Vou responder primeiro o vídeo :
o video está aqui
http://www.ted.com/talks/hans_rosling_shows_the_best_stats_you_ve_ever_seen.html
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que achei o vídeo muito bom. O que achei mais interessante é a nova forma de se analizar dados com a ajuda daquele software. Nunca mais vou querer saber dos ultrapassados dados estáticos!
A primeira parte do vídeo fala sobre melhora na qualidade de vida na maioria dos países (exceto alguns africanos). Não verifiquei os dados que lá foram mostrados, até porque eu não acho eles nada estranho. Nova riqueza é produzida o tempo todo, o valor das coisas diminui com o tempo, e assim a qualidade de vida das pessoas tende por padrão à aumentar, desde que não surjam grandes crises causadas por motivos naturais ou humanos. Nada de estranho ali. O mesmo digo da parte de mortalidade infantil.
A segunda parte do vídeo é a mais surpreendente. Ele demonstra que a desigüaldade entre as diversas regiões do mundo DIMINUIU. Vivemos em um mundo MAIS IGUALITÁRIO segundo o índice GINI. Isso realmente me surpreendeu, pois contradisse vários outros dados e fontes de informações que eu tinha.
Desconfiado, cético, e querendo entender a discrepância entre os dados, fui atrás de um documento lançado pela ONU chamado "The Inequality Predicament", lançado em 2005 (
http://secint50.un.org/esa/socdev/rwss/2005_media.html). Lá encontrei os seguintes dados (desculpe pelo gráfico ultrapassado, tosco, obsoleto e sem-graça):
Ele mostra a evolução do índice GINI nos últimos 20 anos. A linha mais acima é a evolução do índice GINI. Quanto maior o valor, maior a desigüaldade. A ONU estava confirmando a palestra que você mostrou. Não há o que eu posso fazer para confrontar dados empíricos. O Índice GINI mundia DIMINUIU nos últimos 20 anos.
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Resultado Parcial (Agnóstico vs Cyberlizard)
ROUND 1: Agnóstico Wins!
ROUND 2: ????
ROUND 3: ????
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Bem, ainda não acabou. Isso me deixou curioso para entender porque afinal haviam dados tão conflitantes quanto à desigualdade, se os dados eram tão claros. Aí comecei a assistir aquele vídeo um monte de vezes, à partir das 07:51 (o momento que mostra a evolução do gráfico de GINI). Vi que dá para perceber o seguinte: a mudança mais drástica na distribuição de riqueza se dá justamente nas camadas de cima do gráfico. As camadas de baixo quase nem se mechem. Ora, as duas camadas de cima são a Ásia Meridional e o Extremo Oriente. Justamente onde ficam os dois países que tiveram um grande crescimento econômico (que é diferente de dizer que diminuiu a desigüaldade) muto grande. Justamente os dois países mais populosos (e que portanto, são capazes de causar mudanças mais drásticas no índice global).
Ora, para compreender medidas complexas como "desigüaldade mundial", não podemos nos basear somente na média. Pode muito bem existir algum país com dados muito discrepantes (no nosso caso são dois países de peso) que podem empurrar a média mundial para valores muito altos ou muito baixos. Neste caso, é interessante removermos países com dados muito discrepantes para compreendermos de forma mais realista o quê está acontecendo.
Tá vendo o gráfico aí em cima? A linha em azul claro mostra a evolução do GINI quando a gente passa uma borracha na China. Eliminando somente 1 país, vemos que a desigualdade AUMENTOU. E o que seria a linha tracejada logo abaixo? É o que acontece quando desclassificamos a Índia e a China. Perceba que só removemos 2 países, mantendo todo o resto do extremo oriente e Ásia Meridional.
Isso pode ser visualizado também no vídeo que você postou, Agnóstico. Vá para a parte 07:51 e assista. Mas tente assistir prestando atenção só nas camadas de baixo, ignorando as duas maiores que estão em destaque. Você verá que a tal diminuição de desigüaldade não pode mais ser observada. Disso, concluímos que a desigüaldade AUMENTOU no mundo, como regra geral. Existe um único país com uma população gigantesca que não permite que isso apareça nos cálculos da média global justamente porque teve um crescimento econômico enorme (crescimento econômico enorme também é diferente de menor desigüaldade local).
