Quem falou que devemos esperar por outra vida? esta é uma confusão habitual de vcs! devemos trabalhar pelo bem estar nosso e do outro, sempre! uma coisa não anula a outra!
Não é confusão. Estou consciente disso. Os textos religiosos em geral falam da caridade, e coisas semelhantes. Isso é natural, pois quem elabora uma doutrina escreve os dogmas que acredita serem benéficos, mas geralmente apoiando com uma repreensão inevitável, que noutras condições seria inóqua.
Por outro lado, dizes coisas como:
- "julgar que á vida é apenas tentar viver da melhor forma possivel, é apenas uma visão!"
- "E se minha maneira melhor possivel for contra a lei? e se vivo num país onde a lei é quase sempre injusta! sabendo disso e que só tenho essa vida, e que nenhuma outra justiça vai me cobrar nada, poderia eu aproveitar a minha maneira?"
A opressão da Igreja Católica, a escravatura, descriminação em relação a negros e mulheres, o Apartheid, o colonialismo inglês na Índia, a ditadura salazarista em Portugal, o Vietname, etc. Como foram resolvidas essas injustiças? Acho que não foi com esse teu pensamento pessimista em relação à vida.
A vida e morte são consequencias da existencia, não podem ser separadas! logo, tem o mesmo valor! estão separadas apenas pelo fisico eo extra fisico! devem ser valorizadas igualmente!
Assumindo que existe vida após a morte.
me dá um exemplo de algo bom, otimo! apenas não esqueça de outros tantos ruins que possam existir! a diferença é de pespctiva somente! ficando claro que a minha sim, é infinitamente mais otimista que a sua!
Vou dar um exemplo da minha experiência pessoal, que já contei por vezes no fórum. Sofro da doença de Crohn. Não tem cura - é crónica. Depois de um novo tratamento com Remicade, injectado todos os mêses durante uma manhã numa veia do pulso, adicionei uma entrada sobre a doença na Wikipedia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Doen%C3%A7a_de_Crohn . Pode confirmar na "história", e verá que está lá o meu nome no momento em que foi criada.
Pois bem, os sintomas da doença começaram quando era criança, sentido-me mal-disposto com certas comidas. Tive diarreia, sangrava do recto, vomitava, custava-me andar. Tive de comer uma papa horrososa, manter-me em jejum durante um dia inteiro e fazer vários testes. Diagnosticaram-me a doença.
Alguns anos depois, ao saír de uma aula, comecei a sentir comichão à volta do ânus. No dia seguinte custava muito a andar. Descobri que tinha um abcesso próximo do ânus. Tive de esperar que rebentasse naturalmente (o desejável), ou seria abortado com uma agulha. Tinha medo de urinar e evacuar, pois doía muito. Tinha também medo de ter de andar. A minha mãe lavava-me e cuidava de mim. Sentia-me um miserável, todo suado e com cabelo desgrenhado, sempre deitado na cama, a não ser para ir à casa-de-banho, encostando-me nas paredes, ou para lavar-me.
Numa noite sentia o abcesso doer mais do que o costume. Tive pesadelos e pensava que ia morrer de tanta doer, sonhando com uma agulha para aliviar a dor, abortando o abcesso. A minha mãe ouviu os meus gemidos e choro, e acordou-me, dando-me um unguento quente para aliviar a dor. Depois dessa noite, acordei sem dor, e estava com os lençois todos sujos, com um líquido com cor de café: era pus e sangue. O abcesso foi abortado.
Fui para as emergências, e tive de receber um tratamento duas vezes por semana, muito doloroso. Consistia em injectar água oxigenada com uma seringa na ferida do abcesso. Durante anos, tinha de ir para o hospital, levando uma hora a chegar lá, para pesarem-me, medirem a minha altura, picarem-me o dedo e deitar-me numa marquesa, expondo o rabo para a enfermeira que injectava a água oxigenada, enquanto segurava com firmeza a marquesa ou a mão de uma enfermeira, ou da minha mãe, e cerrava os dentes para não gritar. Também, em casa, tive de passar tempos sentado em recipientes com água quente e Betadine, para desifectar a ferida, e ocupava o tempo a ler livros das avenrturas de Sherlock Holmes (tenho a colecção completa).
Tive de colocar supositórios, inserir uma espuma no recto, fazer dietas. Fui tratado.
Um par de anos depois, aconteceu tudo outra vez, mas desta vez com dois abcessos em cada lado, com o ânus no meio. Decidi ver as feridas com um espelho. Era uma cena de terror: parecia que tinha uma cratera no rabo, com pus a cair. Para me sentar, nos primeiros dias, servia-me de uma boia. Quando estive melhor, tinha dificuldades em andar, por isso o meu pai levava-me à escola de carro. Perdi os meus primeiros testes na escola, e quando colegas souberam, alguns chamaram-me de dois cus. Quando já podia andar, cansava-me, por isso não participava nas disciplinas de ginástica na escola. Remédios tinham efeitos secundários, como alucinações, e estava muito magro, fazendo dietas para emagrecer.
Não posso comer gelados, chocolates, sopas com puré, arroz de marisco, beber leite, café e álcool. Apesar de estar muito melhor, todos os dias sinto as cicatrizes e em certas alturas do ano doem-me e tenho febre.
Por isso não aceito lições morais sobre dor e suicídio. Sei o que é dor. Sei o que é sofrer.