Ninguém é obrigado a servir de meio para qualquer tipo de trabalho através dos espíritos. Ela pode se livrar na hora que quiser, basta querer. Os espíritos que constragem são sempre inferiores e devem ser evitados. Os bons espíritos sempre pedem, jamais impõem. Esse caso da sua amiga deve ser uma influência obsessiva. Quando ele mandou fazer um colar então, mostrou ser um espírito inferior preso ainda às coisas e símbolos materiais. Sai que é fria...
Infelizmente o que ocorre em muitos lugares, especialmente em terreiros de magia negra, mas também até em algumas casas espíritas, é que há uma espécie de ameaça, às vezes explícita, às vezes velada, de que algo ruim possa acontecer caso a pessoa se recuse a trabalhar para a entidade; ou que deixe de receber algo de bom. Nessas horas é que Allan Kardec faz falta, porque esse tipo de constrangimento é mentiroso. Nenhum espírito pode fazer algum mal a quem se recuse a trabalhar para eles; nenhum mal lhe acontecerá caso recuse ouvir a voz que lhe chama. E nenhum espírito pode cumprir promessas de bênçãos para quem quer que seja.
Alguns espíritos, bem ardilosos, sabendo que a pessoa é ignorante, fazem ameaças. Eles sabem que a pessoa ignora que eles não têm condições de cumprir a ameaça e se comportam como burros de carga que não sabem a força que têm. Diga para sua amiga que ela não precisa obedecer espírito algum se ela não quiser.
Só como exemplo, vou citar a conversa onde Allan Kardec foi convidado pelos espíritos a trabalhar na codificação do Espiritismo:
Pergunta (à Verdade) — Bom Espírito, eu desejara saber o que pensas da missão que alguns Espíritos me assinaram. Dize-me, peço-te, se é uma prova para o meu amor-próprio. Tenho, como sabes, o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade, mas, do papel de simples trabalhador ao de missionário em chefe, a distância é grande e não percebo o que possa justificar em mim graça tal, de preferência a tantos outros que possuem talento e qualidades de que não disponho.
Resposta — Confirmo o que te foi dito, mas recomendo-te muita discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, como podes falir. Neste último caso, outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam na cabeça de um homem. Nunca, pois, fales da tua missão; seria a maneira de a fazeres malograr-se. Ela somente pode justificar-se pela obra realizada e tu ainda nada fizeste. Se a cumprires, os homens saberão reconhecê-lo, cedo ou tarde, visto que pelos frutos é que se verifica a qualidade da árvore.
P. — Nenhum desejo tenho certamente de me vangloriar de uma missão na qual dificilmente creio. Se estou destinado a servir de instrumento aos desígnios da Providência, que ela disponha de mim. Nesse caso, reclamo a tua assistência e a dos bons Espíritos, no sentido de me ajudarem e ampararem na minha tarefa.
R. — A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se, de teu lado, não fizeres o que for necessário. Tens o teu livre-arbítrio, do qual podes usar como o entenderes. Nenhum homem é constrangido a fazer coisa alguma.
P. — Que causas poderiam determinar o meu malogro? Seria a insuficiência das minhas capacidades?
R. — Não; mas, a missão dos reformadores é prenhe de escolhos e perigos. Previno-te de que é rude a tua, porquanto se trata de abalar e transformar o mundo inteiro. Não suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranqüilamente em casa. Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contra ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga; numa palavra: terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da tua tranqüilidade, da tua saúde e até da tua vida, pois, sem isso, viverias muito mais tempo. Ora bem! não poucos recuam quando, em vez de uma estrada florida, só vêem sob os passos urzes, pedras agudas e serpentes. Para tais missões, não basta a inteligência. Faz-se mister, primeiramente, para agradar a Deus, humildade, modéstia e desinteresse, visto que Ele abate os orgulhosos, os presunçosos e os ambiciosos. Para lutar contra os homens, são indispensáveis coragem, perseverança e inabalável firmeza. Também são de necessidade prudência e tato, a fim de conduzir as coisas de modo conveniente e não lhes comprometer o êxito com palavras ou medidas intempestivas. Exigem-se, por fim, devotamento, abnegação e disposição a todos os sacrifícios. Vês, assim, que a tua missão está subordinada a condições que dependem de ti.
Há algumas características nessa mensagem que faltam a outros convites para pretensos trabalhadores:
1. Ninguém é obrigado a nada. Se Allan Kardec se recusasse, os espíritos se retirariam e convidariam outro. Nada lhe aconteceria de ruim.
2. Nada lhe foi oferecido caso aceitasse (glória, poder, riqueza, etc...). Pelo contrário, só lhe foram mostradas e oferecidas dificuldades. Em outras palavras, foi dito antes que os problemas viriam se ele aceitasse o trabalho, e não o contrário como geralmente acontece com algumas pessoas.
3. No caso de bons espíritos, não há insistência perturbadora para que se realize algum tipo de trabalho.
O caso da sua amiga é claramente um caso de obsessão. Diga para ela que pode ignorar a entidade sem medo. Talvez ela até a incomode por algum tempo, mas a deixará em paz quando perceber que sua influência moral acabou. Mal real nenhum pode lhe acontecer.
Quanto a proteger-se dos maus espíritos, só há um meio possível: instrução, para não ser enganado pelos espíritos inferiores e mentirosos. Nenhum amuleto ou técnica é capaz de evitar a obsessão e os obsessores não podem ser expulsos pelos homens. Mas pode-se conviver com eles sem que lhe façam mal, embora eles possam incomodar bastante.
Quanto ao livro do Pastorino (Técnicas da Mediunidade), ele me parece mais um curso de eletricidade básica. Eu por curiosidade vi o tal livro e o achei fraco. O melhor livro para entender a mediunidade ainda é para mim O Livro dos Médiuns. Ele explica sobre vários tipos de mediunidade e é praticamente um manual para não cair em armadilhas dos espíritos, como essa que sua amiga caiu.
Espíritos inferiores podem ser ouvidos, mas devem ser colocados no seu devido lugar, e não tratados como guias espirituais. Esse o principal erro da sua amiga.
Um abraço.