traficantes apenas, ela agiu contra os usuários também, dispersou todo mundo sem resolver problema algum, agora os traficantes estão dominando um lugar a 500 metros dali. Os usuários continuam com os mesmo problemas de antes, o problema só mudou de lugar.

Offline _Juca_

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #558 Online: 01 de Junho de 2017, 15:46:20 »

Pessoalmente sou a favor, acho que ainda é uma solução melhor que deixar essas pessoas dormindo na chuva e comendo no lixo, sem qualquer assistência médica e oferecendo risco a todos os demais.

A internação é uma ótima opção, vi muita gente se recuperando assim, mas todos de forma voluntária. Quando você força uma pessoa a fazer o que ela não quer isso vira punição, e duvido muito das chances de um resultado positivo no tratamento e uma pessoa relutante. É claro, a não ser que o objetivo seja apenas um apharteid social contra os consumidores viciados, aí já conhecemos como termina essa história. E é a História que impede esse negócio de internação compulsória generalizada.

 


Offline Agnoscetico

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #559 Online: 01 de Junho de 2017, 16:17:04 »

Usando militancia radical negra (daquelas que vê racismo em tudo) pra criticar ação policial na Cracolandia dá isso aqui  :umm:  :hein:  -------->

<a href="https://www.youtube.com/v/8RWIg7j3QOc" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/8RWIg7j3QOc</a>



Offline Buckaroo Banzai

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #560 Online: 01 de Junho de 2017, 16:21:28 »
Mesmo tirando o problema da falta de voluntariedade da coisa, que talvez seja argumentavelmente o menor (analogia a álcool no volante), o maior problema é que quanto mais gente você coloca em tratamento, pior tenderá a ser o tratamento, menos recursos/pessoa.

E mesmo em tratamento, parece que a taxa de recuperação é baixíssima. E que a maior parte das pessoas que larga drogas, faz sem tratamento.

Ironicamente, parece que conseguindo uma permanência de abstinência muito menor do que o sistema de "você será chamado para testes para ver se está limpo, e se não estiver, vai em cana por um tempinho". Tática que não tem custos de tratamento.


Internação compulsória deveria ser reservada aos envolvidos em crimes, graves ou repetidamente.

Offline Sposigor

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #561 Online: 01 de Junho de 2017, 17:17:04 »

Pessoalmente sou a favor, acho que ainda é uma solução melhor que deixar essas pessoas dormindo na chuva e comendo no lixo, sem qualquer assistência médica e oferecendo risco a todos os demais.

A internação é uma ótima opção, vi muita gente se recuperando assim, mas todos de forma voluntária. Quando você força uma pessoa a fazer o que ela não quer isso vira punição, e duvido muito das chances de um resultado positivo no tratamento e uma pessoa relutante. É claro, a não ser que o objetivo seja apenas um apharteid social contra os consumidores viciados, aí já conhecemos como termina essa história. E é a História que impede esse negócio de internação compulsória generalizada.

 

Esse livro é muito bom, quem tiver interesse no livro.

http://lelivros.love/book/download-holocausto-brasileiro-daniela-arbex-em-epub-mobi-e-pdf/


Mesmo tirando o problema da falta de voluntariedade da coisa, que talvez seja argumentavelmente o menor (analogia a álcool no volante), o maior problema é que quanto mais gente você coloca em tratamento, pior tenderá a ser o tratamento, menos recursos/pessoa.

E mesmo em tratamento, parece que a taxa de recuperação é baixíssima. E que a maior parte das pessoas que larga drogas, faz sem tratamento.

Ironicamente, parece que conseguindo uma permanência de abstinência muito menor do que o sistema de "você será chamado para testes para ver se está limpo, e se não estiver, vai em cana por um tempinho". Tática que não tem custos de tratamento.


Internação compulsória deveria ser reservada aos envolvidos em crimes, graves ou repetidamente.


Fazer a internação compulsória é se livrar do problema temporariamente, concordo que em casos de pessoas com acusações na justiça ou mesmo uma ficha criminal deveriam fazer a internação compulsória já que provavelmente são aqueles que ajudam na circulação e colabora para que os outros viciados possam ter acesso as drogas.

