Alenônimo disse algo como “nada foge à lógica”. Concordo (e acabo discordando do Dantas quando diz “Que Deus não se submete à lógica humana é bastante auto-evidente” — mas acabarei concluindo com Dantas). Isso porque a lógica não é uma verdade em si mesma, mas um conjuntinho de regras que tornam possível deduzir/induzir verdades. Entretanto, a lógica nunca gera “verdades absolutas”… observadas às regras, o que se forma é uma “verdade relativa”, referente somente às premissas, axiomas, que a deduziram/induziram, embora possa ser “verdade” também em outros silogismos, mas não necessariamente e, muito embora, sequer possa ser “verdade” fora das premissas que a guiaram.
Assim, a mesma lógica que afirma que um atributo absoluto é sempre “logicamente” relativo — pois há um inevitável limite para seu alcance em virtude de sua própria característica de absoluto — pode negar esta “verdade” quando a premissa assim o propuser, ou seja, partindo da hipótese do absoluto em sua essência.
VARIAÇÕES DO ARGUMENTO
O “argumento da pedra pesada” (chamarei assim) — usado para negar a existência de algo dotado de onipotência — parece-me falhar em todas as suas variações que vislumbro, e acabo concordando com Dantas quando diz que “Esse paradoxo não tem utilidade real” — e chego a dizer: NEM HÁ PARADOXO!:
I) Argumento proposto através de uma afirmação: “Não pode existir um ser onipotente porque este ser não poderia levantar uma pedra-tão-pesada-que-sua-onipotência-não-lhe-permita-levantar-e-que-foi-criada-por-ele-mesmo”.
Ora, este ser-dotado-de-onipotência será onipotente até que ele mesmo, através de sua própria onipotência, decida cessar de ser onipotente criando um evento que negue tal qualidade. Enquanto não o fizer, não há lógica nenhuma que o impeça de existir em sua onipotência.
II) Argumento proposto através de interrogações:
— Se Deus é onipotente, ele pode criar uma pedra tão pesada que ele mesmo não possa carregar?
— Sim! Se ele é onipotente (tudo pode), ele pode criar uma pedra tão pesada que ele mesmo não possa carregar.
— Mas, se Deus é onipotente, como ele vai carregar uma-pedra-que-ele-criou-para-ele-mesmo-não-poder-carregar?
Os que costumam usar deste argumento para negar a onipotência, fogem à lógica que eles mesmos propõem para invocarem uma premissa (“Não pode existir um ser onipotente porque este ser não poderia levantar uma pedra-tão-pesada-que-sua-onipotência-não-lhe-permita-levantar-e-que-foi-criada-por-ele-mesmo”) que eles mesmos negaram ao questionarem. Nega-se o princípio Audiatur et Altera Pars para se alegar algo que não foi declarado nas “regras do jogo”. Explico:
Começa-se por declarar a premissa “onipotência” através da condicionante “SE”: “Se Deus é onipotente, …?”. Ao se fazer isso, está se abrindo mão da limitação lógica do atributo absoluto e penetrando-se na metafísica para afirmar “Deus é onipotente”. A primeira pergunta (“Se Deus é onipotente, ele pode criar uma pedra tão pesada que ele mesmo não possa carregar?”) é respondida com facilidade: Sim!
Todavia, o argumentador parece esquecer-se das regras lógicas que ele mesmo propôs ao responder retoricamente à segunda questão: “Mas, se Deus é onipotente, como ele vai carregar uma-pedra-que-ele-criou-para-ele-mesmo-não-poder-carregar?”. Ora, a mesma condicionante está presente: “se Deus é onipotente, …?”. Ora, se é declarada a onipotência (poder tudo) como premissa para o raciocínio, qualquer resposta para o “Pode?” deverá ser afirmativa!
Se “conjunto A” = “conjunto-onde-cabe-qualquer-coisa-em-qualquer-quantidade”, logo, “qualquer-coisa” cabe em “A”. Gato cabe em “A”! Júpiter cabe em “A”! Universo cabe em “A”! Universo multiplicado por gato e elevado à potência Júpiter também caberá em “A”.
Se ONIPOTÊNCIA = poder-tudo;
Se TUDO = qualquer-coisa-em-qualquer-quantidade;
Se Deus tem ONIPOTÊNCIA;
Logo, Deus pode-tudo E Também Deus pode qualquer-coisa-em-qualquer-quantidade, Portanto, Deus pode carregar uma-pedra-que-ele-criou-para-ele-mesmo-não-poder-carregar.
Não há “paradoxo de pedra pesada”!