O racha da Fórmula 1 e a farra das aventureirasA Fórmula 1 se diferencia de qualquer outra categoria do esporte a motor mundial por uma razão teoricamente simples, mas complicada (e cara, bem cara) na prática: para que uma equipe alinhe no grid, é preciso que ela tenha construído seu próprio carro - os motores podem ser fornecidos por uma fabricante independente, como acontece com as líderes Brawn, que compra blocos Mercedes, e Red Bull, que tem um acordo com a Renault. Mas com relação ao chassi não tem jeito: ele precisa ter sido construído pelo time. E é isso o que diferencia em termos de tecnologia e custos, por exemplo, a F-1 da Indy.
Nos Estados Unidos, qualquer um pode comprar um chassi Dallara, sapecar um motor Honda e se inscrever nas 500 Milhas de Indianápolis (é claro que não é tão simples assim, mas o caminho é esse). Max Mosley e seu polêmico teto orçamentário não querem acabar com o princípio do que se chama "propriedade intelectual sobre o carro", mas buscam diminuir o valor absurdo que se gasta para ter um bólido minimamente competitivo e, assim, abrir as portas da categoria para mais equipes e pilotos, atrair mais patrocinadores, público e, claro, grana. Ideia perfeita, certo? Errado.
Por querer impor as coisas de seu jeito, Max tem feito com que as manchetes sobre Fórmula 1 se dividam em dois "templates": "Equipe X se inscreve para 2010" e "Equipes da FOTA ameaçam abandonar a categoria". A FOTA é a Formula One Teams Association, criada em 2008 para tentar dividir mais democraticamente as receitas do circo entre os próprios times e a FOM (Formula One Management), empresa de Bernie Ecclestone detentora dos direitos comerciais da categoria. Por mais que as duas tenham o "Formula One" no nome e em tese busquem apenas melhorar o espetáculo, elas têm interesses díspares e ambições gigantescas. E é aí que começa a bagunça toda.
Depois de meses de ultimatos e blefes, o que parecia ser apenas um jogo político vem tomando forma e pode culminar numa tragédia para os fãs de automobilismo: o fim da Fórmula 1 como conhecemos. Ainda é a hipótese menos provável, mas hoje é uma hipótese. E o tom da voz de Mosley vem subindo nas últimas semanas justamente pelo anúncio de tantas inscrições de times interessados em viver o sonho de ser Brawn GP em 2010. Mas eles sabem que nada na F1 é tão fácil assim e a equipe de Ross Brawn é o que é hoje porque até o ano passado tinha a estrutura da Honda. Mesmo assim, nomes como Lola, March, Brabham, e Lotus (que seria ressuscitada pela Litespeed) vem surgindo como candidatas a vagas no ano que vem, o que, novamente em tese, fortaleceria uma improvável Fórmula 1 sem Ferrari, McLaren e cia. (a Williams já disse que manteria sua grife onde ela está hoje).
Enquanto isso, do outro lado da mesa, caras como Luca Di Montezemolo, chefão da Ferrari, Ron Dennis, que hoje comanda a McLaren à distância e Flavio Briatore (que não manda tanto como os dois primeiros, mas é o interlocutor entre os executivos da Renault e os homens do paddock) já estão de saco cheio da prepotência da FIA e de Mosley (sim, porque Ecclestone é inteligente o suficiente para perceber que é preciso acalmar os ânimos para que todos não saiam perdendo).
Só que entre a inteligência de Bernie e a arrogância de um cara pouco normal como Max (lembram-se dos rituais de sadomasoquismo com temas nazistas nos quais o dirigente esteve envolvido no ano passado? Pois é...) há uma grande diferença: Ecclestone, por mais que seja um capitalista nato, tem compromisso com aquele negócio. Ou você acha que ele quer terminar seus dias vendo "o lojinha" que cuidou com tanto carinho (carinho que o levou a ter uma das maiores fortunas da Inglaterra) vivendo de equipes ressuscitadas e com pilotos de segunda?
Já Mosley não está nem aí. Se amanhã um acordo não sair e as grandes montarem uma categoria paralela, levando consigo nomes como Ferrari, McLaren, Fernando Alonso, Felipe Massa, Lewis Hamilton e Sebastian Vettel (nem todos os pilotos dizem abertamente, mas está claro que eles vão onde suas equipes estiverem), Max Mosley vai fazer questão de dizer que a Fórmula 1 continua um sucesso. É improvável, mas hoje já não é impossível. E seria triste.
300 km/h- Das mais de dez equipes que se inscreverem no Mundial do ano que vem, duas ou três têm condições de colocar carros minimamente competitivos no grid. O resto só quer especular
- Mesmo com restrições orçamentárias, não é fácil desenvolver um Fórmula 1 do nada. Que o digam Honda e Toyota, que, mesmo gastando os tubos, levaram muitos anos para ter relativo sucesso
- As equipes que já jogaram a toalha neste ano (todas além de Brawn GP e Red Bull) ainda não começaram a desenvolver o carro de 2010 por um simples motivo: não sabem quais serão as regras.
http://br.noticias.yahoo.com/s/15062009/48/esportes-noticias-racha-da-formula-1.html