Só um adendo que durante um período, tive a oportunidade de ver na pratica como funciona o tratamento em algumas clinicas que tratavam usuários de drogas mais pesadas. Não é tão simples quanto parece, mas também algumas deliberações complexas devem ser discutidas, é um trabalho que exige muito além do comprometimento das partes envolvidas.

http://revistapesquisa.fapesp.br/2016/12/16/o-preco-da-abstinencia/?cat=ciencia

http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/em-12-anos-prefeitura-lancou-3-projetos-diferentes-para-cracolandia.ghtml

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-03/apos-criticas-mp-tem-nova-reuniao-com-prefeitura-sobre-projeto-para

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/03/1751392-gestao-haddad-muda-estrategia-e-tenta-afastar-viciado-da-cracolandia.shtml

Além de ser baixa a recuperação existe muita humilhação do ser, imagina aonde o vicio leva a pessoa. Literalmente se torna um "zumbi" e o único alimento que consome é as drogas.

Offline Gaúcho

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #562 Online: 01 de Junho de 2017, 17:36:39 »

Pessoalmente sou a favor, acho que ainda é uma solução melhor que deixar essas pessoas dormindo na chuva e comendo no lixo, sem qualquer assistência médica e oferecendo risco a todos os demais.

A internação é uma ótima opção, vi muita gente se recuperando assim, mas todos de forma voluntária. Quando você força uma pessoa a fazer o que ela não quer isso vira punição, e duvido muito das chances de um resultado positivo no tratamento e uma pessoa relutante. É claro, a não ser que o objetivo seja apenas um apharteid social contra os consumidores viciados, aí já conhecemos como termina essa história. E é a História que impede esse negócio de internação compulsória generalizada.

 

Drauzio em 2013 sobre internações compulsórias:

Citar
Internação compulsória é caminho a ser percorrido, diz Drauzio Varella

Revoltado. É assim que o médico e colunista da Folha Drauzio Varella, 69, diz se sentir com a polêmica envolvendo a internação compulsória de dependentes de crack, adotada há uma semana pelo governo Alckmin.

Cancerologista de formação e com profundo conhecimento em dependência química, Varella considera a discussão "ridícula".

"Que dignidade tem uma pessoa jogada na sarjeta? Pode ser que internação compulsória não seja a solução ideal, mas é um caminho que temos que percorrer. Se houver exagero, é questão de corrigir."

Ele defende que as grávidas da cracolândia também sejam internadas mesmo contra a vontade. "Eu, se tivesse uma filha grávida, jogada na sarjeta, nem que fosse com camisa de força tiraria ela de lá."

A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha, na última quinta, em seu consultório no centro de São Paulo.

Folha - Muito se discute sobre a ineficácia das internações compulsórias. Na opinião do sr., elas se justificam?

Drauzio Varella - Não conhecemos bem a eficácia ou a ineficácia porque as experiências com internações compulsórias são pequenas no mundo. Mesmo as de outros países não servem para nós. O Brasil tem uma realidade diferente.

Neste momento, temos uma quantidade inaceitável de usuários. E muitos chegando aos estágios finais. Estão nas ruas, nas sarjetas. O risco de morte é muito alto, e nós estamos permitindo isso.

Qual o tratamento ideal?

Depende da fase. Você tem usuários que usam dois ou três dias e param. Tem gente que usa um, dois dias, repete e nunca mais fica livre. E você tem os que chegam à fase final.

A gente convive com essa realidade, e quando o Estado resolve criar um mecanismo para tirar essas pessoas da rua de qualquer maneira começa uma discussão política absurda. Começam a falar que essa medida não respeita a dignidade humana. Que dignidade tem uma pessoa na sarjeta daquela maneira?

Está na hora de parar com essa discussão ridícula. Pode ser que internação compulsória não seja a solução ideal, mas é um caminho que temos que percorrer. Se houver exagero, é uma questão de corrigir. Vão haver erros, vão haver acertos. Temos que aprender nesse caminho porque ninguém tem a receita.

