Então boa sorte. Vai precisar mesmo.
Você (e outros do tipo "sou da paz") pode achar que uma arma de fogo não é útil. Mas, eu (e muitos outros) acho que uma arma de fogo juntamente com a percepção adequada do perigo em tempo hábil, mais um treinamento mínimo adequado, pode ser eficaz para evitar ser agredido, roubado e até assassinado, e o contrário, sem a arma de fogo, a pessoa de bem fica a mercê da vontade de vagabundos. 
Talvez eu seja mesmo da paz. Mas a minha intenção não é "dar a outra face" a bandidos e permitir que só os meliantes tenham o monopólio da violência.
Só o que eu acho é que, se a intenção é proteger o "cidadão de bem", pode dar mais errado do que certo.
Isso é o que eu acho. Você não acha. Mas a realidade é indiferente aos achismos, e parece que o acesso ao porte quase indiscriminado de armas está prestes a se tornar realidade com Bolsonaro. Aí nós vamos saber, e não mais achar, se armas protegem ou não.
Mas apenas suponha que, daqui a 4 anos, os números provem que o "cidadão de bem" passou a correr um risco de morte (risco de vida não existe) até maior. Será que os que hoje argumentam em favor das armas irão admitir que estavam equivocados em seus argumentos?
Dificilmente. Pelo menos os que estão a serviço de grandes interesses econômicos, como o sr. Benê Barbosa e próprio Bozo, não se importam realmente se as pessoas vão estar mais ou menos seguras, porque se esta fosse um preocupação honesta, se estivessem mesmo convencidos de seus próprios argumentos, diriam: "Ok, vamos fazer uma experiência. Liberamos as armas para que todos possam se defender e a gente vê como fica. Conhecido o resultado deste experimento realiza-se um plebiscito para que a população decida, agora não mais achando mas sabendo, se o povo armado é mesmo um povo mais protegido."
É engraçado, eles apelam para o desejo soberano do povo, agora que as pessoas estão assustadas e foram convencidas e enganadas por uma ofensiva milionária de marketing financiada pela indústria. Mas quando os debates derem lugar às consequências das decisões tomadas por influência dos discursos, apenas os fatos irão determinar se as pessoas estarão se sentindo mais ou menos seguras. Aí eu vou querer ver se terão este mesmo zelo pela vontade do povo se esse povo perceber que viver no Velho Oeste não é tão legal assim como disseram que seria.
No entanto, quando da promulgação do estatuto do desarmamento, a despeito de achismos contrários e a favor, o experimento que eu sugeri acima foi feito: homicídios no Brasil cresciam a uma taxa consistente de 7% ao ano de 1993 até 2003, mas decresceram no ano imediatamente após a implementação do estatuto. E a partir de 2003 o padrão nessa curva de crescimento se altera nitidamente. Não estamos falando de um ano ou dois, mas de um período de cerca de dez anos em que se verificou um crescimento a taxa constante no número de homicídios por 100 mil hab. e que é nitidamente estancado pela restrição ao porte de armas que passa a existir em 2003.
É muito difícil sofismar o que o gráfico abaixo demonstra:

Ainda assim muitos tentam. Os dois principais ilusionimos retóricos de que se valem os propagandistas do rearmamento são:
- O número de homicídios continua aumentando desde 2003, logo o desarmamento foi inócuo. E alguns, com muita cara de pau, a despeito do que esse gráfico ilustra inequivocamente, CULPAM o DESARMAMENTO pelo aumento do homicídios desde 2003, argumentando simploriamente que se houve X mortes em 2002 mas um número maior em 2017, então a única razão possível só poderá ter sido o desarmamento a partir de 2003. Mas estes nunca tentam explicar a queda não só nos homicídios, imediatamente após 2003, mas também na taxa de crescimento. Na verdade estrategicamente nunca nem mencionam estes dados quando usam estes argumentos.
É muito fácil mostrar o que há de errado aí: as armas legais estão longe de serem o nosso principal problema de segurança pública. A criminalidade vem crescendo no Brasil, não só nos últimos 40 anos, não só desde que o PT virou governo, mas desde a década de 1960, e as causas são muitas e complexas que com o tempo foram se agravando e a estas se acrescentando outros fatores. Portanto ninguém nunca achou que simplesmente dificultando o porte teríamos aqui índices de violência semelhantes aos do Japão. Sem ter o mesmo acesso à educação que se tem no Japão, sem a qualidade de vida que se tem no Japão e sem a mesma distribuição de renda, entre inúmeras outras dessemelhanças.
O que se imaginava, honestamente, é que dificultando o porte legal de armas se poderia minorar apenas a ocorrência de mortes que resultavam diretamente de "cidadãos de bem" estarem podendo portar armas indiscriminadamente.
