Por que? Não é razoável supor que "o mesmo" aumento ocorreria, mas proporcionalmente maior, com maior oferta de armas no mercado ilegal?
O quanto se considera que o efeito seja "curto" dependerá então do que está se considerando como o efeito; uma redução absoluta na mortalidade por armas de fogo, versus uma redução no ritmo do crescimento dessa mortalidade com menor oferta de armas de fogo, que deve aumentar em longo prazo, mesmo que as mortes violentas também aumentem.
Analogia quase insultante, o governo aumenta o preço dos carros para reduzir congestionamentos e mortes no trânsito, isso reduz a proporção de pessoas que podem comprar carros, a proporção que compra, mas os números absolutos ainda aumentam porque a população aumenta também, e assim também os acidentes e congestionamentos. Apesar de haver um efeito inicial mais brusco imediatamente, ele não chega a ser eliminado com o tempo, na verdade o efeito pode até ser dramático se comparado com uma projeção que mantivesse os mesmos ritmos anteriores.
O efeito nao foi eliminado com o tempo, mas sim puxado pra baixo pois a única regiao onde ocorreu reducao significativa de homicídios por arma de fogo foi o sudeste(que os motivos vao muito além do estatuto, que possivelmente teve um efeito pífio na reducao da violência dessa regiao ao longo dos anos). E essa regiao é muito populosa, e consegue fazer com que o crescimento seja mais lento no brasil como um todo. Os homicídios explodiram no nordeste e no norte a despeito de qualquer estatuto.
Sim, mas isso não seria inesperado do desarmamento ter um efeito não-nulo na redução do ritmo da subida na violência.
É praticamente algo tautológico supor que mais armas legais no mercado são eventualmente mais armas no mercado negro, barateando o acesso aos criminosos, e aumentando a mortalidade por armas de fogo.
A menos que se faça a suposição de que este mercado (para os criminosos), já está completamente satisfeito, que a demanda efetiva não cresce com oferta maior e mais barata.
E esta ocorrência muito provavelmente se daria com efeitos de retroalimentação positiva: com menor restrição legal de armas, o consumo legal aumenta motivado pelo medo crescente, isso indiretamente aumenta a oferta no mercado negro, que propicia aumento da violência, que aumenta o medo, que leva as pessoas a comprar mais armas.
No Norte e no Sul, o estatuto nao teve nenhum efeito na imediata implantacao em 2003(ou se considerar o que o pessoal do mapa da violência diz, se os homicídios aumentaram é porquê o estatuto teve efeito negativo!!!111!), no nordeste, 2003-2004 houve queda nos homicídios, mas em 2005 o valor voltou a ser o de 2003. Mesmo o efeito de curto(muito curto) prazo do estatuto só foi eficiente em 2 regioes no Brasil. E nao estou falando de apenas números brutos, eu mesmo usei a taxa de homicídios por 100mil habitantes que tem no MPV de 2015 que eu postei. O efeito é este na taxa, nao só no número.
Não sei se faz muita diferença números brutos ou taxa de homicídios, a questão mais relevante seria a taxa de aumento nesses números, preferivelmente com algum "ajuste"/consideração com fatores como pirâmide etária e composição familiar como correlatos de fatores de risco.
Analogia é algo como aquecimento global; pode "parar" as emissões de CO2 humanas, que o aquecimento ainda tem um fôlego autônomo, mas isso não significa que ele manterá o mesmo ritmo, apesar de ainda ser positivo.
Ou seja, o efeito no crescimento é um enviesamento causado pela regiao sudeste. E o suposto efeito imediato ocorreu apenas nas Regioes sudeste e centro-oeste, mas o estatuto teve cobertura em todo o país. Extremamente questionável o efeito tanto curto quanto longo prazo do estatuto.
Os estudos explicitamente não atribuem toda variação ao estatuto, tem os outros fatores como pirâmide etária e etc.
Que possível explicação poderia haver para a oferta de armas crescente no mercado negro não aumentar a violência, ou, sua redução, reduzir o aumento da violência? Frisando -- reduzir o ritmo no aumento, não reduzir a violência.
Isso me parece inquestionavelmente a hipótese mais onerosa, sendo necessário postular mecanismos ou estados duvidosos das coisas, como uma satisfação plena da demanda por armas e munições, em abundância tal que não faz qualquer diferença. Você oferece uma arma ilegal baratíssima para um bandido, e eles rejeitam, já tem um arsenal estocado e não tem mais onde guardar. Todos eles, porque nem tem mais bandidos "novos" surgindo, todo mundo empregado e satisfeito, fora os bandidos já atualmente estabelecidos.
E a sua analogia de carros fala de números brutos mas eu estou falando de taxas. De qualquer maneira, para carros é mais complicado ter um aumento de demanda ilegal de carros pra cobrir o efeito da intervencao do governo. (Tráfico de carros?).
Eu acho que não consegui explicar direito, porque tentei enfatizar não um efeito em números brutos (redução ou estagnação), mas uma desaceleração no ritmo do aumento do problema. Menor abastecimento do mercado ilegal via mercado legal = menor abastecimento dos criminosos. É algo muito implausível de ter um efeito nulo, mesmo que não signifique de maneira alguma a eliminação do mercado ilegal, apenas a redução de uma fonte. Fonte que, é razoável supor, tenderia a se abrir cada vez mais.
Se o Ciro na forca bruta tirar todo mundo do spc e reduzir o número de inadimplentes, mas depois esse número subir de novo porque as pessoas ficaram inadimplentes de novo, a proposta foi boa ou ruim?
Não enxergo qualquer analogia. Tirar as pessoas da inadimplência na canetada não está fechando qualquer "fonte" de inadimplência, mas talvez até de certa forma abrindo. Já a redução da entrada de armas no mercado negro praticamente só pode ter um efeito positivo, reduzindo o ritmo de armamento dos criminosos,
se comparada a um cenário onde essa fonte se mantém aberta ou se abre mais, mesmo que eles continuem se armando com um mercado negro ainda existente, mas com menor oferta, mais cara.