Acho que a necessidade de se apresentar provas de inexistência vale apenas para coisas tidas como científicamente provadas. Por exemplo, se eu afirmasse, "não existem genes", ou "o DNA não carrega qualquer informação genética". Mas quando são coisas como deuses, cujas definições e propriedades são vagas e confusas, não vejo uma afronta ao método científico ao se afirmar que não existem tais coisas.
Daniel, eu posso estar enganada, mas penso que a questão do ônus é bastante clara e geral. Acho que a Ciência e o Ceticismo não pretendem que as pessoas deixem de ter suas próprias crenças, mas que só afirmem aquilo de puderem comprovar. E que não elaborem teorias sem embasamento.
Ainda que, implicitamente, seja mesmo uma afirmação na crença da inexistência, do que algo que prentende ser uma afirmação realmente científica, de estar comprovada a inexistência absoluta de algo assim. Isso pela própria ausência de qualquer hipótese científica proposta para essas coisas. Não tem como refutar uma hipótese que nem definida é, ou que é definida de forma que se faz irrefutável.
Eu entendo o que está dizendo, mas perceba que eu não defendo a existência de deus, mas apenas a possibilidade. Como existem lacunas a serem preenchidas sobre muitas coisas e a limitação em que nosso conhecimento esbarra, existe a "possibilidade". Você já se perguntou por que Sagan escreveu o texto?
Eu acho que dizer que que algo não existe não necessita de algum tipo de prova final da inexistência absoluta desse algo, é mais algo como que a afirmação de que não se tem provas definitivas da existência desse algo; que por tudo que se sabe, não existe.
Tudo bem, mas a Ciência precisa ser séria, mesmo que isso, às vezes, seja um problema. Se a Ciência ou o Ceticismo "afirmar" que algo não existe, sem apresentar provas do que está falando, abre espaço para que qualquer um faça o mesmo e a idéia é justamente o contrário. Por isso é que a Ciência diz "por tudo que se sabe" ao mesmo tempo levando em conta suas próprias limitações e lacunas, isso é, "tudo o que não se sabe". Todas as possibilidades precisam ser levadas em conta, mesmo que remotas, pois para descartar uma idéia qualquer, diz a Ciência, é preciso "comprovar".
É infindável o número de coisas que qualquer um pode inventar a qualquer hora (ex.: como dragões invisíveis na garagem), sem nem hipotetizar a coisa de um modo que seja refutável, e acho que seria a versão do politicamente correto da ciência, ser hesitante em falar que essas coisas não existem, apenas por não existirem provas da inexistência. O normal, é que se considere essas coisas inexistentes, até que provem a existência, em vez de ficar "sem poder dizer com certeza nada sobre isso", apenas porque um conceito irrefutável foi inventado.
A Ciência não pretende como a religião estar acima do bem e do mal, por isso adquire seu direito de "autoridade" através do dever que se impôe de "comprovar" o que afirma. Não pode utilizar dois pesos e duas medidas, mesmo para casos extremos e absurdos, pois isso fere seus próprios princípios. A pessoa tem o direito de acreditar em dragões, como a Ciência tem o direito de duvidar. Caso a pessoa afirme que o dragão está na sua garagem a Ciência exige provas dessa afirmação e por isso mesmo não afirma que o dragão não existe, pois nesse caso, ô ônus da prova é invertido.
No caso a Ciência se limita a dizer que não encontrou evidências do dragão ou formula argumentos mais convicentes para explicar o caso, mas deixa o dragão invisível, do jeito que encontrou, sem fazer afirmações para não perder tempo com explicações que considera sem importância.
E se as pessoas entram aqui afirmando mundos e fundos, basta pedir provas, se elas tentarem inverter o ônus, basta dizer que não afirmou nada, mas se elas apenas questionam, acreditam ou sugerem novas idéias, cabe ao ceticismo argumentar e a própria questão cai ou se sustenta por sua própria lógica.