O debate está ideologizado?

Totalmente. É uma questão ideológica e não é hora para isso. Estamos numa epidemia, quanto mais tempo passa, mais gente morre.

Sempre faço uma pergunta nessas conversas: 'Se fosse sua filha naquela situação, você deixaria lá para não interferir no livre arbítrio dela?'

Eu, se tivesse uma filha grávida, jogada na sarjeta, nem que fosse com camisa de força tiraria ela de lá.

Quando vemos essa discussão nos jornais, parece que estamos discutindo o direito do filho dos outros de continuar usando droga até morrer. É uma argumentação frágil, jargões vazios, de 50 anos atrás. Eu fico revoltado com essa discussão inútil.

E o que fazer com as grávidas do crack?

São casos de internação compulsória, o sistema de saúde tem que ir atrás e internar mesmo que não queiram. O crack é mais forte do que o instinto materno. Elas não param porque estão dominadas pelo crack. Tem uma relação de uso e recompensa e acabou. Nada vale tanto quanto essa dependência.

Como prevenir a gravidez na cracolândia?

É a coisa mais fácil. Há anticoncepcionais injetáveis, dá a injeção e dura três meses.

Haveria mais polêmica...

A menina não engravida para experimentar os mistérios da maternidade, ela engravida porque na situação em que ela vive não há outra forma de se relacionar com os homens. Essa é a realidade.

Precisa levar para um lugar onde terá amparo, um pré-natal decente. Não podemos ficar nessa posição passiva.

Por que é tão difícil adotar uma estratégia efetiva de enfrentamento do crack?

Pela própria característica da dependência. É uma doença crônica. Você deixa de ser usuário de uma droga qualquer, mas não deixa de ser dependente. É a mesma história do fumante. Há 20 anos sem fumar, um dia fica nervoso, pega um cigarro e volta a fumar. Ou do alcoólatra.

Com o crack, é a mesma coisa, a dependência persiste para sempre. Você pega uma pessoa que fuma crack, interna, passa por psicólogo, reata laços com a família, passa um ano sem fumar. Aí, um belo dia, recomeça tudo. Você não pode dizer que o tratamento falhou. Ele ficou um ano livre. Isso não invalida que ele seja tratado novamente.

Fazendo uma analogia com a especialidade do sr., é como tratar um tumor avançado?

Exatamente. Eu pego uma paciente com câncer avançado, faço um tratamento agressivo com quimioterapia e ela passa seis meses com remissão da doença.

Acho ótimo. Pelo menos passou seis meses bem, com a família, tocando as coisas. Aí, quando sai da remissão [volta do tumor], a gente tenta outro esquema. A gente não se dá ao direito de não tratar um doente porque a doença vai voltar. Por que não se faz isso com usuário de drogas?

Isso acontece porque há muito preconceito com as dependências de uma forma geral?

Sim, temos muito preconceito. Nós usamos drogas também, uns fumam, outros bebem, só que temos controle. E temos o maior desprezo pelos que perdem o controle.

Qual o futuro do tratamento das dependências?

A medicina não sabe tratar dependência. Vejo na cadeia meninas desesperadas, me pedindo ajuda. Eu fico olhando com cara de idiota. Não tem o que fazer. Só posso dizer: fique longe da droga.

Não tem um remédio que você diga: você vai tomar um remédio bom em que 30% dos casos ficam livres da droga.

O problema é o prazer. Se você conseguir uma pequena molécula que inative os receptores dos neurônios que recebem a cocaína, o sujeito deixa de ter prazer. Há experiências com anticorpos para tentar desarmar essa ligação, mas estamos em fase inicial.

O sr. acredita que veremos o fim dessa epidemia do crack?

Droga é moda, e a moda do crack vai passar ou ficar restrita a pequenas populações.

Mas para isso acontecer não é preciso uma política nacional de enfrentamento do crack?

Acho que temos que ter uma política nacional para definir as grandes diretrizes. Mas não acho que vamos definir isso com políticas nacionais. Temos que particularizar. Cada cidade tem que criar estruturas locais de atendimento.

