De um conterrâneo amigo meu...
http://www.blogdocapelli.com.br/2009/06/uniao-de-ocasiao/União de ocasião19 de junho de 2009 - 16:20
Na foto acima, os donos de equipe aparecem unidos e com largos sorrisos. Dissidentes da Fórmula 1, possuem um objetivo comum: estabilizar o regulamento, tornar a categoria mais atraente, ingressos mais baratos, comando unificado e sem disputas de poder. O discurso da FOTA é muito bonitinho, só falta soar “Depende de Nós” como trilha sonora. Mas será que isso é realidade?
Em parte, sim. Porque hoje, os senhores sorridentes acima comungam sim de um mesmo objetivo: assumir o controle da Fórmula 1. Os inimigos são dois, Max Mosley e Bernie Ecclestone. Mas tal qual União Soviética e Estados Unidos na II Guerra Mundial, apenas o inimigo comum os une. E, com o fim da guerra, são grandes as chances de cada um saltar para um lado, dando início a uma temerária guerra fria.
Considerando apenas o hoje, a Fórmula 1 das dissidentes parece muito bonita. Dinheiro, patrocinadores, grandes pilotos, grandes equipes, não tem como dar errado. Mas quando estes senhores tiverem confirmado o grito de independência e dado uma banana a Bernie & Max, vai continuar assim?
Montadoras e equipes querem a vitória. E vão dar um jeito de levar vantagem de alguma forma, seja ela escusa ou não. São adversárias e, em alguns casos, até inimigas. Como conciliar toda essa gente debaixo de um mesmo teto? Tal qual num “Big Brother”, as diferenças saltarão aos olhos. E a união inicial termina rapidinho, já na definição do regulamento técnico, com cada um puxando a brasa para o seu assado. Quando chegar a hora de dividir os lucros então… será um Deus nos acuda. Barraco.
É necessário um órgão independente que arbitre os conflitos de interesse. E isso dificilmente a FOTA conseguirá. A Fórmula 1 dissidente tem tudo para implodir rapidamente, não só em função dos conflitos, mas também por razões econômicas. Historicamente, as montadoras entram e saem da categoria, de acordo com o balanço anual ou o humor dos acionistas. E se mais duas ou três resolvem debandar, como fica a tal nova categoria? Será ela financeiramente atraente a times independentes que queiram completar o grid?
O quebra-cabeças é complexo e o racha exposto ontem é o típico caso em que todo mundo tem razão e, ao mesmo tempo, não tem razão nenhuma. Mosley está certo em não deixar a FOTA ditar sozinha os rumos da Fórmula 1. A FOTA está certa em chamar Mosley de autoritário. Mosley desestabilizou a categoria com mudanças estapafúrdias de regulamento técnico e esportivo. As equipes da FOTA - leia-se montadoras - contribuíram com a implosão da F1 ao elevar os custos a níveis absurdos. Ninguém é santo nessa história e não fico ao lado de ninguém.
Todos são a doença e todos são a cura. Só é preciso entendimento. Se o racha realmente acontecer, a probabilidade é que a categoria da FOTA seja um sucesso inicial, mas que comece a rolar ladeira abaixo conforme os conflitos de interesse forem ficando cada vez maiores, até uma nova implosão. A F1 de Bernie & Max pode viver dias de inanição, mas pode em poucos anos começar a reabrigar times insatisfeitos com a briga interna da FOTA.
Ainda há esperança de que a separação não ocorra. Ambos os lados sabem que será prejudicial a todos, a questão agora é saber quem vai ceder. E se ninguém ceder, perdem todos. Principalmente, o público. Que, por mais que seja citado de forma demagógica pela FOTA, certamente não está entre as preocupações dos dissidentes.