-- Respostas às perguntasO próprio Lévy-Bruhl admite que na mentalidade do homem primitivo, a sua relação com as coisas é pré-lógica e não antilógica. Por não ter a compreensão de um fenômeno da natureza, por exemplo, passa a explicá-lo, atribuindo tal acontecimento a causas sobrenaturais. O que poderia ele fazer, de modo diferente, naquele estágio, utilizando as suas habilidades perceptuais ?
Acho que confirmas o que já disse sobre
as explicações religiosas dadas nas áreas onde há lacunas científicas. Os conhecimentos mesopotâmios e egípcios serviram para fins práticos, mas eram estáticos. Na Jónia, quando ignorou-se o divino, o conhecimento da natureza e racional progrediu imenso. Os sacerdotes egípcios tinham receitas para resolver problemas, e os gregos ultrapassaram a limitação de fórmulas, pela abstracção.
As crenças religiosas adaptam-se com a sociedade em redor, esta não é como a mesma dos povos primitivos. Vivemos em sociedades laicas, onde a Ciência mostrou a sua eficácia, limitando cada vez mais as possibilidades das religiões. Basta verificar o caso da religião Católica Romana, que tem herança judaica (e esta, por sua vez, babilónica) e do cristianismo primitivo (que muitos alegam fundamentarem-se). Basta comparar no tempo quando tinha imenso poder e influência (que são consideradas absurdas pela maioria, e que foram sofrendo ajustes, com consílios e cismas), com as crenças actuais. Já não há Deus no céu (agora está na quinta dimensão), a Terra não é mais plana nem o centro do Universo, o significado de espírito tornou-se mais vago (uma força?), já começaram a aceitar a teoria da evolução, e consideram a permissão do uso do preservativo; antes a
Ciência era a inimiga, agora reconhecem os resultados produzidos, e
adaptam-se, mas há sempre algo
contra ela ou
tentativa de mostrar harmonia científica... É claro que existem organizações como a "
Flat Earth Society", mas são excepções que são risíveis.
E quero acrescentar que estou ciente das limitações do homem primitivo, e isso serve também de fundamento para o meu argumento.
A espécie humana teria surgido em apenas um determinado ponto do planeta ?
Eu sempre defendi que há transições. Até há alguma dificuldade por causa disso na taxonomia dos fósseis. E não disse que os humanos surgiram com preocupações religiosas -- aliás, falei mais especificamente nos Neandertais, que estão muito distantes do primeiro humano. Isso está de acordo com o meu argumento.
Como se explicaria a unicidade de pensamento em indivíduos que sequer articulavam palavras ?
Tenho muitas dúvidas em relação a essa unicidade: explica-te melhor. Não sendo claro, tenho dúvidas em responder, mas se é sobre comportamentos, posso até dar o exemplo de outros animais -- esses têm heranças anteriores. Mas não são universais, até mesmo no mundo animal. O capítulo sobre o instinto do livro "Origem das Espécies" dá imensos exemplos.
O homem primitivo, apesar das suas limitações, fez descobertas e inventos importantes, abrindo o caminho para a ciência e a tecnologia do homem moderno. Poderiam as nossas crianças da atualidade realizar tal façanha ? Poderiam conduzir a espécie humana até os dias de hoje ? Creio que não.
Nunca dei a entender que não há evolução cognitiva nos indivíduos. Por exemplo, uma criança muito nova tem dificuldades em saber que um objecto que deixou o campo de visão não desapareceu. O que eu digo é que se
mantêm os mesmos tipos de crenças, mas mais complexas -- os indivíduos não são estáticos --, e
isso revela-se mais em locais onde nem sabem que a Terra é esferoide, como alguns exemplos dados. E uma criança na nossa sociedade pode fazer muito mais que alguém de uma sociedade primitiva - a chave está na herança, na
transmissão de conhecimentos. Compara o menino selvagem (acho que foi encontrado na Índia) com qualquer criança educada na nossa sociedade, que aprende a falar, a contar, a vestir-se e a usar instrumentos muito cedo, que tem acesso a conhecimentos científicos básicos, nem que seja por programas de televisão. Eu aprendi muito cedo a atar os atacadores e a contar até doze com a "Rua Sésamo".
O homem primitivo fez descobertas com aquilo que era disponível na natureza e aproveitou-as para assegurar a sua sobrevivência e melhorar o seu bem-estar. E as descobertas tiveram um imenso intervalo para serem feitas.
Até os símios fazem descobertas e têm culturas, como a descobertas de que lavar batatas na águas salgada melhora o seu sabor, ou que pode-se guardar frutos até amadurecerem e batê-los com uma pedra por cima de uma rocha para parti-los, ou pode usar frutos amargos para espargir o corpo para matar parasitas. Não há nada de extraordinário nisso, e os biólogos estão cientes disso.
Acontece que
o homem tem um corpo mais adaptado para mais descoberto -- basta referir a mão --, e conservou os utensílios, trocando-os com outros grupos (como foram feitos com os índios, e como fazem as tribos actualmente). Isso levou a uma
necessidade de padrões para troca, levando ao comércio, levando por sua vez à necessidade da contagem e do cálculo. E assim termina a Pré-História, entrando na História. Depois podia falar sobre os Mesopotâmios, Egípcios, Gregos, Romanos, e por aí fora. Tenho livros sobre a História da Matemática e da Física que são óptimos para mostrar isso. E os canais televisivos "Discovery Channel", "História" e "National Geographic" também são bons.
Ser muito simplista dá uma concepção simplista do mundo.
A meu ver, tais considerações são o suficiente, também para as outras evidências apresentadas por você, Pedro.
Lamento, mas não creio. Só considero que escreveste mais directamente sobre o animismo, mas mesmo isso não invalida o que escrevi nem acrescenta mais, a não a informação sobre o animismo no Espiritismo, que agradeço muito. O que escrevi ao longo deste "post" salienta isso.
Já escrevi muito (desculpem-me os longos "posts", mas houve essa necessidade para falar sobre os vários pontos e ser o mais claro possível)... abraços e até à próxima.