O flip e o flop Flip flop é o nosso "vira casaca", que no português se refere mais a quem muda de partido do que de idéia, como no inglês, onde também tem o sentido figurativo de dar uma cambalhota ou salto mortal.
Em resumo, quem flip-flopa quebra a palavra.
A expressão surgiu na Inglaterra há mais de quatro séculos e significava o som das sandálias no chão ou como deboche de alguém que tinha orelhas grandes.
Nos Estados Unidos, onde é mais usada - e abusada -, um dos grandes casos de flip flop foi do presidente Lincoln, que havia prometido não invadir o sul nem interferir na escravidão sulista. Deu na Guerra Civil.
Aqui a expressão pegou primeiro como substantivo. O maior jornal de Los Angeles, em 1890, criticou uma mudança de opinião do prefeito com a manchete: "Flip Flop: prefeito Eaton executa outro salto mortal de costas".
Foi a partir da virada do século 19, quando os candidatos passaram a ser escolhidos em cáucus e os chefes dos partidos começaram a perder poder, que o flip flip deu seu grande salto no jargão político.
Nos tempos modernos um dos mais famosos flip-flops foi de Ronald Reagan, que mudou não só de opinião como de partido. Durante décadas foi democrata e virou a casaca.
Eleito governador da Califórnia como republicano, assinou a mais liberal das leis de aborto do país em 67. Quando disputou a Presidência anunciou que era contra o aborto.
Jimmy Carter atacou estas mudanças, mas Reagan tinha uma imagem consolidada e a "flipada" foi aceita como uma “evolução” pelos consevadores republicanos.
Na eleição de 2004 John Kerry foi massacrado pela máquina que elegeu George Bush. O senador não era ainda bem conhecido no país e a campanha republicana pegou pesado nas mudanças dele sobre a guerra no Iraque.
Quanto menos conhecido nacionalmente mais fácil ser vítima de uma imagem falsa criada pelos marqueteiros.
No Brasil, por exemplo, é mais fácil criar uma imagem falsa do governador de Minas do que do governador de São Paulo.
Um estagiário da campanha de Bush ia aos comícios de John Kerry vestido de Flipper, o golfinho, famoso pelas cambalhotas. O deboche reforçou a imagem de indeciso que derrotou John Kerry.
2008 pode entrar para a história como ano recordista do flip flop. The Daily Show, com John Stewart, um dos maiores sucessos da TV por assinatura, se refere à eleição com o bordão "2008: Ano da Indecisão".
A maior mudança do democrata, o candidato menos conhecido, foi sobre os fundos públicos de campanha que ele tinha prometido aceitar e aparece se comprometendo com os fundos em várias gravações.
Na semana passada, com os cofres cheios de dinheiro de partidários e corporações, flipou.
Obama tinha um discurso mais populista quando Hillary Clinton ainda estava no páreo. Agora ja flopou nas questões de impostos dos ricos, das corporações e nos acordos comerciais.
O senador McCain deu duas grandes guinadas: era contra a redução dos impostos de George Bush. Agora é a favor.
Na questão da imigração propôs uma lei generosa. Hoje é a favor do muro e das posições mais conservadoras.
Manter a mesma opinião também tem riscos. O senador Obama defendeu tão bem o etanol e, numa grande surpresa, derrotou Hillary Clinton no cáucus de Iowa, terra do milho.
Esta semana o New York Times mostra que passa todo tempo nos aviões e no aconchego milionário dos grandes produtores de etanol.
O senador, modelo de coragem e honestidade, tem medo de parecer muçulmano. Obama não pode ver uma sinagoga ou uma igreja com porta aberta, mas nunca visitou uma mesquita apesar dos insistentes apelos.
Pior: os assessores proibiram duas muçulmanas - com véus - de aparecer numa foto atrás do senador. Não estavam nem ao lado dele. Que coragem é esta?
O senador McCain tem um problema maior porque precisa se livrar do presidente sem alienar o partido. Manter a palavra é tão perigoso quanto flipar. Afinal George Bush foi um modelo de perseveração nas suas posições políticas e está na lama, com um dos menores índices de aprovação na história americana.
McCain flopou em imigração, impostos e hoje corre atrás dos evangélicos que ele criticou na campanha anterior.
Na questão de credibilidade as pesquisas mostram Obama como o mais honesto e confiável dos candidatos, com uma vantagem de 6% sobre McCain, mas a diferença já foi de 15%.
McCain é flip, Obama é flop. Quem executar o perfeito salto mortal vai ser presidente.
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http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/06/080625_euaeleicoeslucas_ac.shtml