A casa nunca caiu e não vai cair agora, aqui no Clube Cético ou você duvida que essa xaropada já não foi minuciosamente discutida por gente mais gabaritada que nós no assunto ao longo do tempo em outros fóruns e em outras línguas? Você acha mesmo que tem alguma coisa de relevante ali que possa contribuir para o avanço da Ciência ou é um argumento para endossar a tese conspiracionista de que os espíritos existem mais precisam ser acobertados?
Hoje estava assistindo um documentário na BBC 1 inglesa sobre o Pé Grande. O foco não era o Pé Grande em si como possibilidade real de existência mas como funciona a mente das pessoas que pesquisam e caçam esse bichano, como existe alguém que chega a pagar uma fortuna por uma fantasia de Pé Grande congelada num freezer caseiro pensando ter comprado o cadáver da criatura, como elaboram teorias, sustentam pontos de vista pseudocientíficos e fazem uso de metodologias de rigor científico risível. Ainda não assisti tudo mas até agora é evidente a comparação com o modo de pensar dos espíritas como você. Diante de tanta bobogem espírita, vejo que entender como funciona a mente crente de uma pessoa inteligente e instruída é mais desafiador que todo o bullshit espiritualista. Talvez esse seja o verdadeiro e maior fenômeno do espiritismo que precisa de explicação.
Giga, é o seguinte: não sei qual é a xaropada da qual está falando, nem quem a tal gente muito mais gabaritada que você & Cia Bela. Eu estou querendo me centrar num ponto apenas. Parece ser consenso entre a comunidade cética de que o Crookes foi um banana e/ou um tarado, porque validou médiuns. Qual seria a base para esta afirmativa? Eu descobri que é a FÉ CÉTICA. E o meu critério é o mesmo daquele que vocês céticos usam: se médiuns foram pegos fraudando, então TODOS os médiuns são fraude. Se pesquisadores validaram médiuns, foi porque tinham fé nos fenômenos. Eu aplico o mesmo critério: se os céticos sábios, cultos, racionais e inteligentes MENTEM para defender a fé cética, então os pesquisadores que validaram médiuns não deveriam ser tão porcarias assim.
Então vou retomar:
O Massimo Polidoro publicou no Skeptical Inquirer de janeiro de 2000:
"As experiências mais importantes de todas feitas sobre a “mediunidade” de Annie foram, sem dúvida, os “testes elétricos de Crookes”, feitos em sua própria casa em fevereiro de 1875 (Crookes 1875).
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Para estas sessões, Cromwell F. Varley, outro membro da Royal Society, forneceu um circuito de controle elétrico, uma versão ligeiramente modificada do que foi usado por Crookes com a médium Florence Cook. Para ter certeza que a médium, sentada em um gabinete cortinado, não pudesse livrar-se das amarras, Crookes pediu-lhe que apertasse as duas manivelas de uma bateria, construída de forma a interromper a corrente se ela soltasse qualquer uma delas, e nesse caso o marcador cairia a 0. Fay conseguiu, de alguma maneira, produzir suas manifestações, apesar de o contato ter permanecido constante.
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Para uma sessão adicional, dois dos convidados eram mais céticos que o anfitrião. Quando eles inspecionaram o controle elétrico do sistema, antes de a sessão começar, descobriram que um lenço úmido estirado entre as manivelas manteria o circuito aberto (o certo seria dizer: fechado - nota minha). Por sugestão de um destes homens, Crookes afastou as manivelas até a distância na qual um lenço não pudesse ser colocado entre elas. Aparentemente ninguém considerou a possibilidade de que poderiam ser usados uma tira de pano maior ou algum outro tipo de resistor.
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O sucesso nestas experiências deu alento à excursão de Annie das províncias inglesas; porém, quando ela se apresentou em Birmingham, em maio, era novamente apresentada como o “Fenômeno Indescritível” e seu espetáculo era visto como um entretenimento (Dingwall 1966). Aparentemente, no fim de sua excursão, seu gerente, insatisfeito com o fato que as investigações dos cientistas não terem produzido qualquer ganho adicional a seus bolsos, escreveu para J. N. Maskelyne sugerindo organizar uma exposição pública da sua ex-cliente. Ele se ofereceu, por uma soma significativa de dinheiro, se fosse capaz de revelar como os experimentos de Crookes haviam sido burlados. Maskelyne recusou a oferta, então o empresário escreveu a ele novamente, apresentando-lhe a Srta Lottie Fowler, outra excelente mística, que podia reproduzir os truques de Fay e excursionou, seguindo a mesma rotina de Annie quando esta deixou a Inglaterra."
O que vocês entenderam deste trecho? O que eu deduzi é o seguinte:
Muito embora os sacanas dos espíritas queiram vender a ideia de o galvanômetro permitia um controle absolutamente seguro de que o médium submetido ao seu controle estaria impossibilitado de fraudar, a verdade é que este controle é TÃO PRECÁRIO que bastaria que o dito médium usasse uma tira de pano molhada ou um resistor qualquer e aí o galvanômetro não notaria a quebra do circuito e o médium ficaria livre para fazer suas fraudes sem nenhuma dificuldade.
Alguém aí entendeu algo diferente?
E agora vou perguntar: algum de vocês leu o que Crookes disse a respeito? Sim, pois ele publicou um relatório da sessão mais significa, que o Polidoro LEU, já que o cita e o coloca nas referências do seu artigo. Ou será tudo o que sabem do Crookes foi o que se disse em artigos de céticos? Será que alguém pode me responder honestamente.