Nós perdemos muito tempo. Não fizemos campanha educacional, não trabalhamos as crianças. Agora todos ficam horrorizados. Temos que ter aulas nas escolas, aprender desde pequeno. Precisamos chegar antes da dependência.

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/01/1221469-internacao-compulsoria-e-caminho-a-ser-percorrido-diz-drauzio-varella.shtml
"— A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras." Sérgio Moro

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #563 Online: 01 de Junho de 2017, 17:43:20 »


Dráuzio ontem:

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/05/1888877-para-drazio-varella-nao-e-possivel-acabar-com-a-cracolandia-em-sp.shtml

Citar
O que dizem as evidências científicas sobre internação compulsória? Qual é a taxa de sucesso?
É muito pequena. Estou entre os que sempre defenderam a internação compulsória como último recurso, quando há risco de morte. Você vê na cracolândia meninos e meninas magérrimos, encovados, em fase final de desnutrição. Não se pode largá-los morrendo nas ruas. Agora o que você faz? Entra lá com uma equipe médica e diz: 'você não está bem e vai para uma internação". Vai ser assim? A única forma de atingir essas pessoas é você atrai-los para os serviços de saúde e, para isso, têm que ter confiança de que serão ajudados, e que não vão ser punidos com internação.

Offline Gaúcho

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #564 Online: 01 de Junho de 2017, 17:46:54 »
Exatamente. Internação compulsória.

Quase certeza que é como funciona hoje, cada caso é avaliado individualmente. Até por isso que a internação compulsória em massa do Dória não deve vingar na justiça.
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Offline Arcanjo Lúcifer

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #565 Online: 01 de Junho de 2017, 17:53:30 »

Pessoalmente sou a favor, acho que ainda é uma solução melhor que deixar essas pessoas dormindo na chuva e comendo no lixo, sem qualquer assistência médica e oferecendo risco a todos os demais.

A internação é uma ótima opção, vi muita gente se recuperando assim, mas todos de forma voluntária. Quando você força uma pessoa a fazer o que ela não quer isso vira punição, e duvido muito das chances de um resultado positivo no tratamento e uma pessoa relutante. É claro, a não ser que o objetivo seja apenas um apharteid social contra os consumidores viciados, aí já conhecemos como termina essa história. E é a História que impede esse negócio de internação compulsória generalizada.

 



Não estamos mais nos anos 40 e duvido que uma internação represente coisa pior que a situação atual das pessoas vivendo no lixo, algo que nada difere do que vc postou.

Offline _Juca_

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #566 Online: 01 de Junho de 2017, 18:01:45 »

Pessoalmente sou a favor, acho que ainda é uma solução melhor que deixar essas pessoas dormindo na chuva e comendo no lixo, sem qualquer assistência médica e oferecendo risco a todos os demais.

A internação é uma ótima opção, vi muita gente se recuperando assim, mas todos de forma voluntária. Quando você força uma pessoa a fazer o que ela não quer isso vira punição, e duvido muito das chances de um resultado positivo no tratamento e uma pessoa relutante. É claro, a não ser que o objetivo seja apenas um apharteid social contra os consumidores viciados, aí já conhecemos como termina essa história. E é a História que impede esse negócio de internação compulsória generalizada.

 



Não estamos mais nos anos 40 e duvido que uma internação represente coisa pior que a situação atual das pessoas vivendo no lixo, algo que nada difere do que vc postou.

Sei não... :umm: Acho que a mentalidade Estado como segregador e violador de direitos humanos não evolui nem um pouco.

http://exame.abril.com.br/brasil/violacao-de-direitos-humanos-em-prisoes-e-recorrente-diz-cndh/

Offline Arcanjo Lúcifer

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #567 Online: 01 de Junho de 2017, 18:02:47 »

Usando militancia radical negra (daquelas que vê racismo em tudo) pra criticar ação policial na Cracolandia dá isso aqui  :umm:  :hein:  -------->

<a href="https://www.youtube.com/v/8RWIg7j3QOc" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/8RWIg7j3QOc</a>




Claro, porque todos sabem que brancos não usam cocaína e criminalizar drogas é só para prender negros.

