Não faz meu gênero entrar nesses assuntos (especialmente porque não vejo neles nenhuma possível finalidade prática) de modo que, normalmente, no máximo, apenas leio rapidamente. Mas percebi um detalhe, a menos que tenha me escapado algo, que, depois de 6 páginas, se tornou o motivo de eu fazer este comentário. E vou aproveitar este gancho deixado pelo Luiz F. para introduzí-lo.
A situação aí é clara: Ele ofendeu ela, e somente ela, e ela, somente ela tem o direito de buscar a justiça por qualquer dano causado. O resto é lero-lero de quem não tem o que fazer.
Há algum tempo, num debate (ao "vivo" mesmo) com um grupo de conhecidos meus (em que se encontravam desconhecidos também), eu declarei, *em resposta a uma pergunta direta*, minha total discordância com o projeto de cotas para negros ou quaisquer outras "minorias". Um dos desconhecidos me perguntou se eu era racista. Eu perguntei de volta porque ele não perguntou pelos meus argumentos em vez de qual rótulo poderia colar em mim, mas também respondi, como não gosto de deixar perguntas sem resposta, que eu assumo as posições que possam ser sustentadas pela realidade e pelas evidências científicas embora, historicamente, estas posições nem sempre puderam (e nem sempre podem e, talvez, pelo que todas as evidências indicam, nem sempre poderão) ser abertamente declaradas em diversos contextos sociais.
Eu pergunto: quem cometeu a mais grave "agressão" e quem merece a reparação? Quem faz uma pergunta cuja resposta esperável só pode ser num único sentido (como o 'sinhuzinho' Malta perguntando "tô certo ô tô erraaaaado?" enquanto sacode sua intimidadora coleção de pulseiras -- ou seu intimidador relógio, não lembro mais bem)? Não se pode mais fazer este tipo de pergunta às pessoas porque ela, agora, é capciosa e já assume, mesmo, o status de autoritarismo tirânico. Não é mais uma questão humana e social que se possa debater; é um assunto proibido; é um tabu legalmente estatuído. Perguntar alguma coisa cuja resposta não pode ser livre é esnobar-se de um poder de humilhação e é, ou pode ser considerado, tentar induzir a pessoa em "erro" apenas, e, de modo algum, procurar saber a opinião dela. E é quanto a esta indução que questiono: não teria a Preta Gil cometido um delito contra o Bolsonaro? Não poderia ele acusá-la de tê-lo induzido a uma resposta que o implicaria? Não há previsão para este tipo de indução na lei?
Entre muitas coisas ditas com muita sensatez e absurdos, aqui, como "deve haver limites para a liberdade de expressão", o que eu percebi que estão esquecendo é este importantíssimo detalhe: o Bolsonaro não levantou, deliberadamente, uma bandeira com inscrições e motivos racistas e/ou homofóbicos e foi esfregar na cara da Gil e de qualquer outra pessoa (pelo menos não neste evento). Ela foi perguntar a ele. E se ela não fez a pergunta propondo-se a respeitar qualquer resposta dada, o que é isso? Para que? Então poderíamos mudar o título do tópico para: Preta Gil ataca Bolsoraro com perguntas capciosamente impróprias. Ela preparou uma armadilha para ele.
A liberdade de expressão deve ter a contrapartida da não obrigatoriedade de outros serem platéia de discursos. Mas quando alguém vai lá abordar o outro tem que estar pronto a ouvir o que não quer e debater cara a cara sem choramingos e sem correr pra trás da mamãe lei. Isso nem se enquadra na questão da liberdade de expressão. Liberdade de expressão é para que a pessoa se manifeste deliberadamente.
Não se esqueçam de que nenhuma lei jurídica jamais poderá proibir alguém de ser racista, homofóbico ou coisa similar; só, no máximo, pode proibir de ser sincero. É isso o que devemos querer? É isso o que nos conduzirá a uma sociedade civilizada, estável e de respeito mútuo? Claro que não. Este tipo de coisa, coisa nenhuma, pode ser controlada e Darwin já esclareceu tudo isso de modo suficientemente formalizado há mais de um século e meio. O problema é que o homem não aceita o fato de que não é melhor que qualquer outra criatura viva. O homem adora achar-se melhor que os outros, todos os outros. Não há nada de errado nisso. É muito natural e saudável e uns, de fato, sempre terão mais competência natural para a sobrevivência que outros mas isso não será decidido por nenhum humano, por nenhum ser vivo (aí está a ilusão perigosa). Daí a sociobiologia ser ciência e a eugenia, estupidez. Estão tentando promover um tipo de eugenia às avessas e, independentemente das reais intenções por trás, os resultados serão tão inócuos quanto os da primeira tentativa. Nenhum ser vivo, "consciente" ou não, pode interferir, muito menos inverter os processos seletivos naturais. Só não percamos de vista, também, o quanto esses processos são complexos. O próprio mestre Darwin alertou sobre este importantíssimo detalhe.
Quero deixar claro que fiz este comentário só de passagem e dificilmente darei qualquer tréplica. Não quereria me perder em questões sem importância mesmo que eu tivesse tempo sobrando para isso.