Esta é parte do capítulo de introdução.
Se alguém quiser ter acesso ao livro todo, mas sabe que não vai mesmo compra-lo. Então me mande uma MP.
Obrigado por compartilhar. Mas parece que os autores cairam na armadilha do Olavão, que é debater o conspiracionismo em vez de investigar a queda do WTC 7 (por exemplo).
Entendo o que quer dizer.
Infelizmente o CC está acabando e o tema "conspiracionismo" nunca foi devidamente debatido de forma mais aprofundada. Apesar de entremear vários outros temas que tipicamente são abordados por aqui.
Bem, antes tarde do que nunca.
Em certos círculos, o termo "conspiração" adquiriu uma conotação pejorativa cercada de preconceitos. É como se a ideia de que qualquer conspiração possa atingir um objetivo, ou mesmo que tenha consequências, fosse própria de pessoas sem noção, com tendências a viagens na maionese. Ou isso, ou até mesmo a ideia de que possa existir tal coisa como uma conspiração!
O que é uma dissociação da realidade quase do mesmo nível de crer na conspiração illuminati.
Dissociação porque a História é repleta de conspirações bem documentadas. Conspirações que são fatos históricos tanto quanto a Segunda Guerra ou a queda do Império Romano. Maquiavel fez referência a várias em sua obra mais famosa.
A Inconfidência Mineira foi uma conspiração (nos referimos aos companheiros de Tiradentes como conspiradores). Também os republicanos conspiraram bastante para derrubar a monarquia e muitas conversas reservadas devem ter ocorrido a portas fechadas, em salões de lojas maçônicas.
Os nazistas tramaram o incêndio do Reischstag e botaram a culpa nos comunistas. O povo alemão acreditou, assim como depois também acreditou que postos de fronteira haviam sido atacados por tropas polonesas. Quando na verdade forjar este incidente já vinha sendo tramado há muito tempo. De fato, os uniformes usados pelos alemães para se passarem por poloneses, haviam sido contrabandeados por um agente alemão de nome Oskar Schindler. Sim, aquele mesmo que depois seria retratado como salvador de judeus em um filme do Spielberg.
Aliás, a estratégia do false flag é um tanto comum. Muitos devem conhecer os irmãos Grael, iatistas famosos aqui de Niterói, multi-campeões olímpicos e mundiais. Nem tão conhecida é a história envolvendo o pai dos Grael, o coronel Dickson Grael. Ainda capitão, arriscando a própria vida, Dickson impediu os militares de usarem o Parasar para explodir o gasômetro do Rio de Janeiro, localizado em uma via movimentada na entrada da cidade. O plano destes conspiradores era também pôr a culpa nos comunistas pela tragédia que iriam causar.
Anos mais tarde, novamente militares tramariam um false flag que possivelmente causaria uma tragédia ainda maior. Dessa vez foram impedidos pela providência, quando uma descarga elétrica de um transformador fez a bomba explodir no colo do agente que preparava o atentado.
Participando dessa operação estava um delegado do Espírito Santo, de nome Cláudio. Este policial eliminava em outros estados alvos indicados pelo DOI-CODI. Porém mais tarde se converteu, virou pastor, e deu um depoimento na Comissão da Verdade que revelou o destino de alguns desaparecidos durante a ditadura. Há um documentário ("Pastor Cláudio"), onde ele conta que que parte do aparelho repressivo era financiado por um grupo de empresários e homens influentes, auto-denominado "Irmandade".
Segundo o agora pastor, reuniões ocorriam em uma sauna no Rio de Janeiro com a presença de membros da Irmandade. Ali se decidiam execuções e operações que eram realizadas em várias partes do país. Garante ele que a Irmandade continuou ativa e operante mesmo após o fim da ditadura. E com o mesmo poder. Seriam os responsáveis por ele ter perdido todo o patrimônio adquirido durante o tempo que trabalhou para o Doi-Codi e até impediam que recebesse a aposentadoria a que teria direito. Uma retaliação por ter prestado o testemunho.
A menção a esta sociedade secreta de conspiradores, a Irmandade, é parte de um depoimento bastante consistente do pastor Cláudio, que inclusive levou aos restos mortais de alguns dos desaparecidos do regime militar.
Afinal, o que é conspiração? Se for um acordo velado entre um grupo de pessoas a fim de atingir objetivos escusos, então eu não entendo porque supor que isso não exista. Que não seja possível.
É como dizer que a máfia não existe. Que máfia não passa de uma "teoria da conspiração".
É preciso definir melhor o que seria uma teoria conspiratória do tipo que deve ser considerada com uma dose maior de ceticismo. Pra mim são aquelas que apresentam as seguintes características:
- As evidências apontadas não são suficientemente fortes diante da improbabilidade da conspiração.
- A teoria é seletiva, pinça somente fatos que pareçam evidências favoráveis.
- Existiriam explicações bem mais simples fora da conspiração.
- Parece improvável que a conspiração atinja seus objetivos por intermédio do plano proposto pela teoria.
- A argumentação é essencialmente ad hoc. Muitas hipóteses são simplesmente imaginadas para cobrir os furos da teoria.
- O objetivo da conspiração não parece justificar o esforço que estaria sendo empregado para atingir esse objetivo.
Nesse ponto seria interessante comparar uma teoria de conspiração desse tipo, com alguma outra que eu considere factível, para esmiuçar melhor estes pontos. No entanto isso demandaria muito texto.
Mas eu acho que as teorias do Olavo (abordadas pelo livro) são todas desse tipo. E os autores acertam quando afirmam que estas teorias são irrefutáveis. Justamente por causa da argumentação ad hoc, que pode lançar mão livremente de qualquer hipótese para dar conta de qualquer inconsistência na teoria. E também pela predisposição de quem já está convencido da conspiração, de que qualquer um tentando refutar a teoria, ou faz parte da conspiração ou é uma vítima sendo manipulado por ela.
Poderíamos, por exemplo, confrontar a teoria que imagina uma conspiração para estabelecer a URSAL no continente com as características listadas acima.
Depois eu faço isso. Estou com intenção de fazer.