Algo pouco lembrado na discussão em voga a respeito da esquerda mas que é de importancia vital para se entender os pensamentos de alguns grupos esquerdistas pré-ditadura é a interpretação que os mesmos faziam da teoria marxiana. De acordo com determinadas correntes marxistas do referido período, a chegada ao poder através de eleições livres é uma característica da ''democracia burguesa'' e portanto algo totalmente desprezível. Sua teoria pressupõe que os socialistas devem ascender ao poder por meio de uma revolução no momento em que as ''contradições'' inerentes ao sistema capitalista se tornarem particularmente vísiveis, assim sendo, o proletariado tomaria as rédeas do desenvolvimento histórico através dos atos bem intencionados dos revolucionários, botanto um fim permanente ao sistema opressor do capitalismo e vigorando a partir daí a ditadura do proletariado. Notem que os proponentes de teses como essa tiveram que fazer malabarismos radicais na história brasileira para que a mesma pudesse se encaixar nos parâmetros preconizados pela teoria de Marx, um exemplo disso é o fato de historiadores marxistas como Caio Prado Júnior considerarem o Brasil uma grande nação feudal*, ainda não amadurecida o suficiente para a revolução, que só se daria em um estado de capitalismo avançado, portanto, apesar do exposto por mim no começo do texto é bem provável que a esquerda pré-64 não tivesse planos de transformar o Brasil em uma ditadura aos moldes de Cuba porque segundo a teoria marxista o país ainda não estava suficientemente ''amadurecido'' para a revolução socialista. Já os grupos guerrilheiros pós-golpe militar provavelmente transformariam o país em uma espécie de Cuba, não havia outra alternativa em caso de vitória dos mesmos que não a aproximação com a União Soviética e a implantação no Brasil de um regime similar ao cubano e do leste europeu, no caso improvável de vitória sobre os militares por parte dos guerrilheiros os EUA jamais aceitariam a existência de qualquer regime implantado pelos mesmos, sendo o alinhamento com a URSS algo inevitável.
*Atualmente essa tese é questionada até mesmo por marxistas, como Gorender, para o qual o Brasil teria sido uma grande nação escravista e não feudal.