Juca, esqueça a balança comercial, querer gerir isso é mercantilismo. Se a saída de dólares for suficiente pra deixar o mercado brasileiro competitivo (o que eu duvido, esse mercado não é tão grande assim e as empresas tem muita margem, como já visto acima), mais empresas vão produzir no Brasil.
E também, se a maior parte do dinheiro das montadoras é lucro ele está indo embora de qualquer jeito, então não faz muita diferença.
Se fosse simples e garantido o sucesso outros já teriam feito, só que não. Além da balança comercial ser imprescindível para as contas de um país que não é rico como o Brasil, existe os problemas cambiais, como o chinês que mantém sua moeda muito desvalorizada há décadas, existe o problema tecnológico, o qual não somos um país de ponta, e existe o problema de que por exemplo as montadoras são todas estrangeiras, e não tem matriz no Brasil e os lucros serem todos remetidos pra lá, sendo o único retorno pra nós são os investimentos feito em linhas de montagens de fornecedores e fabricantes.
Quando aconteceu do governo afrouxar só um pouquinho as regras de importação, foi a substituição dos automóveis feitos no Brasil pelos estrangeiros, sobretudo coreanos. Muito mais fácil para a Hyunday mandar seus carros de lá, onde suas fábricas estão ociosas e todos os fornecedores já instalados do que investir bilhões no Brasil para montar uma ou duas linhas de montagem. Beleza, compravamos carros coreanos a preços realmente melhores, mas sem gerar nenhum emprego direto no Brasil e sem nenhum centavo de investimento fabril no Brasil. O que você faria se fosse a VW ou a GM? Começaria substituir suas linhas de montagem por carros feitos em lugares onde já houvesse grande escala ou ociosidade, barateando ainda mais sua linha de montagem na China, Europa ou EUA. Eu faria isso sem pensar duas vezes.
Aí entra a balança comercial, onde o Brasil arranjaria dólares para pagar por essa importação em massa? Ou passamos a exportar o quanto importamos ou contraímos dívida externa. Exportar mais de uma hora pra outra está fora de questão, impossível, contrair dívida seria o caminho, mas o Brasil começaria a queimar a sua reserva internacional, ficaria mais vulnerável às especulações financeiras e voltaríamos ao tempo de FHC, onde qualquer espirro de algum país mundo a fora o Brasil logo contraia uma pneumonia.
Se você é governo não pode abrir mão da balança comercial, dos investimentos dentro país, dos empregos que são gerados aqui, ainda mais de uma industria que representa quase 10% do PIB. De outro lado, o governo não pode fechar o país totalmente às importações sob o risco do país ficar totalmente inviável do ponto de vista da competitividade, e por isso não é fácil chegar ao meio termo. E no meio disso o governo ainda tem tentar estimular a exportação, de modo que ela seja maior que a importação, porque somos um país que precisa de saldo comercial para tentar enriquecer numa velocidade maior.
Ficar profetizando que a liberação das importações resolveria o problema é não conhecer o problema de fato, que é muito complexo, tanto que quase ninguém sabe exatamente indicar onde ele está, sendo um conjuntura de aspectos que agregam outros aspectos menores que vão desde uma questão cultural e de hábitos, de competitividade, de protecionosmo, de margem de lucros, de câmbio, até no que diz respeito às contas do país e da entrada e saída de dólares e dos empregos gerados. Tem de tudo um pouco.
E vou falar mais, eu não sei o percentual, mas eu chutaria que de todos os carros fabricados no Brasil, entre 10% e 30% do toal são feitos com peças importadas, o que corresponderia a uma grande parte de importados.