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Resultado Parcial (Agnóstico vs Cyberlizard)
ROUND 1: Agnóstico Wins!!!
ROUND 2: Cyberlizard Wins!
ROUND 3: ????
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Bem, vamos para a batalha final!
Até agora falamos de desigüaldade global. O gráfico que você viu feito pela ONU mostra apenas a desigüaldade entre países. Mas e quanto à desigüaldade interna dentro de cada país?
Bem, acho que o vídeo que você postou fala por si só. Os gráficos que são mostrados à partir de 07:51 dão um destaque enorme à desigüaldade global (com o grande destaque da China), mas a desigüaldade local também pode ser vista, já que cada região aparece co uma cor diferente. Aliás, aquele gráfico dinâmico possui MUITA informação interessante. Pena que o palestrante acaba não prestando muita atenção nelas, talvez por estar muito ocupado provando que vivemos em um mundo melhor.
Vamos ver o que acontece com cada região que é mostrada no vídeo. Lembrando que uma região muito esticada tem uma maior diferença entre ricos e pobres, e aquelas com uma protuberância (todas) tem uma desigüaldade alta, seja por possuir muitos pobres e poucos ricos ou por possuir muitos ricos e poucos pobres (ha-ha-ha!). Segundo o vídeo:
África (parte verde): De cara dá pra ver que é bastante desigüal. E ainda por cima é a mais pobre para piorar. Ao longo do vídeo a área verde cresce à direita, mas não se move para frente. Conclusâo: Surgem pessoas mais ricas. Mas os extremos tornam-se cada vez mais distantes. Os mais pobres continuam no mesmo lugar.
América Latina: Também é bastante desigüal logo de cara. E a região também aumenta sem grandes mudanças para a frente. Como a África, mas a desigüaldade não aumenta tanto assim (tem países como o Brasil em que a desigüaldade aumentou, mas diminuiu logo depois na década de 90).
Extremo Oriente: Estica muito, assim como a África. Mas ocorre um deslocamento à direita. Eles estão mais ricos, só que bem mais desigüais.
Ásia Meridional: Parece que foi a região que teve o melhor cenário. A desigüaldede se manteve meio estável, mas eles se deslocam para a direita. Crescimento econômico sem aumento drástico de desigüaldade.
Países Ricos: A nata do canto inferior direito. Sem grandes mudanças no quesito desigüaldade. Eu sei que a desigüaldade nos EUA aumentou bastante nos últimos anos, então isso deve ter sido contra-balanceado por uma diminuição do GINI na Europa.
Leste Europeu: Sem comentários. A desigüaldade explode.
Bem, pelo gráfico animado, dá pra ver que a desigüaldade local aumentou na maior parte das regiões do mundo. Bastaria selecionarmos países das regiões indicadas e verificar se os dados tendem à conferir. Mas Hans Rosling me parece uma pessoa honesta em relação à mostrar estatísticas, então não acho que vão haver erros nas informações numéricas que ele passa.
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Resultado Parcial (Agnóstico vs Cyberlizard)
ROUND 1: Agnóstico Wins!!!
ROUND 2: Cyberlizard Wins!
ROUND 3: Cyberlizard Wins!
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(Err... Eu deveria estar feliz com isso...?
)
Bem, está convencido agora que, salvo alguns casos isolados, a desigüaldade está aumentando? Os meus dados foram retirados do documento da ONU que deixei o link e do vídeo que você pasou. Também dei uma checada mais rápida em um documento com GINIs de diversos países do site do Banco Mundial, mas não me foquei muito nele por apresentar resultados de muitas medições com valores muito conflitantes em alguns casos.
PS: Se precisar, desculpe por eventuais brincadeirinhas.
PS2: Se um dia eu tiver tempo livre, vou passar a postar gráficos como GIFs animados.