Não estou justificando inatividade nem nada.
Só dizendo que se deve ter cuidado com o embasamento das coisas, especialmente envolvendo a saúde.
Nesse fórum mesmo já se viu gente falando que podia com tranqüilidade tomar anabolizante de gado (ou algo que o valha), porque tinha "coração forte".
O problema do fluxo de conhecimento mais provavelmente se dá mais gravemente na outra direção, o conhecimento mais sólido, da pesquisa médica/científica, demorando a ser assimilado por praticantes dos esportes (hobbyistas ou profissionais), e até por médicos clínicos. O exemplo histórico que você deu precede bastante o estado atual do desenvolvimento científico, não acho que possa haver forte analogia. Não só se tem maior conhecimento da realidade, de forma a ter melhor noção sobre possibilidades, como também se é mais aberto a possibilidades e há maior admissão de incertezas. (Entre os pesquisadores, quero dizer. Entre os palestrantes motivacionais, incertezas não devem pegar bem).
O caso de HIIT, se não me engano, é um exemplo disso. Não foi um pioneirismo dos fisiculturistas que demorou a ser aceito pelos pesquisadores acadêmicos, mas mais o contrário. Surgiu em laboratório. A tradição fisiculturista, pouco criticada entre eles, era de modo geral "quanto mais [volume], melhor". "No pain, no gain", etc. Com talvez divergências menores usadas para vender livros, revistas, máquinas, pesos, e suplementos, baseados em algum hype qualquer, mas geralmente mantendo esse ponto em comum. Acho que não é incomum se ver gente que pensa que o músculo cresce enquanto é exercitado, e não como um processo de recuperação, durante repouso.
Vários outros mitos relacionados à saúde e esporte ainda também devem ser perpetuados, principalmente entre os "experts-leigos", que resistem ou simplesmente não se inteiram sobre o conhecimento científico pertinente, mesmo após já terem sido descartados sob uma análise mais cuidadosa. Isso é ajudado tanto pela subcultura no nível "grassroots" quanto pela exploração comercial do nicho. É mais lucrativo vender os "novos" workouts bala-mágica da semana, as novas parafernálias (ou novas parafernálias retrô, dos velhos tempos, quando eles sabiam o que era bom, e não deixavam se enganar pelas parafernálias novas), e sempre trazer novos discursos motivacionais, assim mantendo constante a própria "necessidade".
Exemplo bom talvez seja a preocupação exagerada com hidratação, tanto na prática esportiva, quanto no cotidiano/em menor atividade física. Tem até quem use lembretes para beber água quando não estiver com sede, e repassa essa "dica". Isso pode no mínimo surtir um efeito um pouco ao contrário do desejado, passando por ser contraproducente na atividade esportiva, e até realmente perigoso (intoxicação) se levado ao extremo (e já aconteceu).