O texto é do escrevente, ditado pelo juiz, e realmente está horrível, acho que tem muito mais erros que os apontados pelo Uili: mas tem a desculpa de que o cara deve ter que digitar umas 500 páginas de texto igual a este por dia numa velocidade The Flash; mas tem o fator de que ele ganha pelo menos uns 5k só para digitar textos o dia inteiro; mas tem também que ele é funcionário público e pode digitar do geitu qui quiser que o salário tá sempre na conta ; e tem também que na verdade não é tão importante se a crase está ou não no a certo
O salário de um escrevente em SP tá na faixa de $2900.
Os funcionários do TJ não recebem dissídio todo ano, como vocês. Teve em 2007 e esse ano (depois da greve monstra do ano passado).
Nesse meio tempo, tudo o que o Tribunal fez foi aumentar o valor do vale-alimentação: isso pra não ter que aumentar o dos aposentados, das pessoas em licença médica e das pessoas que tiram férias (como se a inflação não chegasse a eles). Se você tira férias, nem vê aquele 1/3 que a Constituição garante a todos: ele "repõe" o vale-alimentação que não é pago.
A média de escreventes por Vara, na capital, é de TRÊS. A situação tá tão feia que os escreventes fazem as vezes de juiz, os auxiiares as vezes de escrevente... e quem faz a função de auxiliar são uns guris do convênio que estão no ensino médio e ganham $200 por mês, os coitados!
Escrevente não só digita, não. Ainda mais "escrevente de sala", esse que trabalha junto do juiz. A maior parte dos casos é ele que DECIDE. Examina, decide, escreve, e justifica verbalmente em 15s pro juiz (por isso, é muito raro achar escrevente de sala que não seja bacharel). Isso porque dois juízes por Vara é muito pouco.
Hoje em dia, na realidade, os escreventes são em 2 grupos: os que não aguentam mais e estão só esperando pra se aposentar e os jovens estudantes de direito ou recém-formados que estão ali temporariamente, enquanto não passam num concurso melhor. É coisa de 15 anos pro TJSP esvaziar. Escrevam o que eu estou dizendo.
Isso pra ficar na Primeira Instância. Pra não falar dos acervos monstruosos, da zona de guerra que são os cartórios das Câmaras, das intermináveis sessões de julgamento, sustentações orais pavorosas, andaimes do Palácio, falta de CADEIRAS e de todas as coisas bacanas que só a Segunda Instância pode oferecer.
E aí é foda.
A pessoa rala, passa no concurso, vai trabalhar lá na PQP no meio das baratas e poeira e vírus da Gripe Espanhola dormitando nos autos de uma ação proposta em 1918 e ainda não sentenciada porque os advogados ficam causando, passa três anos sem dissídio, vivendo no meio do assédio moral entre juízes cheios de si e advogados mais cheios de si ainda, com aquele monte de gente pobre e carente procurando a Justiça e saindo com dois fervendo, e a pessoa vai ficando com tendinite, com úlcera, com LER, com depressão, gente do andar se suicidando, e OOOH O ESCREVENTE ERROU A VÍRGULA, NÃO SABE ESCREVER O NOME DO FILÓSOFO ALEMÃO.
Sabe. Convenhamos.