Leandro Karnal conta que seus alunos leem três parágrafos de Nietzsche e decretam: "Não concordo!".
Ele simplesmente responde:" Se você estudar Nietzsche 30 anos no original em alemão talvez você entenda. E a chance de não concordar é pouca."
Que ridículo isso. Variação de apelo a autoridade. Você pode "refutar" qualquer discordância dessa maneira. "Vai estudar Marx/Mises/Jesus/Feng-Shui por trinta anos primeiro e depois vem dar sua opiniãozinha, ok".
Serve também para a religião: "Vai estudar o livro famoso X (estudado por vários mestres e doutores) por trinta anos primeiro e depois vem dar sua opiniãozinha, ok".
Sim, o espantalho serve e se encaixa perfeitamente. Nós podemos até sintetizar e generalizar o espantalho ( tomando cuidado para não fazer um espantalho do espantalho ) para ficar ainda mais claro a falácia de apelo à autoridade: "Não questione nada até ser considerado um perito no assunto."
E então seria com essa postura que Leandro Karnal, historiador gaúcho formado pela Universidade Vale dos Sinos e Universidade de São Paulo, professor da prestigiosa UNICAMP, ministraria seus cursos.
Toda vez que um aluno levanta a mão ele simplesmente o faz calar dizendo: "Mas quem você pensa que é para estar questionando isso?"
Mesmo assim é considerado um grande professor, idolatrado pelos alunos. O cara "modinha" que é. Ah, não se fazem mais alunos como nos tempos da ditadura. Nem professores!
Ou isso, ou você pode suspeitar levemente que não há hipótese de se extrair esta conotação da citação que foi feita.
O comentário em questão exige mínima perspicácia para se perceber que provavelmente é puramente retórico, não sendo o relato exato de nenhuma situação que já tenha ocorrido realmente em sala de aula, mas apenas utilizado para ilustrar descontraidamente de um tipo de mentalidade ingênua e até certo ponto pretensiosa, que ele observa nos seus alunos.
As possíveis razões para esse tipo de comportamento ( dos alunos ) assim como o contexto da palestra em que o Karnal fez a piadinha citada já expliquei e esmiucei 4 ou 5 "posts" 'pra' trás, portanto não há necessidade de me repetir.
Mas observe isso:
No que foi dito, não está implícito que o cara tenha "desprezado Nietzsche depois de ler três parágrafos", mas mais provavelmente ele discordou de um ponto em particular. Por mais que se possa dar alguma razão a todo culto que ele recebe, seus textos não são verdades incontestáveis, irretocáveis em qualquer ponto. Nem sabemos qual foi a discordância do sujeito. Pode ser que ela possa ser bem sustentada, e até fazer parte da crítica filosófica a Nietzsche, nunca vamos saber.
O "cara"? "Ele"? O "sujeito"?!
E nem sabemos qual foi a discordância do sujeito. Nunca vamos saber.
É verdade, porque ainda por cima existe a dificuldade adicional de que
NÃO EXISTE NENHUM SUJEITO.O
cara,
ele, o
sujeito que depois de ler 3 parágrafos discordou de algum ponto do pensamento de Nietzsche, mas teve sua crítica prontamente desqualificada com uma reles falácia de apelo à autoridade (postura muito incomum para um professor) NEM SEQUER EXISTE! Este sujeito que apareceu aí não se sabe como é só mais um espantalho.
Porque isto é que foi citado:
Leandro Karnal conta que seus alunos leem três parágrafos de Nietzsche e decretam: "Não concordo!".
Se se quer fazer leitura literal, sem "interpretações generosas", o que estaria não só implícito, mas explícito, é que
TODOS OS ALUNOS do Leandro Karnal, após lerem 3 parágrafos de Nietzsche ( não 2 ou 4 parágrafos, mas exatamente 3 ) DISCORDAM!
Se todos concordam com a mesma discordância e se esta pode ser bem sustentada e até fazer parte da crítica filosófica a Nietzsche, a citação não deixa pistas.
Só mandando um e-mail para o Leandro Karnal para saber.