Pois me alegra não ter te provado nada! Aliás, me assustaria se, pelo contrário, acreditasses ter extraído quaisquer novas representações mentais e argumentações especulativas a partir das minhas declarações, já que você lê com o Ego e, consequentemente, com o pensamento convencional e com todas as peças que ele prega. Você espera por uma tentativa de convencimento, de articulações de proposições e de uma ânsia por razão e vitória, mas não verá nada disso aqui, porque todas estas coisas não passam de armadilhas da mente, frutos da Ignorância Fundamental e dos desejos insaciáveis por Controle e Segurança. A Iluminação, pelo contrário, é justamente um processo destrutivo, um esvaziamento, uma via negativa. Não há que adquiri-la ou conquistá-la, mas que render-se, abrindo mão de todas as suas ilusões, desejos e representações. Não é um caminho oferecido ao ego mas, pelo contrário, uma senda na qual o próprio ego deve se oferecer em um holocausto cujo sacrifício nos libertará de nossos vícios e paixões. Cristo é a personificação do Logos no homem e sua trajetória descreve o caminho que devemos realizar interiormente para a realização da morte do Ego e ressurreição do Novo Homem completamente liberto de sua natureza animal e unicamente voltado para a aspiração superior. Para um ateu comum, as escrituras sagradas não passam de letras mortas e fábulas grotescas, bem como não passam, para o crente vulgar, de superstições e especulações caricatas. Textos místicos não são literatura fantástica, mas verdades a serem vivenciadas como instruções poderosas para o despertar de um transformação interna e obtenção de um estado superior de consciência. Para lê-los corretamente, é preciso decifrá-los, enxergando além das imagens e aparências. Infelizmente essa proposta soa absolutamente confusa e hermética demais para um homem hílico, que, como citado por El Elyon, é absolutamente identificado com o mundo das aparências e das imagens e retém atrofiada sua capacidade de contemplar as formas perfeitas, as arché subjacentes ao reino das efemeridades. O homem psíquico, ou sensível, pode ao menos acessá-los emocionalmente, extraindo lições e alegorias e recorrendo aos templos exteriores, construídos por mãos humanas. O homem pneumático, o Adepto ou virya desperto, é aquele que se dispõe a construir em si mesmo o templo da divindade, eis o sentido há muito perdido da ars reconstructio da franco-maçonaria. Entretanto, seria contraprodutivo, ou até mesmo danoso, da minha parte, forçar um estado de percepção ao qual meu interlocutor não se encontra preparado nem predisposto. Até porque meu leitor tenta alcançá-lo com ferramentas erradas, como tentar voar de barco e navegar de avião. Vejo então claramente que suas percepções de mundo se encontram plenamente adaptadas a seus atuais estados de consciência. A discussão, então, seria vã, uma tentativa frívola de abarcar por meio da doxa o que pertence unicamente ao reino da gnosis. Certas maravilhosas faculdades psíquicas ainda lhes permanecem adormecidas, como o botão da rosa que, cedo ou tarde, florescerá em seu próprio tempo, tal como a aurora desponta após a noite escura, o que também é especialmente verdadeiro para a chamada "noite escura da alma". O reino divino é uma realidade palpável, experimentada diretamente por uma certa consciência divina, átmica, a qual permanece ofuscada e oprimida pela consciência inferior, ignorante, egóica. Como reconheço que meus esforços são fúteis e estão destinadas ao fracasso todas essas minhas tentativas de descrever e compartilhar o que tenho experimentado desde que coloquei os pés na Senda, contento-me em ter deixado uma contribuição, uma interpretação alternativa, que sirva ao menos para um aprofundamento de vossas reflexões a respeito da transcendência. Que as Rosas floresçam em vossa Cruz! Já para o El Elyon, acerca dos oponentes (potestades), recomendo as declarações de Don Juan a respeito dos Voadores em Lado Ativo do Infinito, de Castañeda, não esquecendo nunca que se trata do mesmo tipo de texto e ensinamento do qual tratei anteriormente aqui, para que não recaiamos no erro da superfície, da imagem e da caricatura. No mais, agradeço pela discussão e encerro minha participação.