Só relembrando. Isso diz muito sobre a corrupção policial. Policiais externos à realidade local conseguem fazer o que policiais locais não conseguem.
O que é óbvio: policiais locais permitem a entrada de armamento pesado; policiais externos não têm acertos com a bandidagem local, mas não significam que são honestos no local onde atuam originalmente.
Esse negócio de combater a corrupção policial no Rio vai ser praticamente impossível. Isto aqui foi em um só batalhão (todos os envolvidos estavam ou passaram por ele na época): http://www.osaogoncalo.com.br/seguranca-publica/25922/um-batalhao-de-policiais-a-servico-do-trafico-em-sg
Não sei se você acompanhou o caso da prisão do traficante Nem. Esse caso me parece dar uma ideia de como está a coisa no Rio de Janeiro.
Diziam que o Nem era o bandido mais procurado do Rio, mas uma pessoa que conheço afirmava ter visto o Nem jogando bola e fazendo churrasco na área do Jockey, e que as pessoas lá diziam que isso era frequente. Estranho para o criminoso mais procurado.
Quando foram instalar a UPP da Rocinha, favela que ele comandava, como sempre avisaram o dia com antecedência para não haver confronto, mas o Nem foi pego numa barreira do Batalhão de Choque.
A gente pensa "que cara burro, ele sabia o dia da ocupação, podia ter saído antes". Só que as coisas que aconteceram mostram que ele não é tão burro assim, que ele tava seguro que ia passar fácil pelo cerco policial. Mas o azar talvez tenha sido ter topado com uma barreira do choque, porque o batalhão de choque tem menos contato com a bandidagem, por atuar mais em repressão a distúrbios.
Quando pararam o carro, o motorista saiu com um documento falso e disse que era da embaixada de um país africano, portanto tinha imunidade diplomática e o carro não podia ser revistado. O sargento não engoliu muito, mas não quis se comprometer, disse que iria esperar uma autoridade que liberasse ou mandasse revistar o veículo. Em 15 minutos chegou um delegado mandando liberar, aí o cara do choque ficou desesperado, porque ele sabe como são as coisas... Então como era um operação grande, e tinha PF participando, ele começou a procurar alguém da Polícia Federal, que autorizasse a revista do carro.
O interessante é que quando ele quis chamar a PF eles disseram: " Não, então você escolta o carro até a sede da Polinter, e entrega pra eles." Quer dizer, uma delegacia imensa, um monte de policial trabalhando lá, o carro ia chegar com escolta do choque, não teria como um monte de gente na delegacia não ver... e mesmo assim era pra onde o traficante queria ir! O cara queria ir nada menos que pra sede da Polinter!
Só pode estar todo mundo, ou quase todo mundo nessa delegacia, comprometido. Isso talvez explique porque o Nem não tava preocupado em passar pelo bloqueio na Rocinha.
Mas o choque peitou o delegado e esperou chegar o federal. Levaram o carro pra PF e quando abriram o porta-malas tava lá o bandido mais procurado do Rio de Janeiro.
E o que aconteceu com esse delegado que em 15 minutos apareceu pra salvar o chefe do tráfico mais procurado? Nada. Simplesmente nada.