No Missouri, Obama precisa mostrar tudo A 33 dias da eleição, pinta Obama com quase 5 pontos percentuais de vantagem nas pesquisas nacionais. Esta é a média. Em algumas, ele chega a nove pontos de vantagem. Um número bom, mas não confiável. A crise econômica ainda está em vigor. Faltam dois debates presidencias e um dos vices. Sarah Palin empalidece, mas pode surpreender nesta quinta-feira.
A máquina republicana arma a ofensiva de outubro que derrubou números favoráveis de Al Gore em 2000 e de John Kerry em 2004. O vice do presidente Clinton parecia aposta certa. Virou pastelão e foi roubado na Flórida. O senador John Kerry, herói de guerra no Vietnã, foi transformado em frouxo falsificador de currículo.
As pesquisas estaduais são mais confiáveis. Há um mês, 19 eram considerados cruciais. Caíram para 14 e hoje são seis: Colorado, Ohio, Flórida, Pensilvânia, Missouri e Virgínia. Nestes, Obama lidera em três - Colorado, Pensilvânia e Virgínia, o único no sul e uma surpresa, mas hoje vamos falar sobre o Missouri, o Estado que votou no presidente vencedor em todas eleições do século 20, menos uma, em 56. O melhor recorde do país.
Votou duas vezes em Clinton e duas em George Bush. Em população é o 18º do país (6 milhões de habitantes), um microcosmo americano, meio sulista e meio oeste. Nem um, nem outro, dizem os missourianos.
As duas maiores cidades são Kansas, a mais ocidental das cidades do oeste, e St. Louis, a mais oriental das cidades do leste. Faz fronteira com Illinois, terra de Barack Obama e Arkansas, onde os Clintons reinaram por 12 anos.
McCain está na frente com três pontos de vantagem, mas no sul do Estado ele não era o candidato favorito dos republicanos. Preferiam o evangélico Huckabee, mais conservador. Sarah Palin fez efeito. Os eleitores naquela área são caçadores e na lista de prioridades estão o direito de andar armado, aborto - contra - e segurança nacional. Nos cafundós do Missouri, Osama Bin Laden assombra e dá votos para McCain/Palin.
Obama aposta no voto negro urbano, metade da população de St. Louis e um terço de Kansas City, mas a história mostra que, no dia da eleição, a maioria não comparece. Obama tirou verbas de outros Estados sulistas, onde a vitória parece impossível e abriu 40 escritórios em Missouri. Só em Kansas City tem 200 voluntários, uma operação maior do que a dos republicanos mas os negros são apenas 12% do Estado.
A maioria dos missourianos são descendentes de alemães, grandes produtores e consumidores de álcool, um dos poucos Estados onde os pais têm direito de servir bebida alcoólica para os filhos de qualquer idade. Grandes cervejeiros e uísqueiros, agora apostam pesado na produção de vinhos.
Esta eleição tem semelhanças com a de 1960, quando John Kennedy ganhou de Nixon com uma das vantagens mais apertadas na história, tanto no colégio eleitoral como no voto popular. Nixon fez campanha na base da falta de experiência de Kennedy.
Até hoje, historiadores discutem se Kennedy ganhou nos votos roubados, cortesia do pai, grande contrabandista de álcool no tempo da lei seca, com poderosas conexões etílicas em todo país antes de se tornar cidadão exemplar, multimilionário, embaixador e pai de presidente.
O refrão do Estado é “Show me State”, reflete uma gente que quer mostrar o que que tem, de não acreditar em histórias sem provas. Para conquistar o Missouri, compensar pelo seu liberalismo e falta de experiência, para quebrar a vantagem de McCain, Barack Obama terá de mostrar tudo que tem e mais alguma coisa.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/10/081001_lucasmendeseleicoes.shtml
Cruzando os EUA: No Missouri, eleição começa na escola Kayla Hager, de 11 anos, está acompanhando as eleições presidenciais de perto. Depois de sua professora ter pedido aos alunos de sua classe para que estudassem os candidatos, ela se tornou fascinada pela corrida à Casa Branca.
