Deixando mais uma vez claro o motivo da minha irritação neste tópico: embora o Comissário do Povo tenha ajudado de alguma forma a me irritar, assim como algumas das intervenções do Foxes (algumas; outras carregam boa argumentação, e outras ainda são simplesmente engraçadas), comecei a me irritar seriamente quando o Agnóstico usou do "olha o passarinho!" e o velho espantalho de "comunista não quer trabalhar". Depois disso, avisei (educadamente) que ia me ausentar do debate porque ele não estava rendendo mais; o DDV sugeriu que eu estava saindo por mera conveniência (ipsis digitis: "escolher muito bem os tópicos a responder"), o que foi a gota d'água.
Deixo pra continuar o debate (mais valia, Marx, etc.) - aqui ou preferivelmente em outro tópico - assim que a poeira baixar (assim como daí respondo a sua MP, DDV). Por enquanto, vou só responder aqui coisas não diretamente relacionadas.
A parte do "groselha!", ignore.
Tá certo que eu preferiria que você fizesse como o Foxes (soltasse alguma tirada só pelos risos), ou apenas "discordo, acho que tem muita besteira nisso" (o que abre mais possibilidades pra diálogo), mas quer saber de uma coisa? Faça como queira.Comparar "paradigma" com "dogma" é completa
PI-A-DA, e só demonstra que você simplesmente
não entende e não faz questão nenhuma de entender sobre o conhecimento científico e provavelmente nem sabe por que existe a divisão entre ciências humanas e ciências exatas. Vou até desenhar:
Isto é o conhecimento científico como um todo. A parte cinza não foi descoberta, as partes coloridas correspondem a disciplinas, que são arbitrárias e se entrelaçam (às vezes três ou mais num mesmo campo, como a Físico-Química aplicada à Biologia). A gente simplesmente desconsidera o que tá por fora da disciplina e poderia mesmo assim interferir (ex: na Termodinâmica, moléculas tornam-se "bolinhas de tamanho zero" quando você quer calcular momento, etc.). E mais: diversas vezes, mesmo sem as disciplinas serem diretamente relacionadas, elas interferem uma na outra - as setinhas.
Agora, vamos dividir o mapa em dois - ciências "hardcore" (HC) e ciências "softcore" (SC):
Algumas ciências caem completamente na categoria hardcore: as exatas, por exemplo.
Outras, completamente na categoria softcore: humanas e sociais, por exemplo.
E ainda há ciências que ficam com um pedaço pra lá e outro pra cá, como Geografia, Arquitetura (bem no meio dos dois), Biologia (que tem uma ponta softcore no comportamento animal), Lingüística (que tem uma ponta hardcore na Fonologia e na diacrônica)...
Agora, olhe as setinhas. Enquanto as interferências são uma ou outra dentro de uma ciência hardcore, existem às pencas nas ciências softcore. E mais: podem interferir em meios não-determinísticos, o que boicota as tentativas de sistematizar o pensamento teórico. Simplesmente não é prático ou humanamente possível trabalhar com todas elas ao mesmo tempo.
Então, o que é feito? Considera-se algumas, ignora-se algumas, assume-se um padrão pra outras...
assume-se, leia bem. O conjunto de interferências que você pega ou descarta vão gerar não uma teoria, mas sim um
paradigma diferente.
Exemplo na Pedagogia:
Behaviourismo - considera o comportamento, descarta completamente processos sub/inconscientes, e assume que o aprendizado se dá por condicionamento;
Freud - considera os processos sub/inconscientes, descarta a maior parte do comportamento;
(Em tempo: o que muitos (ex: Sagan) criticam é a psicanálise
clínica - como terapia e não como paradigma)
Piaget - também considera o subconsciente, mas parcialmente - o enfoque principal é na assimilação e em como o conhecimento se reorganiza mentalmente;
e por aí vai. Os três paradigmas se aplicam à mesma coisa, o ensino; entretanto, cada um tem seus fortes e seus fracos, como qualquer paradigma.
O que, ao contrário do que você disse, é completamente diferente da alegação especial que muitos religiosos usam para justificar suas afirmações ao dizer que "o ser humano não consegue compreender isso".
Primeira "pérola" refutada, vamos à segunda.
Ideologia: a palavra tem diversos significados e, ao que eu lembre, você usa um dos mais incomuns.
Se você falasse no sentido comum (ideário, conjunto de idéias mais ou menos relacionadas entre si), então só quem não pensa não tem ideologias, dâââârrrrr.
Se você falasse de alguma forma relacionado ao conceito platônico (que as idéias têm vida própria e o mundo é baseado nelas), eu ia rir da sua cara e dizer "tá virando pós-moderno?".
