Historiadores e arqueólogos procuram pistas da existência do homem que nasceu num estábulo em Belém há mais de 2 mil anos
Evanildo da Silveira escreve para ‘O Estado de SP’:
Anualmente, pelo menos desde o ano 336 de nossa era, parte considerável da humanidade celebra o aniversário de um carpinteiro, que teria nascido há mais de 2 mil anos, num estábulo em Belém, de uma mãe virgem, concebida pelo Espírito Santo.
Não há cristão no mundo, como se chamam seus seguidores hoje - que somam mais de 2 bilhões - que não conheça essa história e não a tenha como verdadeira. A ciência, no entanto, ainda tenta desvendar os mistérios em torno dela.
Historiadores e arqueólogos à frente, os pesquisadores procuram provas da existência de um homem chamado Jesus, que tenha vivido na Palestina judaica no início do século 1.º e sido julgado e crucificado.
Não é uma tarefa fácil. Jesus não deixou palavras escritas nem construiu nada material. Tampouco as crônicas e a historiografia da época fazem referências a ele. Além disso, não há vestígios arqueológicos nem de seu corpo em lugar nenhum.
A rigor, os únicos documentos que falam dele em profusão são os quatro Evangelhos (de Mateus, Marcos, Lucas e João, que comentarei em breve) e as epístolas de São Paulo, textos que estão na Bíblia.
Eles foram escritos, no entanto, entre o final dos anos 60 e os 90, do século 1.º, pelo menos 30 anos depois de sua morte, portanto. Por isso, uma frase do escritor A. N. Wilson, em seu livro Jesus, Um Retrato do Homem, dá bem uma idéia do que os cientistas sentem diante do desafio de desvendar esse mistério: "Tudo o que dissermos sobre o Jesus histórico terá de ser precedido pela palavra 'talvez'".
Vamos considerar primeiro as assim chamadas provas Bíblicas...
A despeito das declarações de apologistas Cristãos, não existe absolutamente nada no Velho Testamento (VT) que seja de relevância para nossa questão, além de que alguns profetas possam ter acreditado que um "ungido" (rei ou sacerdote salvador) reassumiria um dia a liderança do mundo Judeu. Todos os muitos exemplos de "predições" do VT sobre Jesus são tão ingênuos que basta apenas uma olhada para perceber sua irrelevância. Thomas Paine, o grande herege da Revolução Americana, fez exatamente isso e demonstrou a irrelevância deles no livro An Examination of the Prophecies (Um Exame das Profecias), destinado a ser a Parte III de The Age of Reason (A Idade da Razão).
A eliminação do VT deixa somente as "provas" do Novo Testamento (NT) e o material extra-bíblico a serem considerados. Essencialmente, o NT é composto de dois tipos de documentos: cartas e o que seriam biografias (os chamados evangelhos). Uma terceira categoria de manuscritos, apocalípticos,c dos quais o Livro da Revelação (Apocalipse) é um exemplo, também existem, mas não dão respaldo à historicidade de Jesus. De fato este parece ser um fóssil intelectual do mundo imaginário do qual o Cristianismo brotou – um apocalipse Judeu que foi retrabalhado para uso pelos cristãos. O principal personagem do livro (mencionado 28 vezes) pareceria ser "o Cordeiro", um ser astral que apareceu em visões (sem prova histórica aqui!), o livro todo cheira à velha astrologia.No apocalipse o Jesus que é citado obviamente não é um homem. É um ser sobrenatural. è importante resaltar que a biblia que conhecemos não está completa, por este motivo evangelhos não são provas, não são testemunhos verdadeiros. As epístolas de São Paulotambém não apresentam provas, elas só lembram Jesus como nada mais do que um magro boato, uma criatura lendária crucificada em sacrifício, uma criatura quase totalmente sem biografia.
Às vezes afirma que a "milagrosa" expansão do cristianismo no antigo Império Romano é prova de um Jesus histórico – tal movimento não teria ido tão longe e tão rápido se não tivesse havido uma pessoa real em seu início. No entanto, um argumento similar poderia ser usado no caso anterior da difusão rápida do mitraísmo. Desconheço qualquer apologista Cristã que argumentaria que isto daria apoio à idéia de um Mitra histórico!
Pelo lado arqueologico…
"Uma caixa para guardar ossos descoberta recentemente em Israel pode ser a primeira evidência arqueológica sobre a existência de Jesus Cristo. A inscrição do objeto, na língua aramaica, diz: "Tiago, filho de José, irmão de Jesus". Andre Lemaire, especialista em inscrições antigas na Practical School of Higher Studies da França, acredita que o objeto seja datado de três décadas após a crucificação.
Em artigo publicado na Biblical Archaeology Review, Lemaire diz que é muito provável que o achado seja uma referência autêntica a Jesus de Nazaré. Para Lemaire, o objeto data de 63 d.C. Nenhum artefato material do século I d.C. relacionado a Jesus foi descoberto até agora. O especialista acredita que, embora ainda existam muitas dúvidas, essa situação tenha mudado. Entre as perguntas que ainda estão sem resposta, está a dúvida de onde a peça com a inscrição esteve por mais de 19 séculos.