“Eu não estava interessada antes”, disse ela. “Mas agora que estou fazendo essa tarefa, acompanho tudo”.
O envolvimento dos mais jovens com a política parece ser uma coisa especial do Missouri. Aos 11 anos, eu mal sabia o que era uma eleição.
Na sala de música do colégio Poplar Bluff Fifth and Sixth Grade Center, Kayla me disse que quer que Barack Obama seja eleito – ela gosta de suas políticas de educação e ambiente. No entanto, a maioria dos adultos com quem conversei não pareceu tão animada com nenhum dos dois candidatos.
Na superfície, essa escola de cidade pequena parece um milhão de milhas distante do tumulto que atinge Wall Street e Washington.
Mas está mais perto do que você pode imaginar. O orçamento para educação no Missouri é financiado pelos impostos imobiliários. Se o mercado continuar a recuar, os fundos disponíveis para as salas de aula do Estado também serão reduzidos.
O custo humano da crise econômica estava muito visível para a professora de quinta série Joan Lack, de 32 anos. Ela já ouviu algumas histórias de partir o coração contadas por seus alunos.
“Tivemos uma aluna que contou que sua família não conseguiu pagar a conta de luz. Quando eu tinha 10 anos, não sabia o que era uma conta de luz”, disse.
“Tenho medo que deixem a escola e cresçam no meio de uma depressão”, confessa.
Como eu já tinha notado, Missouri é um Estado de liderança no que diz respeito às eleições. Eu não fiquei surpreso ao ouvir que a economia era uma questão super importante por aqui. Mas parece que a educação é bem preocupante também.
A mãe de Kayla, Brandy, de 34 anos, ainda não decidiu em quem irá votar. Ela trabalha em uma loja de móveis e já percebeu uma queda nas vendas e uma crescente ansiedade nos clientes.
Apesar disso, o que realmente a preocupa é a escola dos filhos e, em particular, uma série de reformas recentes introduzidas no sistema de educação do Estado.
Em 2002, a lei No Child Left Behind Act introduziu exames obrigatórios aos estudantes. Os resultados foram publicados e as escolas que não demonstrassem melhoria seriam sujeitas à sanções severas.
Com planos ambiciosos para Brandy, Kayla ficou frustrada que crianças com bom desempenho estavam sendo ignoradas - porque a pressão sobre as professoras é por um melhor desempenho dos alunos mais fracos da classe.
“Não senti que as necessidades dos meus filhos foram atendidas”, reclamou.
“Eles são bom alunos, conseguem bons resultados. Mas a No Child Left Behind não faz nada por eles”.
Nem todos concordam. A diretora, Patty Robertson, estava orgulhosa que a escola havia feito progresso no ranking das escolas. Ela me guiou pelos corredores, e eu vi filas de meninos e meninas de 10 e 12 anos felizes esperando pelas aulas. Me pareceu um bom lugar para aprender.
Patty não acredita que as reformas na educação tenham sido perfeitas. Para ela, o objetivo de fazer com que cada estudante seja proficiente em leitura e matemática até 2014 é inatingível e não leva em consideração crianças com necessidades especiais.
Patty pensava que um empurrão era tudo o que era preciso para fazer a política funcionar. Com a aproximação das eleições, ela estava preocupada em eventualmente ser obrigada a fazer uma escolha entre um candidato que iria drasticamente mudar as políticas e outro que iria deixar tudo estagnado.
“Estou preocupada com ambos. Tenho receio que não teremos mudanças se McCain for eleito”, disse a diretora.
“Mas com Barack Obama – bom, não queremos que tudo seja mudado. Então acho que ainda estou decidindo”, afirmou.
Então esse é o Missouri. E a história sugere que o resto do país vai prestar atenção no que acontece por aqui.
*Jon Kelly é jornalista da BBC e está cruzando os Estados Unidos em um ônibus. Por onde passa, ele entrevista americanos sobre qual é o melhor rumo para o paíshttp://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/10/081001_cruzandoeuamissouri_np.shtml