Bem, vou então postar aqui o trecho do relatório de Crookes referente ao que o Polidoro colocou no seu:
"Na sexta-feira à noite, 19 de fevereiro, a Sra. Fay veio até a minha casa sozinha, para se submeter a estes testes, na presença de vários homens de conhecido saber científico. Ela entrou na sala de visitas e conversou conosco por mais ou menos um quarto de uma hora, depois disso meus amigos desceram a escada para examinar o equipamento elétrico e a minha biblioteca, que seria usada como quarto escuro. Eles examinaram os armários e abriram as escrivaninhas. Colocaram tiras de papel acima das fixações das venezianas da janela e as lacraram com seus anéis de sinete. Eles também lacraram de modo semelhante a segunda porta da biblioteca, que dá para um corredor. A outra porta leva da biblioteca ao meu laboratório, onde os estudiosos permaneceram durante os testes. Então, uma cortina foi suspensa acima desta mesma porta, para deixar a biblioteca em relativa escuridão e permitir a rápida e fácil passagem de um lado para outro.
O esquema seguinte mostra o arranjo do dispositivo.
[/img]como se coloca uma imagem aqui?[/img]
D, bateria.
F, galvanômetro.
H, controle para cortar mais ou menos a corrente a fim de regular a deflexão do galvanômetro.
E, caixa de rolos de resistência.
Chaves A e B, para iniciar e interromper o contato.
(A) está sempre fechada, e é usada apenas para corrigir ou verificar o zero.
(B) quando ajustada em K, põe os rolos de resistência no lugar do médium.
Os dois fios elétricos, um de cada lado da seta, vão para a médium.
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A médium segurará duas manivelas, presas aos fios elétricos abaixo da seta, e deste modo fecha o circuito, e faz com que a luz do galvanômetro seja defletida na escala. Então o desvio é ajustado, com o propósito de distribuir a corrente entre o galvanômetro e o desvio de modo a produzir uma deflexão válida no primeiro. Qualquer movimento da médium passa a ser visto através da variação da posição do ponto de luz. Se os arames ou manivelas sofrerem qualquer tipo de curto-circuito, o ponto de luz salta para fora da escala; se, por outro lado, o contato for rompido pela médium, a luz imediatamente cai para zero.
Para medir a resistência da médium, a chave B, é fechada, o que coloca os rolos de resistência no circuito no lugar da médium. As cavilhas são então retiradas até que a deflexão no galvanômetro seja igual à produzida pela médium; ambas as resistências são equiparadas, tanto a da médium quanto a dos rolos, e os valores são lidos nos rolos.
O galvanômetro de reflexão, junto com o rolo de resistência e o de desvio, foi colocado junto à parede do laboratório, pelo lado da cortina; dois pedaços pequenos de fios elétricos muito espessos atravessaram a parede, e foram firmemente soldados às duas manivelas de metal no outro lado. Estas manivelas foram seguras pela Sra. Fay, cujo corpo fechou o circuito elétrico, e apresentou uma deflexão no galvanômetro que variava de acordo com sua resistência elétrica. As manivelas de metal foram firmemente cobertas com dois pedaços de linho embebidos em sal e água. Antes de começar as experiências, a Sra. Fay mergulhou suas mãos em sal e água, e então, ao segurar nas manivelas, notei que a deflexão era sempre muito constante, devido à ampla quantidade de superfície exposta ao contato com as mãos. Quando ela segurou os terminais, a quantidade exata de deflexão devido à resistência de seu corpo foi medida pelo galvanômetro; se ela fizesse com que as manivelas tocassem uma à outra a deflexão seria tão grande que faria a luz pular rapidamente para fora da escala; se ela se soldasse das manivelas por um momento o raio de luz cairia para zero; se ela tentasse substituir qualquer coisa além de seu corpo para estabelecer um contato parcial entre as duas manivelas, as grandes oscilações do índice luminoso, que aconteceriam enquanto isso estivesse sendo feito, tornar-se-iam evidentes, uma vez que as possibilidades teriam sido infinitas contra a produção da quantia correta de deflexão.
Meus amigos inspecionaram estas condições, e dois deles, membros famosos da Royal Society, tentaram tudo o que foi possível, conectando os dois terminais com um lenço úmido. Em meio a uma série de ajustes cuidadosos, eles me consultavam sobre a quantidade de deflexão que havia sido produzida no galvanômetro, de modo que com o tempo obtiveram uma quantidade de resistência equivalente a de um corpo humano. Porém, isto não teria sido possível sem as informações do galvanômetro, que indicava violentas oscilações do raio de luz e denunciava que eles estavam tentando restabelecer um novo contato através de algum tipo de truque. Após a sugestão de um deles, e para eliminar essa fonte de erros, as manivelas de metal foram fixadas bem distantes uma da outra. Feito isso, ele manifestou estar satisfeito, pois sabia que nem ele mesmo, nem qualquer outra pessoa poderia repetir a experiência com o lenço que ele acabara de exibir."
Muito que bem, gente. O que acham disso? Polidoro, como é costume entre os sábios céticos, deu a entender que Crookes não era cético, era babaca, e não fez as coisas direito. Foi preciso ser alertado por dois amigos mais céticos de que um lenço molhado colocado nas manivelas fecharia o circuito e só então caiu a ficha e ai ele afastou as manivelas. Mas nota o Polidoro que nem aqueles amigos mais céticos se deram conta de que ela poderia vir com uma tira maior ou um outro resistor (qual?).
Essa é a primeira mentira do Polidoro no caso. Foram feitos os testes e ficou demonstrada a IMPOSSIBILIDADE de se colocar ali uma tira de pano molhada e ACERTAR NA BAMBA E DE PRIMEIRA a resistência esperada para um corpo humano. Mas em seu artigo, ele dá a entender exatamente o contrário. Alguém discorda?