Caríssimos, não se deprimam. Ando um pouco ocupado.
No fritar dos ovos, aquele texto (que é exatamente o que foi indicado aqui), continua sendo uma bobagem inconclusiva, no que se refere à visão do autor em considerar a fé como herança cultural do homem primitivo. Apenas sobre esse ponto, que aliás é o que me interessa.
Críticas à instituição religião são feitas por um grande número de religiosos, eu inclusive.
Pois bem, escrevo para mostrar evidências sobre a fé como herança cultural do homem primitivo, depois de uma pequena pesquisa em alguns livros.
--- As crianças ---
"Dicionário de psicologia", de Michel e Françoise Gauquelin:
Animismo
Tendência para considerar os objectos como vivos e dotados de intenção. Encontra-se esta tendência nas crianças e nos primitivos, de maneira corrente, como mostra Lucien Lévy-Bruhl na sua obra "La Mentalité primitive". É detectado em graus diversos nos adultos em diferentes civilizações. A linguagem favorece essa tendência, pois diz-se «A Lua levanta-se», «Este automóvel não quer arrancar», etc.
Observem as crianças de tenra idade: elas são
egocêntricas, para elas tudo existe com intenções relacionadas com elas e têm imensas fabulações.
Os pais existem para cuidá-las, o Sol para aquecê-las e poderem brincar, a noite para dormirem, tudo gira em torno dela. O Sol é um homem e a Lua uma mulher, ambos com olhos e boca. Se uma criança magoa-se numa cadeira, a culpa é da própria cadeira. como se tivesse vida. Lembro-me da minha irmã mais nova dar pontapés numa cadeira dizendo que ela magoou, como se tivesse vida.
Eis os deuses das crianças, o Pai Natal (Papai Noel), o Menino Jesus, a Fada e o ratinho dos dentes, o João Pestana, e muitos mais. Eles são omnipresentes e omniscientes. Presenteiam pela boa conduta, mas também há os que castigam, como o Pai Natal que dá carvão aos meninos maus.
Há também os demónios, e muitos, mais que os deuses agradáveis: os papões no armário e debaixo da cama, os monstros que castigam os meninos maus, vampiros, seres monstruosos que raptam os meninos descuidados, os fantamas, as bruxas, o lobo mau que ataca os que se aventuram na floresta... tantos seres que são contados em fábulas para que as crianças refreiam de determinada conduta pelo medo. As crianças vivem as suas fábulas.
Quando era criança tinha medo do escuro: via duendes em fila a subir para a cama, e quando escondia-me no cobertor via vermes sobre o corpo e uma serpente a dirigir-se para mim. Olhava para a lâmpada no tecto e via uma face horrível. Os brinquedos no armário moviam-se. Eram os meus demónios. Até já vi o Pai Natal a colocar presentes perto da árvore de Natal, e para mim ele podia ser uma luz no céu.
As crianças são humanos em vias de crescimento, e deixam de agir do mesmo modo devido à sociedade informada. Ainda existem povos com as mesmas superstições que as crianças têm, com a
personificação das coisas e fantasia. No próprio
espiritismo há animismo. Como está escrito no dicionário citado, "é necessário conhecer com muita exactidão os mecanismos da Natureza para escapar este modo de explicação".
--- Os artefactos arqueológicos ---
Li sobre o assunto na "Enciclopédia COMBI VISUAL", nas secções "Idade da Pedra" (vol. 4, FLO-IN) e "Religião" (vol. 7, PLA-SOC).
Sobre a Idade da Pedra, diz que foram encontradas várias
estatuetas que representavam mulheres roliças, a maioria grávidas, levando a pensar que era praticado algum ritual mágico relacionado com a fertilidade.
Também faz referência a grutas onde se encontram
pinturas rupestres com imagens que representam a caça e as armas utilizadas, e animais com orifícios nas zonas que deveriam ser atingidas (talvez uma espécie de "vudu"). É realçado que as grutas não têm fonte de luz e muitas são de difícil acesso, logo não tinham quaquer finalidade estética.
Há mais de 150.000 anos, os homens de Neandertal enterravam os homens mortos com objectos usados no dia-a-dia, o que leva a pensar que acreditavam numa vida do além, enquanto que outros povos abandonavam os mortos. Na secção "Religião" da enciclopédia, diz que havia certas culturas onde acreditava-se que apenas certas pessoas viveriam após a morte; por exemplo (dado na enciclopédia) apenas os homens, e não as mulheres e crianças, ou apenas os reis e poderosos.
Sobre esse tema encontra-se muita matéria na TV, como no "Discovery Channel", "Canal Odisseia", "National Geographic" e "Canal História".
--- Certos povos actuais ---
"A Vida na Terra", de David Attenborough (selecções da "Reader's Digest", baseada na edição original Collins/BBC), sobre os aborígenes na Austrália:
Actualmente, são em número reduzido e desapareceram de grande parte dos seus territórios primitivos. Não fora o testemunho escrito dos primeiros colonos europeus e as poucas colecções de objectos curiosos que reuniram, e as únicas provas da existência dessas tribos extintas seriam alguns utensílios de pedra e alguns ossos -- na realidade, em tudo semelhantes aos objectos deixados pelo homem primitivo da Europa.
Na enciclopédia já referida, dizia que ainda existem civilizações que pertencem à Idade da Pedra em regiões isoladas com na selva da Amazónia e Austrália. Há ainda povos que nem têm sequer o
conceito de número, apenas com sons para indicar um, dois e muitos, mas sem qualquer abstracção, criando variantes para cada tipo de objectos (alguns livro de História da Matemática falam sobre isso).
O famoso biólogo David Attenborough mostrou povos que apresentam, sobre aquilo que sabemos, características dos homens primitivos. Aborígenes australianos fazem ritos sobre o seu mito de criação, com representações de lagartos ancestrais e a serpente arco-íris. Há uma caverna sagrada para os Walbini, onde dizem viver espíritos poderosos.
--- As religiões actuais ---
Não vou falar muito neste tema, querendo apenas dizer que até nas religiões modernas mostra mudanças e ramificações, e que os próprios textos sagrados, como a Bíblia, dizem que os povos acreditavam antes noutros deuses.
A maioria das religiões modernas apresentam características similares com a religião da antiga Babilónia. O cristianismo absorveu imensas crenças politaístas, e a Bíblia, em certas passagens, diz que há vários deuses. O
http://www.bibleorigins.net/ fala sobre o cristianismo e judaísmo.
O budismo, a religião sem Deus, tem origem no hinduísmo. No Egipto já adoraram o deus único, Aton, muito antes dos hebreus. E, na Pésia, Zaratrusta já tinha inventado uma religião com uma luta entre o Bem e o Mal, muito antes do cristianismo transformar Satanás no arqui-inimigo de Deus.
Houve transições para novas crenças, tal como tudo na História. Estamos habituados a ouvir sobre o Império Romano como algo que surgiu espontâneamente, mas vi um interessante documentário sobre os Etruscos. Também já vi um documentário em série sobre a exploração espacial, com os fracassos antes de poder enviar um foguetão para alturas consideráveis. Conhecendo transições na História tive uma ideia diferente sobre os pontos culminares.
Nada surge como por magia. Há tempo que decorre para surgir uma modificação importante, e antes dessa há várias modificações menos importantes. Sobre teorias da origem da religião, apresento algumas páginas Web:
A EVOLUÇÃO PRIMITIVA DA RELIGIÃO;
Animismo;
http://www.geocities.com/mgstenz/livro19032002.html; Abraços.