Nem tudo o que parece lógico pode ser verdadeiro, mas tudo o que não resiste à lógica é falso. Esse é um dos métodos de controle e o primeiro cadinho para qualquer sistema. Podem existir infinitas opiniões fundamentadas na razão, mas a esmagadora maioria delas não resiste a um exame lógico. É justamente por ignorar a lógica que muitos embarcam em sistemas descabidos.
Em minha opinião, somente depois de passar pelo crivo lógico a dúvida entre dois sistemas seria razoável. Mas infelizmente o que vemos são as pessoas tendo dúvidas entre um sistema que é lógico e um que é ilógico; e em muitos casos optando pelo sistema ilógico sem nenhuma reflexão.
Os céticos gostam muito de citar a história do Dragão da Garagem de Sagan para exemplificar os ad hocs. Mas será que essa teoria resistiria a um exame lógico, do como e o porquê de estar lá? Não resiste e, então, não deveria nem ser considerada como exemplo hipotético.
Mas é o que eu falei, Leafar, ser lógico é só o pré-requisito para a idéia merecer ser ouvida. Daí a essa idéia ser considerada verdadeira há um longo caminho, dizer que algo deve ser verdadeiro só porque é lógico é completamente falso, como o exemplo das zebras amarelas que eu te dei. Não há nada de ilógico naquele argumento, ele é falso não porque é inválido, mas porque não encontra correspondência na realidade.
Quanto à história do dragão na garagem, isso não é uma proposta séria, você sabe. É apenas uma analogia, um exemplo com fins didáticos. Eu não sei qual é o seu raciocínio para considerar que a história do dragão não é logicamente válida, mas isso não interessa, o que importa é que ela dá sim uma boa idéia de como afirmações
ad hoc tornam possível se defender qualquer coisa, até mesmo hipóteses ridículas, como um dragão invisível em uma garagem. Mas você te que admitir que os espíritos e os dragões em garagens têm muito em comum! São invisíveis, imateriais, indetectáveis... Só interagem quando querem, com quem querem, como querem e onde querem! Todas essas propredades, claro, são proposições
ad hoc para exlicar o simples fato de não existir prova material alguma que aponte para sua existência, temos que nos contentar com textos escritos por gente viva que diz que está escrevendo sob influência desses seres invisíveis... Fica muito difícil testar a existência de alguma coisa assim, até porque coisas invisíveis, imateriais, indetectáveis, etc. se parece muito com coisas que não existem!
O mal dos céticos não é a dúvida, pois ela é sempre lícita, mas o fato de rejeitar à priori tudo aquilo que não podem controlar por si próprios. Nem sempre é preciso ver para crer. Se conseguissem caminhar um pouquinho à frente e enxergar um pouquinho além das viseiras do chamado "método científico", que diz que o que não pode ser repetido não deve ser considerado como hipótese, poderiam tentar separar os sistemas lógicos dos ilógicos, para depois então tentar selecionar, dentre os que sobraram, quais poderiam ser os verdadeiros. Eu lhe garanto que o seu leque de escolhas não seria grande.
Ah, o leque de escolhas é bem grande sim! Você assistiu ao filme Matrix, por exemplo? Eu acho que a idéia por trás dele, de que todo o universo não passa de um programa de computador, é logicamente consistente. Pode até ser que o filme contenha algumas incoerências, mas é fácil trabalhar esse conceito para ser sólido como uma rocha. Já René Descartes, por exemplo, brincou com a idéia de o mundo exterior não existir, ele poderia ser um mero fruto de sua imaginação... Bom, Descartes já morreu e nem por isso o mundo acabou, mas e se na verdade ele for um produto da minha imaginação? Ou da sua? Essa também é uma possibilidade lógica. Há muitas outras possíveis, há uma infinidade de teorias que podem ser feitas sobre o que é a realidade, mas a realidade é somente uma, portanto deve haver uma descrição que é verdadeira e todas as outras serão falsas.
Como escolher uma teoria que esteja próxima da verdadeira? Eu acredito que o método científico é a forma mais prudente de se alcançar essa teoria. Ele pode ser demorado, pode não dar respostas muito satisfatórias, mas ainda assim é o método mais prudente, aquele que anda mais longe do erro. Se os espíritos existirem, eu acredito que um dia, nem que seja daqui a muito tempo, a ciência vai chegar até eles. Mas acreditar nisso antes desse momento chegar é colocar o carro na frente
dos bois e se arriscar demais! É navegar por águas desconhecidas, e isso pode te deixar é mais longe da verdade ainda.