Lemaire disse que o estilo de escrita e o fato de os judeus usarem ossuários somente entre 20 a.C. e 70 d.C. colocam a inscrição na época de Jesus e Tiago. Os três nomes eram muito comuns, mas ele estima que somente 20 pessoas em Jerusalém chamavam-se Tiago e eram filhas de um José e irmãs de um Jesus. Além disso, colocar o nome do irmão e o do pai no ossuário era "muito incomum". Há somente um outro exemplo de um ossuário em Aramaico encontrado até hoje. "Portanto, o Jesus mencionado deve ter sido uma pessoa importante ou o próprio Jesus de Nazaré", conclui Lemaire.
A revista de arqueologia diz que dois cientistas de Pesquisa Geológica do governo israelense realizaram um detalhado exame microscópico da superfície e da inscrição. O dono da caixa também pediu a Lemaire para proteger sua identidade.
Tiago é considerado o irmão de Jesus no Novo Testamento e líder da Igreja em Jerusalém no Livro dos Atos e nas cartas de Paulo. No século I d.C., o historiador judeu Josephus escreveu que "o irmão de Jesus, que era conhecido como Cristo, era de nome Tiago", e foi morto por ser considerado um herege em 62 d.C. Se seus ossos foram colocados em um ossuário, isso teria ocorrido no ano seguinte, com a inscrição datando de 63 d.C.
O dono do ossuário nunca percebeu sua potencial importância até que Lemaire o examinou no início do ano. Hershel Shanks, editor da Biblical Archaeology Review, viu a caixa no dia 25 de setembro. "
Alguns dissem que Jesus seria um politico com ideias incomuns…
Para a arqueóloga Fernanda de Camargo-Moro, autora do livro Arqueologia de Madalena - Uma Busca Histórica da Companheira de Jesus (Editora Record, novembro de 2004), os poucos indicadores da existência de Jesus encontrados até hoje são muito fragmentados.
"Entre os mais importantes, está uma estátua, encontrada em 1961, em Cesaréia Marítima, na época a capital da Judéia", diz. "Ela contém os nomes do imperador Tibério e o de Pôncio Pilatos, governador da Judéia (de 26 a 36 d.C.), vinculado à crucificação de Cristo. É a única prova material da existência de Pilatos."
A esse fragmento de pedra, Fernanda junta em importância os papiros encontrados em Nag Hammadi, no deserto egípcio, em 1945. São os chamados Evangelhos apócrifos, não reconhecidos pela Igreja.
"Esses documentos, conhecidos como Biblioteca Gnóstica de Nag Hammadi, são o que há de mais importante para a comprovação da existência de Jesus", diz. "Embora pertençam aos séculos 3.º e 4.º, eles são cópias de documentos anteriores, dos século 1.º e 2.º comprovadamente existentes na época."
Para a arqueóloga, que também é autora do livro Nos passos da Sagrada Família, uma viagem no Egito na trilha de Jesus (Editora Record, Rio de Janeiro, 2000), esses papiros são tão ou mais comprovadores da existência de Jesus do que os próprios evangélicos canônicos (os quatro da Bíblia).
"Trata-se da maior descoberta do século 20", avalia. "E que foi estudada com maior zelo, por grandes especialistas das mais diversas procedências."
Apesar dessa escassez de provas materiais, há especialistas que dão a existência do Jesus histórico como certa. É o caso do historiador André Chevitarese, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para quem "Jesus de Nazaré, judeu que viveu no século 1.º, na Galiléia, de fato existiu".
Ele diz que foi possível chegar a essa conclusão, depois que surgiram, a partir dos anos 70, novas metodologias de análise de documentos da época de Jesus, como os Evangelhos.
Uma delas é chamada múltiplas confirmações. "Marcos e João, por exemplo, nunca se falaram ou trocaram informações entre si, e ambos não conviveram com Paulo", explica. "Mas eles escreveram textos que contam um história semelhante. Então o que dizem deve se referir a fatos que ocorreram."
Referências
Fora dos textos sagrados, uma das raras referências a Jesus aparece na obra do historiador romano Flávio Josefo, escrita em 93 da nossa era. Nela, ele comenta o julgamento e condenação à morte, em 62, de um homem que ele identifica como "Tiago, irmão de Jesus, o assim chamado Cristo".
Entre as relíquias do tempo de Jesus, a mais famosa, sem dúvida, é o Santo Sudário. Trata-se uma peça de linho com a qual José de Arimatéia teria coberto o cadáver de Jesus, cujos traços teriam sido gravados no pano para sempre.
O Sudário é conservado na Catedral de Turim, na Itália. Em 1988, a peça foi examinada pela Escola Politécnica de Zurique, na Suíça, com o objetivo de datá-la. Usando o método de datação com carbono-14, os cientistas concluíram que o material é do século 13.
A ciência não conseguiu, no entanto, convencer boa parte dos cristãos, entre quais inclusive alguns cientistas, da exatidão dessa data.
O argumento é que o Santo Sudário foi parcialmente queimado em 1532 e restaurado com tecidos dessa época. Isso poderia ter falseado o resultado da datação.
Por isso, muita gente leva em conta o que A. N. Wilson escreveu em Jesus, Um Retrato do Homem: "O Jesus da História e o Cristo da fé são dois personagens distintos, com histórias muito diferentes. É difícil reconstruir o primeiro, e, na tentativa de fazê-lo, é provável que pratiquemos dano irreparável contra o segundo."
(O Estado de SP, 24/12)
As minhas esperanças são duas. Primeiro encontrar o cadaver de Jesus, é provar que não existe ressureição, a outra, seria provar cientificamente que deus de fato não existe!