Bem vindo de volta, Copelli! Andou sumido.
Sempre que se entra no assunto do aborto surgem os mesmos argumentos de sempre. Que destruir um embrião é destruir uma vida. Sim destruir um embrião é destruir uma vida. Assim como todo alimento que consumimos de animal a vegetal também constituem biologicamente em vida. Animais ainda são mais do que somente vida, são formas de vida extremamente complexas e geneticamente muito próximas a nós.
Então eu pergunto: No mundo de hoje é crime destruir uma vida, ou é crime destruir uma vida humana?
Um ser humano em potencial não constitui vida humana. Se uma pró-vida acredita que constitui, então não entendo porque eles não choram durante dias após uma ejaculação, menstruação. Ou ainda cada vez que uma mulher perde um óvulo fertilizado, o que acontece muito.
Mas no fundo acho que ninguém com um mínimo de conhecimento afirmará que um amontoado de células constitua-se uma vida humana. E logo saberão que o aborto só é condenável culturalmente em quase todo mundo, pois nossa cultura se deriva de religiões e crenças primitivas, onde não se tinha o conhecimento científico suficiente para se afirmar que um embrião, não é um ser humano.
Se um embrião não é vida humana, E não chega aos pés de formas de vidas complexas como um boi ou um frango, porque seria crime destruí-lo em qualquer hipótese 
Pra quem ainda não leu é bem legal esse artigo de Carl Sagan e sua mulher, que eu li no livro Bilhões e Bilhões, a alguns anos, não conferi se ele está completo no link, mas acho que está. 
Aborto. É possível ser ao mesmo tempo “pró-vida” e “pró-escolha”?
http://ocanto.webcindario.com/sagan.htm
Uma ejaculação poderia ser considerada um genocídio! Em cada gozada condenamos 200 milhões de espermatozóides à morte. Mas não apenas com uma gozada, como o tempo médio de vida de um espermatozóide é de três a cinco dias, não tentar engravidar alguém num intervalo de tempo maior do que esses poderia ser considerado crime por omissão

E se levarmos a sério a idéia de que um gameta merece ser tratado pela lei como se fosse um ser humano adulto, nossa medicina deveria se esforçar para salvar a vida de cada espermatozóide de cada pessoa, a cada semana cada homem geraria algumas centenas de milhões de filhos. Não preciso nem falar que isso além de inviável é indesejável.
É claro que é necessário demarcar um limite entre o que merece a proteção legal que garantimos ao que chamamos de seres humanos e o que não merece. O problema todo do debate entre os pró-vida e os pró-escolha está justamente em definir por onde passa essa fronteira. São como palestinos e israelenses discutindo a divisão de Jerusalém.
Eu li
Bilhões e bilhões, sou fã do Sagan, mas sua argumentação, embora muito boa, não é incontestável. Sagan defende que o que torna o ser humano especial e merecedor de proteção da lei é o seu cérebro altamente desenvolvido, portanto, fetos que ainda não desenvolveram SNC não têm aquilo que é mais essencial ao ser humano.
Eu, porém, acho que dizer que o que torna algo um ser humano é seu cérebro é tão pouco preciso quanto dizer que o que torna algo um elefante é a tromba. Ambos, cérebro e tromba, além de tudo o mais que faz de um humano, humano ou de um elefante, elefante, não passam da manifestação daquilo que está escrito em seus genes.
Claro, o que torna o ser humano destacado na natureza é o desenvolvimento do seu cérebro, o que torna o elefante destacado é o tamanho da sua tromba e no caso da girafa o que vale é o pescoço. Mas não são somente essas qualidades que a biologia considera na hora de delimitar as fronteiras entre as espécies. Dois indivíduos são da mesma espécie se, ao atingirem a maturidade sexual puderem cruzar entre si e deixar descendentes férteis (excetuando-se os casos de indivíduos nascidos estéreis devido a problemas com o aparelhamento sexual).
Além disso, por mais que se argumente que o ser humano é único na natureza porque tem cérebro, pode-se argumentar que o que faz de cada indivíduo único entre os seres humanos é seu código genético. Claro, você pode lembrar dos irmãos gêmeos, que têm o mesmo material genético, mas são indivíduos diferentes. Mas o que faz deles diferentes? A nível microscópico, seu material genético não é mais exatamente o mesmo, pois mutações aleatórias ocorrem na escala celular. A nível pessoal, suas consciências (quando aparecem) não estão interligadas, os pensamentos de um são diferentes dos do outro. A nível social e cultural, o que os torna diferentes se dá após seu nascimento, quando eles passam a interagir socialmente. Mas mesmo que fossem iguais entre si, eles ainda seriam diferentes de todo o resto da humanidade por compartilharem em comum um código genético.
Sob essa perspectiva, a partir do momento da fecundação já temos ali a matriz, a raiz de um ser humano completo, único e exclusivo entre todos os outros. É o DNA que faz de nós humanos. Literalmente.