Rapaz, o pior é que tenho um tio que é médico, extremamente cético e crítico quanto à maioria das bullshits pseudocientíficas que aparecem por aí, tais como astrologia, adivinhação, OVNI, macumba etc; mas é kardecista, e dá razão a todas as baboseiras que corroborem com essa pseudociência. Além disso, ele cria suas próprias "teorias", tal como a de que seu filho mais novo é a reencarnação de um de seus irmãos, que morreu a mais de 20 anos.
Essa é uma das situações que mais me intriga na minha existência: pessoas que "respiram" ciência (e os médicos são um dos exemplos) com essas crenças bizarras, para não dizer outra coisa...
Fica totalmente fora da minha compreensão, pois esses profissionais (médicos, dentistas, engenheiros de qualquer área, astrônomos, etc.) se arrebentam de tanto estudar ao longo da vida, lidando o tempo todo com situações óbvias que, presumivelmente, deveriam afastá-los dessas fantasias... Mas, não é o que se vê na prática.
Aqui em minha cidade, existe um dentista que é o "guru" dos Kardecistas da região. O cara perdeu um filho ainda muito jovem e, anos depois, a esposa num acidente de carro. Promove palestras sobre a "vida depois da morte", além da fervorosa prática da sua crença.
Não consigo entender como funciona a mente de alguém assim, especialmente um profissional da área de saúde que, como já disse, foi exaustivamente bombardeado com uma carga descomunal de conhecimento científico.
Aliás, desde que abandonei religião há 40 anos, nunca mais essa questão saiu da minha cabeça...
Amigo, já tentei responder essa questão e acredito que dois são os fatores para que isso aconteça: um relativo à educação e outro à cultura.
A educação brasileira não é lá grande coisa, raríssimas são as pessoas que concluem a graduação sabendo o que é ciência e método científico (principalmente nas ciências humanas e nas aplicadas). Eu mesmo sou um exemplo, pois fui aprovado em vestibular e conclui minha primeira graduação num período em que as teorias científicas e as baboseiras místicas/esoteróides estavam em pé de igualdade na minha cabeça (os demônios descritos por Aleister Crowley, para mim, eram tão plausíveis quanto a teoria da gravitação universal, e isso não impediu minha formatura). Só fui entender a metodologia científica nos últimos anos, quando já estava cursando minha segunda faculdade (agora particular), e por minha iniciativa, pois se dependesse de meus docentes, sairia tão idiota quanto no dia em que entrei.
O segundo fator é cultural, porque, no Brasil, é "cool" você acreditar em alguma baboseira religiosa ou mística. Não foram poucas as vezes que ouvi frases do tipo: "tão jovem e inteligente, mas não acredita em nada" ou "não precisa de religião, basta acreditar em Deus".
Percebo que entre as pessoas com curso superior, muitas são bastante críticas quanto às religiões, mas nota-se que é muito comum se simpatizarem por crenças misticóides orientais, tais como meditação, feng shui, reiki (de alguma forma elas acham que essas são melhores que as baboseiras místicas ocidentais).
Menciono isso porque pratico yôga em casa atualmente (que, inclusive, é o melhor remédio para minha coluna), mas quando frequentava o centro de yôga, vi um monte de nego formado (médicos, engenheiros, psicólogos,...) acendendo incenso para "limpar" o ambiente, meditando com foto de guru pedófilo para ativar o terceiro olho e almoçando sushi de manga porque comer carne atrapalha o despertar da kundalini. Enfim, há uma linha tênue entre praticar os exercícios de yôga para fins terapêuticos e adotar toda a baboseira esotérica que a yôga traz em si que eles parecem não enxergar.