Uma tese que acabou se comprovando na prática.
- Outro argumento comum se dedica a desacreditar a previsão dos desarmamentistas de que a taxa de homicídios continuaria crescendo no ritmo de 7% ao ano até hoje, não fosse pelo estatuto. Esta projeção pode ser vista no gráfico acima indicada pela linha azul.
De fato não existe muita base para este tipo de futurologia e ninguém pode saber com certeza como teria sido de 2003 pra cá sem o estatuto. Mas eles atacam o argumento que usa esta previsão - que realmente é frágil - porque isso desvia o foco da informação que não dá para ser negada: que é o fato de que o estatuto do desarmamento teve sim impacto positivo, amenizando o crescimento da taxa de mortes provocadas por armas de fogo. O que seria concluído até por uma criança de 5 anos que analisasse o gráfico ali em cima.
A típica desonestidade intelectual dos armamentistas financeiramente motivados pode ser conferida no artigo de Fabrício Rebelo, que se qualifica como especialista em Segurança Pública.
https://rebelo.jusbrasil.com.br/artigos/266705338/apos-o-estatuto-do-desarmamento-homicidios-com-uso-de-arma-de-fogo-sao-os-que-mais-crescemEste é um que considera o desarmamento A CAUSA do aumento de homicídios por armas de fogo. E apresenta os gráficos abaixo para provar.
/imgs.jusbr.com/publications/artigos/images/grafico-pos-ed-11449899913.png)
/imgs.jusbr.com/publications/artigos/images/grafico-pos-ed-21449899923.png)
O argumento é estranho, Fabrício acha que se os homícidios com armas de fogo cresceram um pouquinho mais que homcídios praticados por outros meios, isso prova que a culpa é do estatuto do desarmamento. Mas a diferença é insignificante, e homicídios como um todo aumentaram 16,46%, o que parece indicar que a criminalidade é que vem crescendo e impulsionada por diversos fatores.
Mas ele não informa ao seu leitor os dados do gráfico que mostram as taxas de crescimento de homicídios (por armas de fogo) nos dez anos anteriores a promulgação do estatuto. Apenas dos dez anos posteriores. Ou seja, não faz este comparativo. Porque se fizesse ele conscientizaria o seu leitor que os homicídios por armas de fogo aumentaram mais de 96% nos dez anos anteriores ao estatuto, mas apenas 17% nos dez anos seguintes ao estatuto.
Uma omissão inexplicável para alguém que se dedica a estudar o problema, um especialista em segurança pública.
Sem sequer atingir aquele que seria seu objetivo primário – conter o uso criminoso de armas de fogo -, ao estatuto, por óbvio, não pode ser atribuído qualquer impacto numa eventual redução global do quantitativo de homicídios (que sequer existiu), especialmente porque a maior retração nos meios letais vem ocorrendo, exatamente, naqueles sobre os quais essa lei não exerce qualquer influência.
Mas conter o uso criminoso de armas nunca foi o "objetivo primário" desta lei. E um especialista deveria saber disso. É aquela história do "estatuto não desarmou os bandidos". E não desarma mesmo, porque bandido não precisa de porte e nem compra arma em loja. Ele mostra mais uma vez que é desonesto porque o objetivo sempre foi lidar com o problema crescente gerado pela quantidade cada vez maior de
armas legais circulando nas mãos de "cidadãos de bem".
E um dado que não aparece no artigo do Fabrício Rebelo pode ajudar a entender este problema.
https://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/13/politica/1431542397_442042.htmlSe, por um lado, o número de pessoas brancas mortas por arma de fogo caiu 23% entre 2003 e 2012 (de 14,5 mortes por 100.000 habitantes para 11,8), a quantidade de vítimas negras aumentou 14,1% no mesmo período: de 24,9 para 28,5
Quer dizer, de 2003 pra cá a criminalidade vem aumentando ( como vem aumentando desde 1964 pra cá ), e isso se reflete no aumento do número de vítimas negras ( leia-se pobres ), porque os pobres e não os ricos são as maiores vítimas da criminalidade. Mas o número de vítimas brancas ( leia-se pessoas ricas! ) caiu 23% após o estatuto, o que parece mostrar que o porte disseminado de armas de fogo era mesmo responsável por muitas mortes que não estavam relacionadas com a criminalidade comum. E estes homicídios atingiam mais pessoas de maior poder aquisitivo, porque são estas as que mais portam armas legalmente adquiridas.
Um quadro que obviamente vai voltar a se apresentar da mesma forma quando o Bozo pulverizar o estatuto.