Bom, não li todo o tópico "mente-corpo", apenas a primeira página.
Isso porque fiquei procurando referências do Daniel Dennett
- lá citado - mas tô pretendendo terminar de ler hoje, se
tiver um tempo. A discussão parece bastante interessante.
Com relação à Projeciologia eu sou um tanto cético por uma razão
muito simples: em casos como estes, em que são feitas alegações
que não posso comprovar, eu costumo "raciocinar por absurdo".
Procuro pelas necessárias consequências de tais alegações e, não
as encontrando, desconsidero os fatos alegados até surgir alguma
evidência que me convença do contrário.
Se pessoas podem "sair do corpo" de forma voluntária, quando bem
entendem, e controladamente deslocarem a sua consciência (ou
o corpo astral, ou qualquer outro nome) para qualquer lugar que
quiserem, então eu não consigo imaginar um fenômeno mais fácil de
ser comprovado do que este. Mas até agora nenhum projeciologista
conseguiu tirar um milhão de dólares do Randi com isso.
Certamente toda a CIA já estaria reduzida a um gabinete com meia
dúzia de projeciologistas...
Duro e difícil podem ser sinônimos, ex.: "vida dura".
O problema é mesmo um problema, talvez nunca seja explicado. Apenas supor que seja uma adaptação complexa ou mapear os correlatos neuronais não explica exatamente o que ela é, como se forma. É a "lacuna explicativa".
Isso resume tudo que eu coloquei até agora.
A Teoria da Evolução não pode explicar como a consciência se formou.
No máximo pode justificar o seu surgimento como uma vantagem evolutiva,
mas quando eu disse que até essa hipótese era
"defensável porém não
inquestionável" foi exatamente pelos mesmos motivos que o Buckaroo
expôs em seguida.
Se pensarmos naquele exemplo de gafanhotos se tornando resistentes
a pesticidas, a seleção natural atuando sobre novas características
benéficas surgidas aleatoriamente justificaria a manutenção dessas
características na espécie.
Por outro lado os crescentes conhecimentos da genética explicam de
uma forma cada vez mais precisa como estas novas características
podem surgir no genoma (talvez nem todas sejam novas e algumas
simplesmente já estivessem lá), e os crescentes conhecimentos da
física dão conta de explicar a nível molecular os mecanismos de
toda mutação ou recombinação que possa ser interpretada como
informação genética.
Dessa maneira se poderia
justificar e explicar cada pequeno passo
evolutivo que conduz a transformação de uma espécie em outra.
Mas qual seria a característica que criou o primeiro ser vivo
consciente? Como responder a isso se nós sequer entendemos como
a consciência se forma, por meio de quais processos físicos ela
pode existir?
Além disso compreender a atividade fisiológica do cérebro não leva
imediatamente à compreensão de como esta atividade é "comunicada"
à consciência, ou como origina a consciência no caso de ser esta a
sua única origem.
Há uma "lacuna explicativa".
O que ele diz lá (com um poder de síntese e um brilhantismo que
me faltam) é essencialmente a mesma coisa que eu repeti aqui.
Mas infelizmente o que ele diz não me acrescenta muita coisa porque é
praticamente a forma como eu já interpreto este problema. QUando eu
fiz a pergunta que originou toda esta discussão eu estava procurando
por alguém que tivesse algum "insigth" diferente. Pelo menos diferente
para mim, desconhecido para mim.
Obviamente estas idéias também precisariam fazer sentido para mim, e
simplesmente negar a consciência não faz sentido. Da maneira como eu
vejo, a consciência é o único aspecto da realidade objetiva que pode
ser indubitavelmente considerado realidade objetiva. Tudo o mais é de
alguma forma subjetivo porque é intermediado pela mente-cérebro, que
por sua vez se relaciona com o "mundo real" através dos sentidos.
São traduções de traduções e, filosoficamente, nem podemos ter certeza
que são de fato traduções e não criações. A consciência é a única coisa
que escapa desta armadilha e por isso mesmo não pode ser cogitada como
ilusão.
( Ainda não vi Matrix mas qual era a única coisa real que os personagens
experenciavam? Respondo: a consciência. )
Em verdade a consciência não é uma experiência porque isso implicaria em
existir uma supra-consciência que a experiencia. A consciência é o "self",
o EU, o "homúnculo", desprovido da continuidade temporal necessária à
concepção de uma idéia de personalidade, mas existindo apenas no instante
presente.
Eu vou dar um tempo para ler o restante do fórum e procurar algum material
do Daniel Dennett e do Chalmers (nomes dos quais eu ainda não tinha ouvido
falar). No momento eu não tenho muito a acrescentar às considerações feitas
pelo Buckaroo no outro tópico.
Porém a pergunta permanece e eu gostaria muito que as pessoas que já tenham
pensado sobre isso colocassem as suas concepções a respeito do que é a
consciência, de como ela pode existir, por quais processos Físicos, ou se
ela já existe como um atributo inerente de algum aspecto da realidade - e
se for o caso como isto poderia ser testado - ou qualquer outra coisa...