INTRODUÇÃO
A presente postagem é uma análise crítica da palestra intitulada “Uma Breve História da Terra”, que compôs o primeiro seminário denominado “A Controvérsia - Evolucionismo x Criacionismo”, ministrada em duas partes em 06/11/2010 na Universidade Univille, na cidade de Joinville, no estado de Santa Catarina, pelo senhor geólogo doutor Nahor Neves.
A idéia central da palestra é o de convencer o público que o trecho bíblico que descreve o “dilúvio” é uma descrição científica de (supostos) fatos ocorridos há cerca de 4.500 anos, e que a Geologia forneceria as evidências que corroborariam a narrativa daquele mito judaico.
A palestra teve um total de 102 slides, sendo que 13 deles não apresentam nem textos e nem figuras e possivelmente foram usados como “imagem de fundo” enquanto o senhor Nahor Neves fazia alguns comentários.
Na descrição do modelo e na sua crítica foram adotadas as seguintes notações: sI é o número do slide na primeira palestra; sII é o número do slide na segunda palestra; quando entre “” a palavra ou frase é uma transcrição integral de uma citação do autor ou é um termo da literatura criacionista, sem paralelo na literatura geológica, ou quando é citado fora do contexto usual da literatura geológica.
Devido ao tamanho dos dois arquivos, as imagens contidas nos slides não poderão ser postadas aqui. Se alguém desejar, pode baixar os dois arquivo em PowerPoint e inspecionar as figuras.
O “MODELO” APRESENTADO NA PALESTRA – PARTE I
Há cerca de 4.500 anos todos os continentes estavam agrupados formando um super-continente, o Pangea, quando o planeta foi submetido a múltiplos impactos de meteoritos de diversas composições e diferentes massas, que o atingiram em diversos ângulos e em diversos locais da superfície, tanto nos oceanos como no super-continente. Estes impactos geraram os “Fenômenos Geológicos Globais – FGG”.
As fotos de crateras em diversos planetas e satélites seria uma evidência de que houve um bombardeamento de meteoritos em todo o Sistema Solar. Os impactos na Terra também são evidenciados pelas muitas crateras com diâmetros variando de 1,3 km (Arizona, EUA) até 500 km (Wilkes, Antártida). Indícios suplementares, segundo o autor, são dados por: cristais de quartzo fraturados; micro-diamantes; gotículas vítreas e altas concentrações de irídio, ferro e níquel (sI 1 a 17).
Na primeira parte da palestra, o autor sugere que com os múltiplos impactos que ocorreram na superfície, manifestaram-se os primeiros “FGG” que são a ruptura da crosta; a tectônica de placas e a separação dos continentes que formavam o Pangea (sI 19 a 26). Ele mostra as atuais placas (sI 23), os seus limites convergentes (sI 24) e divergentes (sI 25) e a formação de rifts (sI 29).
Então ocorreu a formação de todas as províncias ígneas, inclusive as continentais (sI 27 a 32) com os grandes derrames de lavas basálticas, e a atuação de mega-tsunamis (sI 33 a 38) que mataram e carrearam animais (sI 34), plantas e até rochas incandescentes (sI 35). Parte considerável da água “diluviana” proveio do manto e que jorrou na superfície pelas mesmas fendas (sI 37) por onde o magma basáltico escoou.
Após a grande mortandade da flora e da fauna, em particular de invertebrados, peixes, répteis, “seres alados” e plantas (sI 39 a 47), eles foram rapidamente soterrados e se fossilizaram. Com isto ele explica a formação do petróleo (sI 51 a 54) e do carvão (sI 48 a 50).
Na sequência ele alegou que todas as rochas sedimentares do Fanerozóico se formaram no “dilúvio bíblico” (sI 55 a 68), e deu ênfase à Bacia do Paraná (sI 57 a 59) e aos estratos plano-paralelos do Grand Canyon (sI 61 e 62).
Então ele explicou como se formaram simultaneamente todos os tipos de rochas sedimentares e suas estratificações plano-paralelas, por meio do processo denominado “estratificação espontânea” (sI 64 a 68), no qual “não existe interrupção no processo de sedimentação” de tal modo que o “intervalo de tempo, entre as camadas bem delimitadas, é praticamente nulo”.
Ele menciona o caso da erupção do vulcão Santa Helena, em 1980 (EUA), no qual “há o transporte e a sedimentação de um espesso pacote em cerca 8 horas, com marcante estratificação laminada” (sI 66). Disto ele extrapola que todas as rochas sedimentares com este tipo de estrutura se formaram rapidamente no “dilúvio bíblico”, incluindo os varvitos e os evaporitos (sI 67 e 68).
Por fim, ele conclui a primeira parte afirmando que todos os “FGG” ocorreram entre alguns segundos e uns poucos meses e atribui-os a uma “única catástrofe global” (sI 74).
O “MODELO” APRESENTADO NA PALESTRA – PARTE II
Após relacionar, na primeira parte da palestra, os efeitos planetários dos diversos impactos de meteoritos e de sugerir que todos eles estavam relacionados a uma “única catástrofe global”, o autor apresenta, na segunda parte da palestra, um conjunto de conceitos geológicos e biológicos desta catástrofe singular, incluindo estimativas de tempo transcorrido dos eventos e paleoecologia.
De pronto ele afirma que a “única catástrofe global” foi o dilúvio bíblico (sII 9), ressaltando que da Bíblia é possível extrair um conhecimento de Geologia Histórica (“conhecimento bíblico”) conectando-a à “Geologia Funcional” (“conhecimento científico das ciências naturais”) usando-se dos seguintes conhecimentos ad hoc: “fenômenos geológicos globais”; “zoneamento ecológico”; “mobilidade diferenciada” e “flutuabilidade seletiva”(sII 10).
“Fenômenos Geológicos Globais” são os processos geocrustais e biológicos, que ocorreram após múltiplos impactos de meteoritos e que incluem: a tectônica de placas, a fragmentação do Pangea, a formação de grandes províncias ígneas, mega-tsunamis, extinção de praticamente todos os animais e a formação de todas as rochas sedimentares do Fanerozóico.
“Zoneamento Ecológico”: Todos os animais pré-diluvianos viveram simultaneamente, tais como dinossauros e humanos, mas em locais isolados geograficamente, o que lhes conferiu nichos específicos.
“Mobilidade Diferenciada”: Ao que parece o autor da palestra chama de “mobilidade diferenciada” as diferentes capacidades de deslocamento de cada animal, no qual os mais rápidos (?) tiveram mais chances de sobreviver.
“Flutuabilidade Seletiva”: Cada classe e ordem de animal tinha uma capacidade particular de “flutuação post mortem”, e este foi o fator preponderante para as associações faunísticas fósseis que hoje são encontradas, segundo o autor da palestra.
(continua)