Mas infelizmente a postura cética é sentar e esperar que venham lhes mostrar as provas de assuntos que são de seus próprios interesses. É claro que, como já disse, pode-se não se estar interessado por hora em se aprofundar em assuntos metafísicos por se ter outras prioridades na vida. Mas então que se portem humildemente diante da questão não refletida e digam que não têm opinião formada. Dizer que um sistema que parece lógico não é verdadeiro só porque não conseguem experimentar é quase uma leviandade.
Alguém que diz que o espiritismo é falso porque não há provas que o validem não é um cético de verdade! Ceticismo é dúvida. Quando eu digo que não acredito em espíritos eu não estou afirmando categoricamente que espíritos não existem, eu estou dizendo que não tenho crença na sua existência. Até que me apresentem provas, continuarei não acreditando neles da mesma forma que até que me apresentem provas da existência de elefantes selvagens nativos da Floresta Amazônica eu não acreditarei neles. Note que a existência de elefantes selvagens na Amazônia, apesar de improvável, não é nada ilógica, eles poderiam descender dos mastodontes que habitavam a América do Sul milhares de anos atrás. Agora, embora a existência de uma espécie desconhecida de elefante na nossa selva seja algo logicamente possível, isso ser verdadeiro são outros quinhentos.
Esse é um exemplo de hipótese que, por exemplo, não resiste à lógica. Um charlatão fingindo mediunidade dentro de um grupo fechado, de graça, durante anos e ninguém perceber é muito difícil e, mesmo que ocorresse, seriam raríssimos.
Você mesmo admitiu que a hipótese de um charlatão no seio da comunidade espírita
não fere a lógica. Coisas ilógicas são impossíveis. Coisas "muito difíceis" e "raríssimas" não são ipossíveis e, portanto, são completamente lógicas. Se isso é verdade, são outros quinhentos, mas você não pode usar a lógica para te defender neste tema.
E como eu já disse antes, enganar alguém que quer ser enganado é mais fácil que roubar doce de criança.
Já alguém enganar a si mesmo e conseqüentemente os outros seria mais razoável. Mas alguém que engana a si mesmo ter lucidez o suficiente para forjar estilos (porque até a imitação teria que ser inconsciente), é um fato muito muito mais difícil ainda de se acreditar.
Se a pessoa realmente acredita que há pessoas diferentes se comunicando através dela ela pode muito bem forjar estios diferentes inconscientemente, não é preciso lucidez para isso.
Agora, Leafar, você falou uma coisa interessante: "muito mais difícil ainda de se acreditar". Crença é uma coisa bastante subjetiva. Para você, a explicação que eu sugeri é difícil de acreditar. Para mim a minha explicação é fácil de acreditar e a sua é difícil. É evidente que esse critério de análise é extremamente subjetivo. Já que você demonstra tanto apreço pela lógica, deixe então eu tentar explicar porque eu acho que a minha explicação é mais fácil de acreditar:
É um fato plenamente conhecido que as pessoas são imperfeitas. Isso é tão óbvio que você vai facilmente concordar, pois a imperfectibilidade do homem é inclusive uma peça central da própria doutrina espírita. Sendo assim não é novidade que pessoas mentem pelos mais variados motivos, erram e se enganam. Nosso cérebro nos prega peças e nós mesmos nospregamos peças através de nosso próprio cérebro quando queremos nos enganar. Eu mesmo admito que já fui vítima várias vezes da auto-sugestão, de
wishful-thinking, da confiança em pessoas que não a mereciam, da credulidade... eu sou cético, mas não sou de ferro, ora bolas! Sendo assim, o caso de pessoas mentindo, errando ou se enganando por aí não constituiria nenhum fato surpreendente para mim, não mudaria em nada a forma como que entendo que funciona o mundo.
Já a sua explicação, por outro lado, é uma explicação que exige um esforço muito maior de imaginação. Você acredita que esses fenômenos para os quais eu tenho explicações triviais, na verdade são muito mais complexos. A sua explicação diz que [1] a inteligência humana não é produto apenas do cérebro, mas também de uma substância imaterial chamada espírito (não há provas), [2] esse espírito é imortal e se separa do corpo quando morremos (não há provas) e [3] o espírito "desencarnado" é capaz de se comunicar com os vivos (não há provas). Para aceitar a sua explicação eu tenho que dar no mínimo três saltos de fé. A minha explicação é baseada em fenômenos triviais, a sua é baseada em um conjunto de proposições extraordinárias, cada uma delas altamenet questinável. Eu sinto muito, mas para mim é muito mais fácil acreditar na minha explicação do que na sua.
Você pode argumentar que há sim provas para cada uma dessas proposições, mas as provas que você que você sugeriu até agora como as mais conclusivas são as supostas cartas psicografadas que por si sós já são altamente questionáveis...