Talvez um bom ponto de partida seja definir prioridades e reconhecer que no mundo real não haverá uma onda de purificação "pentecostal" emanando do Deus Mercado nem do Deus Estado...
Por exemplo, teoria, ideologia ou crença alguma justifica que se deixe de dar atenção às necessidades básicas de subsistência da população. POR OUTRO LADO, as questões sociais tem tanto causas econômicas quanto consequências econômicas, por isso é preciso reconhecer que as soluções sociais passam pelo econômico também. Medidas como planejamento familiar e estrito controle de despesas com saúde e previdência tem o seu lugar, pelo menos em tese.
Acho que quando falamos em esquerda ou direita, socialismo ou capitalismo, acabamos invocando estereótipos que não apenas variam de uma pessoa para outra, mas também predispõem a confrontos que não tem uma base de entendimento muito boa. Por exemplo, é bobagem achar estranha a existência dos
Pink Pistols só porque eles não podem ser convenientemente encaixados nos estereótipos de esquerda e direita, mas ainda assim a estranheza existe. É hora de abandonar essas muletas velhas.
Então eu proponho que se tire a ênfase dos conceitos de esquerda e direita, capitalismo e socialismo - que possivelmente já estão vagos e contraditórios demais para ajudar de qualquer forma - e se pense mais em propostas específicas e concretas, considerando não apenas os aspectos social e econômico (partindo da premissa de que eles não podem ser realmente separados) mas também outros de importância estratégica - a viabilidade ecológica, o impacto cultural, as demandas educacionais, até mesmo o impacto sobre os ambientes familiares.
Me ocorre também que muito do que se considera socialismo não tem por que ser necessariamente iniciativa do Estado, que é uma das instituições de maior inércia que temos. Iniciativas ligadas à educação, trabalho e até mesmo segurança e saúde podem e possivelmente devem ser encorajadas em um nível mais comunitário do que estatal. Entre outros benefícios, isso traz possibilidade de escolha, experimentação de várias propostas concorrentes ao mesmo tempo e uma participação (e dedicação) mais direta dos associados. Por exemplo, não vejo problema em que exista uma previdência e um sistema de saúde públicos, mas acho que devemos vê-los como uma alternativa entre várias.
O desafio é reunir uma massa crítica comunitária capaz de entender, aceitar e se motivar a enfrentar desafios que tradicionalmente são vistos como "problema do governo". Mas penso eu que esse desafio não é novo, apenas não tem sido devidamente reconhecido.