Peraí, o R. Ilha não é meio branquinho?

Offline Arcanjo Lúcifer

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #568 Online: 01 de Junho de 2017, 18:05:41 »
Sei não... :umm: Acho que a mentalidade Estado como segregador e violador de direitos humanos não evolui nem um pouco.

Os noias jogados nas ruas terão seus direitos humanos respeitados se continuarem lá?

*e nos anos 40 ninguém tinha internet ou celular com câmera, duvido muito  que ficaria em segredo nos dias atuais.

É a diferença.
« Última modificação: 01 de Junho de 2017, 18:11:41 por Arcanjo Lúcifer »

Offline Gaúcho

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #569 Online: 01 de Junho de 2017, 18:15:25 »

Pessoalmente sou a favor, acho que ainda é uma solução melhor que deixar essas pessoas dormindo na chuva e comendo no lixo, sem qualquer assistência médica e oferecendo risco a todos os demais.

A internação é uma ótima opção, vi muita gente se recuperando assim, mas todos de forma voluntária. Quando você força uma pessoa a fazer o que ela não quer isso vira punição, e duvido muito das chances de um resultado positivo no tratamento e uma pessoa relutante. É claro, a não ser que o objetivo seja apenas um apharteid social contra os consumidores viciados, aí já conhecemos como termina essa história. E é a História que impede esse negócio de internação compulsória generalizada.

 



Não estamos mais nos anos 40 e duvido que uma internação represente coisa pior que a situação atual das pessoas vivendo no lixo, algo que nada difere do que vc postou.

Sei não... :umm: Acho que a mentalidade Estado como segregador e violador de direitos humanos não evolui nem um pouco.

http://exame.abril.com.br/brasil/violacao-de-direitos-humanos-em-prisoes-e-recorrente-diz-cndh/

É irônico porque você defende um estado grande.
"— A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras." Sérgio Moro

Offline Arcanjo Lúcifer

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #570 Online: 01 de Junho de 2017, 18:17:09 »
Uma coisa que eu sei, é  que muitos desses noias tem famílias que desconhecem seu paradeiro, o simples ato de tirar das ruas, identificar e avisar familiares já seria um começo.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #571 Online: 01 de Junho de 2017, 19:02:59 »
Em alguns casos, foram deserdados pela família.


Como funciona aquele processo da pessoa perder a "própria tutela"? Talvez isso pudesse se enquadrar "em massa" ou quase nesses casos, qualquer que seja o procedimento exato que seja melhor ter.

Offline Geotecton

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #572 Online: 01 de Junho de 2017, 19:28:52 »
Citar
[...]
<a href="https://www.youtube.com/v/8RWIg7j3QOc" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/8RWIg7j3QOc</a>

Pelas evidências, a única conclusão plausível é que o vento soprava da direita para a esquerda quando a moça gravou o vídeo supra.
Foto USGS

Offline Arcanjo Lúcifer

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #573 Online: 01 de Junho de 2017, 20:07:32 »
Em alguns casos, foram deserdados pela família.


Como funciona aquele processo da pessoa perder a "própria tutela"? Talvez isso pudesse se enquadrar "em massa" ou quase nesses casos, qualquer que seja o procedimento exato que seja melhor ter.

Sim, muitos foram tb.

Vi uma matéria de reportagem, no meio desses noias tem gente formada em engenharia, mecânicos de manutenção de aviões, publicitários, gente que falava vários idiomas.

Mas tb tem gente miserável que sumiu de casa e não voltou mais para ficar perto do tráfico.

De um modo ou de outro, ainda acho que internação é melhor que viver na calçada.


Offline Agnoscetico

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Re:Governo Dória em São Paulo
« Resposta #574 Online: 01 de Junho de 2017, 20:49:27 »

Sobre a ONG "Carco resiste"

<a href="https://www.youtube.com/v/9pLC1RAuqfM" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/9pLC1RAuqfM</a>


 

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