Se você fala de ideologia como "uso de ferramentas simbólicas voltadas à criação e/ou à manutenção de relações de dominação" (crítica) - seja a de um partido, a de um governo ou etc. etc., e reclama das ideologias como alienantes, aí sim é que eu caio na risada! Ué, não era eu o cara que levava os conceitos do Marx de forma religióóóóósa? Vá ler A Ideologia Alemã, então! A sua opinião é mais parecida com a do Marx que a minha nesse ponto!
(Viu como você tem birra de Marx? Aqui vocês concordam entre si, enquanto eu mantenho reservas com o conceito marxista de "ideologia" e prefiro a abordagem de "memes".)
Agnóstico, acorda. Em nenhum momento, eu falei que Marx era o Dono da Verdade. Nem que os marxistas estão sempre com a razão. Deixei isso bem claro, tanto aqui como em diveeeeeeeeeeeeeeeeeersos outros tópicos - e repito: se eu falei aqui em base quase exclusiva de Marx e marxistas, é porque o tópico é sobre Marx e mais valia!
Queriam que eu falasse da morte da bezerra???Eu vivo escrevendo isso aqui, mas pra quem não leu, lá vai: não sou marxista "puro" e nunca o fui. Uso algumas coisas do Marx e outras não. Considero usar o exclusivamente o pensamento marxiano (isto é, apenas de Marx, em oposição ao marxista que considera outros autores) como besteira, assim como faria (dando um exemplo beeeeeem fora das humanas) usar apenas o pensamento darwiniano pra explicar a evolução, ignorando que Darwin não conhecia a genética.
Sobre trabalho: nunca tive trabalho
formal. FOR-MAL. Já fiz uma porrada de bicos quando a coisa apertava (em Campinas, muitas vezes, utilizei disso como fonte de renda): bijuterias em biscuit, manutenção de computadores, aula particular de inglês e de Química, algumas vezes fiz design de blogs (antes do CSS tomar conta - preciso me atualizar)... e ainda faço traduções (como tava fazendo na época do tópico). Por que bicos, e não trabalho formal, não tem porra nenhuma a ver com Marx: prefiro decidir meus horários e gosto muito de trabalhar de madrugada (mas não tenho porte pra ser segurança).
Risco, capitalismo, et cetera: li inteiro, mas volto pra isso quando a poeira baixar e voltarem a falar de capítalismo (MV tá mais correlata a capitalismo que a comunismo,
não é à toa que o livro se chama Das Kapital e não Die Kommune). Assim como daí talvez eu fale das empresas estatizadas.
Silicone: é, o assunto caiu nisso.
Aqui, tá um exemplo beeeeeeeeeeeeem claro de como você distorceu o que eu disse até não poder mais! Sério: volta e lê o que eu escrevi.
Pecado burguês?????Pra você não ter que rodar o tópico inteiro achando a citação, vou até colocar aqui:
Outra coisinha. Defina pra você mesmo o que significa "ter uma vida de sucesso". Se é apenas ter filhos, uma esposa siliconada (não sei se sua esposa é inteligente ou burra, bonita ou feia, mas esse é o único comentário seu sobre ela que lembro daqui) e um trabalho monótono mas que permita uma vida de classe média[...]
Agora, diga onde cito que silicone é "errado", "certo", ou "pecado burguês"! Porra, faz de conta que você não viu os comentários que eu faço no tópico das mulheres, e nem que a mulher que eu postei era provavelmente siliconada!
Você não entendeu? Eu disse que
a única referência da qual eu me lembrava que você fez à sua esposa era de você falando do silicone que ela pôs (Muro das Jubilações), ao contrário de suas filhas (às quais você cita diversas coisas diferentes em diversos momentos).
Ainda que isso pudesse ser distorcido como "olha, o Eremita disse que o Agnóstico vê a mulher como um objeto" (não afirmei isso), distorcer para "pecado burguês" é o fim da picada!
Distorcendo desse jeito, é claro que pra você todo marxista vai falar de pecados burgueses!!!Não entendeu? Releia. Ainda não entendeu? Pergunte. Mas essa, sinceramente, só demonstra como você adora demonizar qualquer um que cite o nome do seu Diabo, o Marx!Mais uma coisa:
Toda falácia é um argumento, ainda que um argumento logicamente falho.
Todo ad hominem é uma falácia.
Ainda que eu tivesse falado em "pecado burguês", não seria um argumento e sim uma reclamação; portanto, não poderia ser uma falácia; e portanto, não seria um ad hominem.
Se eu tivesse falado "seu argumento é inválido porque você falou de silicone" (e não o fiz), aí sim seria uma falácia (dependendo do caso, ad hominem ou non sequitur, talvez ambos).
Já continuo, o texto tá longo.