A cornitude está em se trair a pátria, votando "sim" no questionário que mencionei no post de 11:30:49. Concordar em trair a pátria e ainda dá razão a um gringo protecionista sofista qualquer.
E também não se trai a pátria (e ao mundo) abrindo as pernas para a devastação ambiental, fodendo com o ambiente para lucro pessoal?
https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2019/05/02/pl-de-f-bolsonaro-quer-acabar-com-reservas-e-pode-aumentar-desmatamento.htm
[...]
Um projeto de lei elaborado pelos senadores Márcio Bittar (MDB) e Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), pretende revogar todas as normas referentes à proteção de vegetação nativa das propriedades rurais --o que pode aumentar a margem de desmatamento desses imóveis.
[...] Os parlamentares argumentam que é preciso abdicar da proteção da vegetação nativa para "garantir o direito constitucional de propriedade". [...]
Os estados nacionais europeus não tem nenhuma moral ambiental para exigir comportamento de preservação de outros em diferentes continentes, porque é o continente com a menor cobertura vegetal original e com os biomas mais afetados.
Sem querer ofender, mas é um tu quoque infantil.
Não ofendeu, meu caro.
Ainda bem!
Mas não é tu quoque. É um fato.
Talvez numa visão mais ampla da história (sem tempo para piadinhas de idade), dando a Europa uma "identidade" como se fosse uma pessoa, sim, mas quando se fala de governos atuais, em especial o brasileiro atual, acho que não. E esse segundo nível de discussão é o que mais faz sentido lógico e prático.
A Europa, como um todo, não pode interpelar outros países sob um ponto de vista de superioridade moral na área ambiental, porquê não possui. Ela pode, outrossim, fazer recomendações chamando a atenção para as consequências das atitudes deletérias pretéritas deles sobre o Meio Ambiente.
E, é claro, podem fazer ameaças porque o que se aplica entre nações é a realpolitik.
Eu acho que essa leitura de "superiroidade moral" tem muito mais a ver com como as pessoas se sentem ao interpretar os textos do que fatos objetivos. Isso é, eles podem fazer recomendações e alertar para as conseqüências, mas isso quase inevitavelmente será acusado de ser um discurso de "superioridade moral" por quem tem algum interesse em se opor.
Ocorre algo similar no discurso mais amplo de proteção ambiental, mudanças climáticas, a direita americana e a brasileira adoram colocar as coisas em termos de "culpa," que é algo que as pessoas emocionalmente tenderão rejeitar ter, em comparação com responsabilidade, dever.
Aqui você erigiu um espantalho.
Em momento algum eu mencionei que o problema ambiental deve ser ignorado ou que o histórico não é importante.
Quando se diz, "a Europa não pode criticar X porque também praticou X," fica meio implícita a sugestão de "então meio que tudo bem X," ou no mínimo, "não vamos dar atenção a X," que calhamos de praticar.
Pode não ser a intenção sugerir isso, mas acho que é até algo mais inescapável do que interpretações de "superioridade moral" quando um estado critica algo imoral que um outro faz.
De longe o pior problema na questão toda não seria nem mesmo Macron dizendo, "ulalá, nós somos moralmente superiores a esses brasileirinhos desmatadores, nossa mata Atlântica ainda está intocada e trés chic enquanto a deles, mon dieu, está pior que Hitler queria para Paris," mas as políticas brasileiras. Que são mesmo imorais, indefensáveis. Qualquer ataque a um crítico acaba tendo mesmo que acidentalmente um aspecto de defesa.
O responsável a fazer é tentar fazer o possível para reverter o que for reversível e desencorajar danos futuros. E os europeus provavelmente lideram o mundo nisso.
Concordo plenamente.
A cessão, onerosa ou não, de conhecimento científico, cooperação tecnológica e a ajuda financeira são bem vindas. Até mesmo críticas.
Mas não com base em uma 'superioridade moral' que não existe.
Esse "não existir" é bastante questionável, especialmente se tratando do governo brasileiro em questão. Quanto quer que inexista, é menos importante do que as práticas imorais deste governo, mesmo que seja criticado por governos tão imorais quanto. Isso não deveria ser desvio de atenção.
O fato do Bolsonaro ser um hipócrita tem qual relação com a crítica que fiz?
Embora você não intencione a crítica como "eles destruíram, logo nós podemos destruir também,"* você pode talvez pegar trechos dela ou ela inteira (não lembro agora) e colocar "na boca" de um bolsonarista, que de fato fazem a mesma argumentação, mas dentro dessa linha de "tem que desmatar mesmo," "essa porra é nossa, caralho," etc.
Então não era referente à sua crítica, mas a bolsonaristas (e Bolsonaro) fazendo essa argumentação que compartilha esse ponto, de foco no Macron ou na Europa como "não moralmente superiores."
* que no podcast do Xadrez verbal meio que creditam, positivamente, numa versão mais "light," à diplomacia esquerdista brasileira, que fraseava isso de maneira mais aceitável e cautelosa, não o "destruir também," mas "desenvolvimento sustentável," algo mais justo para com países em desenvolvimento, que não podem ser cobrados com o mesmo rigor que os desenvolvidos, que se desenvolveram inclusive graças a uma exploração mais irresponsável dos recursos naturais na história passada. Também contudo associam conservacionismo aos conservadores, numa perspectiva mais ampla, como ser republicano caçador de ursos o presidente que criou os parques nacionais nos EUA, também mencionando que a URSS que poluia mais, não fazendo sentido a associação de "ambientalismo radical" com comunismo e etc.